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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

León Ferrari




Léon Ferrari“A arte é tão livre quanto o homem. E o homem pode ser boníssimo ou malíssimo. A arte também”


León Ferrari - Foto artista

León Ferrari é um dos cinco artistas vivos mais provocante visual e do mundo.Os pilares de seu trabalho foram as guerras, todas as formas de intolerância e religião.

Ferrari é um artista contemporâneo conceitual. Ele emprega métodos, tais como fotocópias, colagem e escultura em madeira, gesso ou cerâmica. Ele freqüentemente usa texto, recortes de jornais ou poesia em particular, em suas peças. Sua arte, muitas vezes lida com a questão do poder e de religião; imagens ou estátuas dos santos, a Virgem Maria ou Jesus podem ser encontrados em gaiolas, pias, misturadores de carne ou frigideiras. Ele também tratou de assuntos de influência dos Estados Unidos – em sua obra mais conhecida, La civilização ocidental y Cristiana (“Civilização ocidental cristã”, 1965), Cristo aparece crucificado em um avião de caça, como um protesto simbólico contra a Guerra do Vietnã .

Ferrari também tem escrito artigos para jornais de esquerda. Sua obra e sua política trouxe-o em alguma controvérsia e notoriedade. Ele foi forçado ao exílio em São Paulo, Brasil 1976-1991 após ameaças por parte das ditaduras militares. Sua exposição de 2001, em Espanha, que tratou da tortura e da Igreja Católica, foi recebido com manifestações e reuniões de oração, e mesmo jogando tinta e bombas de gás lacrimogêneo. Em 2004, sua exposição na Recoleta, Buenos Aires, foi forçado a fechar após a intervenção por um padre católico e uma ordem judicial posterior. Protestos e ações do governo permitiu a exposição de reabertura.

A produção de Leon Ferrari abrange campos diversos, como o tridimensional, o desenho, a escrita, a colagem, a assemblage, a instalação e o vídeo. Sua obra é marcada por um processo intenso de experimentação.
Biografia

León Ferrari nasceu em Buenos Aires, Argentina em 1920, Pintor, gravador, escultor, artista multimídia. Inicia seu trabalho como escultor na Itália, onde reside por três anos. Em 1955,


León Ferrari - Foto artista

realiza individual na Galeria Cariola, em Milão. Em 1960, começa a fazer esculturas de arame e aço inoxidável e, dois anos depois, produz desenhos caligráficos e colagens.

Em 1961, o artista inicia a realização de esculturas em metal. Gradualmente, incorpora textura e movimento em suas composições, por meio do uso de chapas de diversos tamanhos e diferentes metais. Começa também a explorar materiais não usuais, como garrafas, imagens recortadas, objetos de plástico, e chega a trabalhar com animais vivos em algumas obras, como em Justicia [Justiça] (1991).

Paralelamente, inicia a série Escrituras, Manuscritos, em que associa livremente idéias e palavras, vinculadas por um sentido poético e, por vezes, mescladas a referências bíblicas. Como nota a estudiosa Andrea Giunta, Cuadro Escrito [Quadro Escrito] (1964) é um dos mais extensos desses trabalhos. Nessa obra, as palavras ondulam, as letras se misturam, porém estão sempre legíveis: o texto descreve um quadro, como se o artista pudesse pintá-lo com palavras.

Em 1965, engaja-se no movimento cultural e político do Instituto di Tella de Buenos Aires, e abandona a produção abstrata. Entre 1968 e 1969, participa dos eventos Tucuman Arde e Malvenido Rockefeller, em Buenos Aires.

Muda-se para São Paulo, em 1976, e a escultura e o desenho abstratos e passa a interessar-se por novos meios expressivos, incentivado pela convivência com Regina Silveira (1939) e Julio Plaza (1938 – 2003). Além da litografia, inicia trabalhos com videotexto, microfichas, arte postal e livro de artista. Desenvolve também esculturas sonoras em barras metálicas.

