Passada a surpresa da morte do Chorão, aqui seguimos, com esse sentimento de imortalidade latente que todos temos.
Alexandre Magno Abrão - Chorão (SP, 9 de abril de 1970 — SP, 6 de março de 2013).
“Se eu morrer não da nada”, “quando for pra ser será”, “eu já vivi tudo que tinha pra viver”, “eu vivo intensamente e não tenho medo da morte”...Grandes lemas para uma bobagem atômica. Se chegar essa hora, até o mais ateu dos ateus vai rezar para Deus “tirar ele dessa”.
A sensação que os outros morrem, mas que nós somos imortais, fortes, poderosos é justamente o que nos coloca em perigo. Nos dá uma autoestima que “é o maior barato”, isso é fato. Nos dá a certeza que podemos abusar de nós mesmos, dos nossos corpos, da nossa sorte e enganar a morte.
Parecia inofensiva a cocaína numa festa e outra, numa noite e outra, até que um dia estávamos tão fortes e poderosos que morremos de overdose. Ela nos dominou.
Parecia inofensiva a dose espetacular de álcool que tomamos numa festa e outra, numa noite e outra, até que um dia estávamos tão fortes e poderosos que morremos de acidente de carro porque não víamos mais um palco diante do nariz. Ela nos dominou.
Parecia inofensiva a tristeza que foi tomando espaço depois de alguma perda, depois de muitos erros, depois de morrer por amor e perder a cabeça. Ela nos dominou.
Parecia inofensiva a depressão que a princípio era quase nada, era só vontade de ficar sozinho e não ver ninguém, um chorinho de vez em quando, uma caixa ou duas de antidepressivo. Ela nos dominou.
Parecia inofensiva a culpa nossa de todo dia, nos crucificando por cada erro, por cada não acerto, por cada passo imoral. Ela nos dominou.
Charlie Brown Jr. "Quinta- Feira"
Para surpresa geral, nós não somos tão fortes assim, nem tão poderosos assim, muito menos imortais. De onde, então, vem essa necessidade de passar do limite, de ultrapassar o bom senso, de brincar com nossa pulsão pela morte?
Essa tal de pulsão pela morte foi um conceito introduzido por Freud no livro “Além do princípio de prazer”. Quiçá esse conceito tenha surgido da violência da cultura que nos castra, submetendo-nos a normas e padrões que frustram nossos impulsos.
Sigmund Freud
Mais ou menos assim: nos colocam dentro de uma caixinha quando somos pequenos. Vamos crescendo na caixinha, nos enquadrando naquele espaço determinado e com normas de comportamento restritas: pode isso, não pode aquilo, aquele outro nem falar, imagina o que o vizinho vai pensar!
A caixinha serio o que Freud chamava de superego: toda censura, toda moral, toda voz da mãe e do pai sussurrando nos nossos ouvidos. Além do superego, nossa estrutura psíquica está formada também pelo ego, que somos nós mesmos e o que fazemos com as ordens do superego e com os comandos do nosso Id (nossos impulsos, instintos básicos).
Ficamos tão bitolados ao que o nosso superego, autoritário, nos permite ou nos impõe como moral, como certo, que o nosso Id - nossos desejos - ficam esmagados de tal forma que uma das maneiras de se libertarem é através da supressão de consciência.
Para aliviar a pressão, que evidentemente origina desprazer, precisamos de um alívio, de uma descarga em busca do prazer. O álcool, as drogas, os perigos de vida, entram em cena, facilitando a nossa saída da caixinha: “Foda-se tudo”, pensamos. De fato, um dia acontece exatamente isso.
Aristóteles diria: O equilíbrio é a perfeição...Mas estamos a anos luz de encontrar uma maneira de fazermos com que nosso superego, ego e Id façam as pazes. Ou de encontrar um ponto em comum, equilibrado, com o que nos exigem ser, com o que somos e com o que desejamos ser.
No fim, tantas coisas parecem inofensivas, mas nos dominam.
Mais ou menos assim: nos colocam dentro de uma caixinha quando somos pequenos. Vamos crescendo na caixinha, nos enquadrando naquele espaço determinado e com normas de comportamento restritas: pode isso, não pode aquilo, aquele outro nem falar, imagina o que o vizinho vai pensar!
A caixinha serio o que Freud chamava de superego: toda censura, toda moral, toda voz da mãe e do pai sussurrando nos nossos ouvidos. Além do superego, nossa estrutura psíquica está formada também pelo ego, que somos nós mesmos e o que fazemos com as ordens do superego e com os comandos do nosso Id (nossos impulsos, instintos básicos).
Ficamos tão bitolados ao que o nosso superego, autoritário, nos permite ou nos impõe como moral, como certo, que o nosso Id - nossos desejos - ficam esmagados de tal forma que uma das maneiras de se libertarem é através da supressão de consciência.
Para aliviar a pressão, que evidentemente origina desprazer, precisamos de um alívio, de uma descarga em busca do prazer. O álcool, as drogas, os perigos de vida, entram em cena, facilitando a nossa saída da caixinha: “Foda-se tudo”, pensamos. De fato, um dia acontece exatamente isso.
Aristóteles diria: O equilíbrio é a perfeição...Mas estamos a anos luz de encontrar uma maneira de fazermos com que nosso superego, ego e Id façam as pazes. Ou de encontrar um ponto em comum, equilibrado, com o que nos exigem ser, com o que somos e com o que desejamos ser.
No fim, tantas coisas parecem inofensivas, mas nos dominam.
Me despeço com Clarice Lispector: "A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre".
Clarice Lispector
Fonte:http://lounge.obviousmag.org/shine_on_you_crazy_diamond/2013/03/parecia-inofensiva-mas-te-dominou-te-dominou-te-dominou.html
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