O futuro do pretérito é um tempo verbal da Língua Portuguesa. Indica ações hipotéticas, incertas ou irreais. Em 1900, o futuro era incerto, mas com um leque aberto de novas possibilidades. Através de alguns postais daquela época, podemos perceber mais que o futuro, ou o que todos esperavam dele: vemos o tempo contemporâneo aos desenhos.
Para se entender a visão de futuro ilustrada nestes cartões postais, é preciso voltar ao passado. A passagem do século XVIII para o XIX se dá sob o signo mágico da Revolução Industrial. A relação das pessoas com a produção de bens se modificou. Se antes o artesão colhia a matéria-prima, desenvolvia o produto, comercializava e obtinha algum lucro, após a Revolução Industrial isso já não existia: todos passaram a ser consumidores. O trabalho passou de uma ferramenta para a sobrevivência física a uma ferramenta para a existência plena.
Dentro desse quadro histórico, temos duas mudanças que foram essenciais para que esses postais fossem desenhados imaginando um futuro tão majestoso: o aparato técnico surgido nessa época e a distinção entre o momento do trabalho e o do lazer. Para os contemporâneos de 1900, o ar seria um “território colonizado” e as distâncias se encurtariam.
Uma das preocupações mais evidentes quando se examina esses postais diz respeito aos transportes. A grande maioria deles imaginava que no futuro todos teríamos a possibilidade de voar. Ajudados por máquinas diversas: balões que nos proporcionariam andar sobre a água, trens que carregariam as cidades de um lugar ao outro, veículos individuais de voo, um trem submarino, protótipos do que mais tarde seriam os patins, enfim, a possibilidade de uma locomoção facilitada era uma ideia que definitivamente encantava.
A preocupação com a segurança aumentava junto com o aumento do poder de posse. Máquinas capazes de deter tempestades, uma espécie de redoma para proteger a cidade das intempéries, um aparelho de raios-X que facilitaria o trabalho da polícia e veículos de guerra eram algumas das inovações pensadas para aumentar a segurança.
No campo do lazer, já se começava a pensar na indústria cultural de massa. Algumas ilustrações mostram o desejo de aliar o conforto da própria casa com o divertimento oferecido pela cidade: a possibilidade de ouvir as notícias do mundo através de uma espécie de gramofone, ouvir uma apresentação de ópera confortavelmente deitada no seu divã, e em alguns casos a hipótese de também ver essa apresentação.
A vida urbana aproximou as pessoas. Apesar de o capitalismo ser um regime que se baseia no individualismo, ele não teve força para lutar com o que é intrínseco ao ser humano: ser social. Tudo o que sempre se quis foi diminuir fronteiras, aproximar pessoas, lugares e coisas. O que será que diriam os nativos de 1900 das nossas redes sociais?
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