Recebe prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA de melhor exposição do ano, em 1983. No ano seguinte volta a residir em Buenos Aires. Passa a utilizar também o meio digital em suas proposições, como em Electronicartes, 2002/2003, em que envia por correio eletrônico imagens relativas a eventos ocorridos no período, como o atentado de 11 de setembro em Nova York (2001), o bombardeio em Bagdá (2003), o terrorismo, a política norte-americana, a justiça e a economia na Argentina, entre outros temas, sempre motivado por um senso de crítica social e política.


León Ferrari - Foto artista

A série Ideias para Infernos foi apresentada em 2000, no Centro Cultural da Espanha, em Buenos Aires. Nela, Ferrari amontoou virgens de gesso no liquidificador e Cristos na torradeira elétrica. Em uma gaiola, pássaros artificiais posicionavam-se sobre imagens religiosas. A mesa da Última Ceia era dividida por imagens tradicionais, ratos e gorilas de plástico. Santos eram alfinetados e posicionados em triturador de carne, frigideiras ou raladores em cenários kitsch. À época da exposição, freiras e crentes reuniam-se à porta da galeria para protestar e rezar o rosário. É o que narra a professora Andrea Giunta no livro León Ferrari – Uma retrospectiva, lançado pela Cosac Naify no Brasil, como parte da mostra Poéticas e Políticas, realizada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2006. “A notícia circulou rapidamente e as 20 mensagens que condenavam a exposição foram respondidas por centenas em sua defesa”, diz Giunta. O artista comemorava que ações como essas colaboravam com a proposta da exibição.

Ferrari não se considera ateu ou anticlerical, mas se declara fascinado pelas figuras bíblicas e pelas interpretações que são feitas dos livros sagrados, muitas vezes controversas. Quando criança, estudou em colégio de padres e fez comunhão. Mais tarde, leu a Bíblia exaustivamente e casou-se na igreja com sua grande companheira, Alicia, com quem assina algumas obras. Santos católicos tornaram-se personagens de suas peças, onde são hostilizados com grande humor.

Em paralelo às atividades em artes visuais, publica livros como Nosotros No Sabíamos, em 1976; Cuadro Escrito, em 1984; Exégesis, em 1993, e La Bondadosa Crueldad, em 2000. Nesse ano, recebe o Prêmio Costantini.

O artista argentino León Ferrari permanece em atividade como um dos mais relevantes artistas latino-americanos, conhecido por obras de caráter polêmico e alfabetos estilizados. Nos últimos meses, frequenta pouco seu ateliê, em Buenos Aires, mas mantém o viés criativo em novas produções. Algumas delas, que remetem ao abstracionismo e dão ênfase ao desenho já praticado em outras décadas.

Ferrari hoje produz poucas peças que reafirmam a dualidade de sua produção. Tornou-se, ao longo dos anos, mais essencial que paradoxal.
Curiosidades

Livro – León Ferrari – Retrospectiva – Obras 1954 – 2006


Léon Ferrari - Maquete

Textos: Aracy Amaral, Beatriz Sarlo, León Ferrari, Luiz Canitzer, Regina Teixeira de Barros
Edição: Andrea Giunta
Coedição: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Este livro, publicado originalmente na Argentina, aproxima a obra do polêmico artista plástico León Ferrari do público brasileiro, delineando toda a sua trajetória artística. Ao longo de sua carreira, Ferrari alterna dois modos de produção: um claramente figurativo, que dá à sua obra um sentido político ou uma alusão à religião, em geral crítica; e outro baseado no grafismo abstrato, mais lírico. Nascido em Buenos Aires, em 1920, o artista mantém-se “em estado de turbulência com o mundo das ideias, crenças e preconceitos, expressando-se de maneira destemida como em geral somente aos jovens parece ser dado manifestar”, como afirma a curadora brasileira Aracy Amaral. Por perseguição política, durante a ditadura militar argentina, ele viveu com parte de sua família em São Paulo, entre 1976 e 1983. Sua produção nesse período e sua extensa relação de amizades por aqui são abordadas por Amaral, no ensaio “León Ferrari: os anos paulistas”. O livro traz ainda uma entrevista e cronologia sobre o artista. Fartamente ilustrado, apresenta uma visão abrangente de sua carreira, não só de suas obras e exposições pelo mundo, como também de sua vida, tornando possível perceber algumas das principais questões que as artes plásticas atravessaram nos últimos 50 anos.

Livro – Tangled Alphabets – León Ferrari and Mira Schendel
Autor: Luis Pérez-Oramas
Editora: Cosac & Naify

Em coedição com o MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, a Cosac Naify lança o catálogo da exposição “Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel”, que abre no dia 5 de abril de 2009. Com autoria de Luis Pérez-Oramas, um dos curadores do MoMA e responsável pela exposição, o volume reúne obras dos dois artistas, cronologia em paralelo de ambos e bibliografia selecionada, além de ensaios do venezuelano Oramas, da argentina Andrea Giunta, crítica e historiadora da arte, e do crítico brasileiro Rodrigo Naves. O curador salienta as semelhanças das obras de Ferrari e Schendel e analisa o papel da palavra: “Even at its most silent, intimate moments, their art is imbued with the protean tumult of language’s countless faces and incarnations, from voluntary silence to aphasia, passing along the way through whisper, prayer, accusation, sermon, dialogue, quotation, stutter, shout, onomatopoeia, collage, argument, alphabet and poetry”.




León Ferrari - A Justiça

Livro – León Ferrari e Mira Schendel – O Alfabeto Enfurecido
Autor: Luis Pérez- Oramas
Editora: Cosac & Naify

” Primeira coedição brasileira com o MoMA ? Museu de Arte Moderna de Nova York ?, a Cosac Naify publica a versão em português do catálogo que acompanhou a exposição Tangled alphabets, em cartaz no renomado museu norte-americano, em 2009, e que vem agora para o Brasil, na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, de 09 de abril a 11 de julho. Com curadoria e texto de Luis Pérez-Oramas, o volume reúne obras da suíço-brasileira Mira Schendel (1919-1988) e do argentino León Ferrari (1920), cronologia ilustrada em paralelo de ambos e bibliografia selecionada, além de ensaios da crítica e historiadora de arte argentina Andrea Giunta e do crítico brasileiro Rodrigo Naves.

Reunindo cerca de 200 obras de vários meios de expressão ? cerâmicas, pinturas, esculturas, instalações e desenhos ?, a exposição é a primeira que compara os trabalhos dos dois artistas e intercala suas produções, provocando o olhar para a aproximação entre as obras, que têm como referência a aparência visual da linguagem.

Livro – León Ferrari – Works – 1976-2008
Autor: León Ferrari
Editora: Darp-Distributed Arte

Como poético como ele é controverso, o renomado argentino Leon Ferrari conceitualista (que foi forçado a viver no exílio no Brasil 1976-1991, e que ganhou um Leão de Ouro na 52 ª Bienal de Veneza em 2007) é conhecido por suas críticas ferozes de poder e religião – tanto como artista e como jornalista. Esta monografia primeira grande retrospectiva reúne uma seleção de heliografias, desenhos e colagens que criticam ferozmente a ditadura argentina, religião conservadora ea autoridade norte-americana – entre muitos outros assuntos muito carregados. Ele também possui uma seleção de obras recentes, produzidas entre 2004 e 2008, que incluem suas esculturas conhecidas de poliuretano. Durante todo, o trabalho da Ferrari evita contemplação silenciosa, imperturbável e sereno, ao invés alto juntar denúncia com a beleza, a felicidade de angústia, alegria com fúria. Com ensaios acadêmicos por especialistas de destaque, uma entrevista em profundidade e uma selecção de textos de Ferrari a si mesmo.


León Ferrari

Mira Schendel e León Ferrari

Exposição feita em Porto alegre, que junto obras desses dois grande artista.

“Não existem semelhanças sem diferenças”, diz Luis Pérez-Oramas, curador da mostra O alfabeto enfurecido, em cartaz na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. A exposição pretende contrapor os trabalhos da suíço-brasileira Mira Schendel (1919-1988) e do argentino León Ferrari (1920-), por meio da exibição de 180 obras.
Tendo passado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York e pelo Reina Sofia, em Madri, a mostra foi bem recebida internacionalmente. Segundo Roberta Smith, crítica de arte do The New York Times, o evento é “essencial para qualquer um interessado na arte do século 20”. Fazendo uso de cerâmica, pinturas, esculturas e desenhos, os artistas questionam aspectos políticos e religiosos: “Eles nunca deixaram de abordar criticamente a relação da arte com o divino, ontológico, religioso ou com o político. León Ferrari denuncia a religião cristã como fonte da violência humana. Mira é uma artista da escritura bíblica como interrogação”.

Outro aspecto comum nas produções dos sul-americanos é a questão da palavra. Assim, as obras apresentam textos opacos, visualmente distorcidos e letras soltas, que sozinhas parecem não fazer sentido. Um exemplo disso é a série Objetos Gráficos, de Mira Schendel, em que placas de acrílico suspensas simulam espirais de letras flutuando no espaço. O curador Pérez-Oramas explica que ambos “usam a arte como campo para a liberdade infinita da linguagem, mas há um aspecto de enfurecimento mais presente na obra de León Ferrari do que na de Mira”.

A crítica de Ferrari pode ser percebida em peças como em Quadro Escrito (1964), que simboliza uma obra que o argentino pintaria se Deus o abençoasse com talento, ou em Juízo Final (1994), cuja temática questiona o conceito de inferno, ao mostrar a pintura homônima de Michelangelo Buonarroti com excrementos de pássaros. As produções expostas delineiam, portanto, a evolução dos artistas até as últimas obras da vida de Mira e as mais recentes esculturas do argentino.




León Ferrari - Quadro escrito - versão manuscrita

Entrevista com León Ferrari
Artista argentino León Ferrari expõe sua anti-religião em SP
Gabriela Longma da Folha de S.Paulo – 17/10/2006

Aos 86 anos, León Ferrari é um artista polêmico. Já teve mostras censuradas e sofreu ameaças de toda espécie -a de que vai para o inferno é a mais freqüente delas. Integrante da 27ª Bienal de São Paulo, o artista argentino, que tem sua obra marcada pela contestação contundente ao cristianismo, ganha mostra retrospectiva na Pinacoteca e novo livro pela Cosacnaify. Em entrevista à Folha, falou sobre suas crenças e descrenças no campo da arte e da política e contou do período (1976-1991) em que, exilado pelo contexto político argentino, viveu no Brasil.

Folha – O sr. foi convidado a participar da Bienal do ‘Como Viver Junto’. De que forma a entende?

León Ferrari - Para mim a escolha do tema parece acertada, não sei se tomando-a como uma pergunta ou como uma explicação. De qualquer forma, para que vivamos juntos, todos temos de comer, ter escola, atendimento médico… A forma que hoje temos de viver juntos -ou separados- é que há entre os que comem e os que não comem uma barreira policial.

Folha – Temos, então, um problema de ordem econômica e social?

Ferrari - Sim, mas isso não é tudo. Para que pudéssemos viver juntos seria preciso também eliminar as intolerâncias, as discriminações, pelas quais a responsável é a religião, especialmente o cristianismo. A maior das intolerâncias é justamente aquela que anuncia que vai castigar, com torturas eternas -no inferno-, os que não acreditam naquilo em que eles acreditam.

Folha – Como remover esse elemento de intolerância da religião?

Ferrari - Não sei como se poderia fazer para eliminar essa fonte de intolerância, mas acho que seria preciso modificar a religião, as sagradas escrituras. Tirar as agressões aos judeus, a discriminação aos homossexuais. Essas intolerâncias que estão na Bíblia se estendem no tempo e provocam os campos de concentração de Hitler, a matança de índios na América, a escravidão…

Folha – Mas por que o fundamentalismo cristão lhe parece mais grave do que os outros fundamentalismos religiosos?

Ferrari - Acredito que as religiões têm as mesmas características, com algumas diferenças. Pelo que sei, no judaísmo não há o uso da religião como repressão, não há uma instituição como a Inquisição, com queima de incrédulos. Dos muçulmanos não conheço bastante, mas não é propriamente o que me interessa. Me interessa o Ocidente. E, neste, vejo o cristianismo como crueldade revestida de bondade.

Folha – Como fica o papel da arte em meio a esse panorama?

Ferrari - A cultura ocidental é de uma beleza estética enorme, mas sua história esteve a serviço da intolerância da igreja. Michelangelo, Giotto e tantos outros ilustraram de forma maravilhosa as torturas e as crueldades. A cultura contemporânea costuma limitar suas análises aos aspectos estéticos e muitas vezes esquece o aspecto ético. Certa vez, um crítico viu alguns trabalhos meus e disse que não eram arte. E eu lhe respondi que, se me demonstrasse que não eram arte, poderia trocar o nome ‘arte’ e chamá-los de outra coisa. A noção de arte muda com o tempo.

Folha – O sr. viveu no Brasil por quase 20 anos. Como foi?

Ferrari - Em São Paulo, conheci o Maurício Segall, que me apresentou Aracy Amaral [crítica de arte e curadora] e depois Regina Silveira, Julio Plaza [artistas plásticos]. Trabalhamos juntos na escola Aster. Foi um momento excelente de investigação formal.

Folha – Como conciliar a abordagem crítica e o mercado de arte?

Ferrari - A sorte é que minhas críticas não falam a ele diretamente. O mercado é algo esquisito, a mesma obra que não valia nada de repente vale. O que me interessa é que sigo trabalhando e sinto que não me repito. Enquanto tiver essa possibilidade, tudo bem. O problema é quando o artista não sabe mais o que fazer e começa a copiar a si mesmo.




León Ferrari

Entrevista com León Ferrari
Argentino León Ferrari questiona local de sua mostra em Porto Alegre
Fabio Cypriano – 08/04/2010 – 09h03

O nome da exposição “O Alfabeto Enfurecido”, que é inaugurada hoje, na Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre), não trai a personalidade do argentino León Ferrari que, com a suíço-brasileira Mira Schendel, protagoniza a mostra. Em entrevista à Folha, na segunda, Ferrari, 89, não só chamou Jesus Cristo de fascista e ironizou o mercado de arte, como questionou o próprio local da exposição. “Eu não gostaria de entrar em um museu para um artista que matou alguém”, afirmou, referindo-se a Iberê Camargo que, em 1980, matou um homem após uma discussão na rua.

Ferrari, que viveu em São Paulo entre 1976 e 1991, está acostumado a polêmicas. Em 2004, uma mostra sua em Buenos Aires provocou a fúria da Igreja Católica, sendo fechada e aberta diversas vezes, por conta de medidas judiciais. A mesma exposição, quando veio a São Paulo, em 2006, seria vista na Estação Pinacoteca, mas Ferrari não aceitou, argumentando que lá era um local de tortura de presos políticos. A mostra acabou realizada, então, na Pinacoteca do Estado. “Para nós, o passado está para trás. Estamos muito felizes em ter Ferrari conosco pela segunda vez. Em 2003, ele fez aqui uma gravura, exposta ano passado”, disse Fabio Coutinho, superintendente cultural da Fundação Iberê Camargo. A atitude polemista de Ferrari, contudo, certamente lhe ajudou a conquistar o Leão de Ouro em Veneza, em 2007. Afinal, no mundo das artes plásticas, são raros os artistas com opiniões fortes, como se pode conferir a seguir.

Folha – O senhor tem obra e atitude muito políticas. Não é estranho que nessa mostra esse componente não esteja tão presente?

Ferrari - Eu também faço obras inofensivas [risos]. Agora mesmo, estou em meu ateliê fazendo obras inofensivas. Mas em relação à mostra, talvez seja culpa minha, eu deveria ter defendido mais essa parte. Mesmo a questão religiosa, que para mim não pode ser desvinculada da política, não está presente. Em 2004, aqui em Buenos Aires, provoquei uma grande polêmica por conta de minhas obras que abordam o catolicismo. Para mim, Jesus foi um intolerante. Quando ele disse “Quem não está comigo, está contra mim” revela-se um fascista, o que, aliás, foi mesmo usado pelo próprio Mussolini.

Folha – Em 2007, o senhor ganhou o Leão de Ouro, em Veneza, talvez o mais importante prêmio de artes plásticas atualmente. Isso mudou algo em sua vida?

Ferrari - Veneza é uma cidade especial para mim. Estive lá muitas vezes, a última para receber o prêmio. Meu pai, que era artista e arquiteto, trabalhou lá e fez muitas obras. Estamos organizando uma exposição de fotos do período, nos anos 20. Quanto ao prêmio, antes dele, minha obra não valia quase nada, era muito barata. Agora, ela vale muito mais do que eu mesmo acho. Aliás, pelos valores que estão aí, nunca compraria um quadro meu.

Folha – O sr. viu sua mostra com Mira no MoMA ou no Reina Sofia?

Ferrari - Não vi, não tenho viajado muito; é muito cansativo para minha idade. Em Porto Alegre, creio que três netas devem estar presentes.

Folha – Mas Buenos Aires é tão perto de Porto Alegre…

Ferrari - Olha, existe outra razão para não ir aí. Eu não gostaria de entrar em um museu para um artista que matou alguém. Não se pode ocultar isso. Eu sou contra isso. Saí da Argentina para São Paulo por conta da ditadura.

Folha – Mas o senhor permitiu a mostra.

Ferrari - Eu não sabia que ela iria para lá. No começo, era só Nova York e Espanha. Depois encontrei o diretor da Fundação Iberê Camargo, e disse a ele que não iria por essa razão.

Folha – O senhor conviveu com Mira Schendel, quando vivia em São Paulo?

Ferrari - Participei, em 1980, de uma exposição organizada pelo Julio Plaza, na Pinacoteca do Estado, chamada “Gerox”, um nome criado por ele, e ela também participou. Foi quando a conheci. Mas foi um contato rápido e nunca mais a encontrei…

Folha – E o senhor acha adequado serem vistos juntos?

Ferrari - De fato, acho que temos muitos pontos em comum.

Folha – No texto do catálogo, o curador da exposição aponta que ambos começaram com textos nas obras, no mesmo período (a década de 1960), sendo que o senhor teria motivação a partir da perda da audição e da fala de sua filha, em 1952.

Ferrari – É linda a comparação, mas não tinha pensado nisso.

Folha – Aos 90 anos, o senhor já deve ter ouvido muitas leituras surpreendentes de suas obras, não?

Ferrari- Sim, você não imagina quantas. Mas eu mesmo nunca digo minhas motivações justamente para permitir essas leituras e não cercear a imaginação dos outros.

Acervos


León Ferrari - Planet

Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil (São Paulo, SP)

Casa de las Américas (Havana, Cuba)

Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam (Havana, Cuba)

Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

Coleção Museu de Arte Moderna – MAM/RJ (Rio de Janeiro, RJ)

Coleção Museu de Arte Moderna – MAM/SP (São Paulo, SP)

El Museo del Barrio (Nova York, Estados Unidos)

Fondo Nacional de Las Artes (Buenos Aires – Argentina)

Museo de Arte Carrillo Gil – MACG (Cidade do México, México)

Museo de Arte Contemporáneo (Buenos Aires – Argentina)

Museo de Arte Moderno (Cidade do México, México)

Museo de Arte Moderno La Tertulia (Cali, Colômbia)

Museo de la Solidaridad Salvador Allende (Santiago, Chile)

Museo del Grabado (Buenos Aires – Argentina)

Museu de Arte Brasileira – MAB/FAAP (São Paulo, SP)

Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – Masp (São Paulo, SP)

Museu de Arte Moderno – MAMba (Buenos Aires – Argentina)
Fonte: Mercado de Arte

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