A obra ‘Os Lusíadas’, de Luís de Camões, é um clássico da literatura portuguesa. Trata-se de um épico, de uma epopeia que narra a história de Vasco da Gama e outros personagens da era das Grandes Navegações. Confira nesta revisão para o Enem Luís Camões e Os Lusíadas:
Os Lusíadas é considerada a principal epopeia da literatura portuguesa. O próprio título já sugere as suas intenções nacionalistas, sendo derivado da antiga denominação romana de Portugal, Lusitânia. É um dos mais importantes épicos da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. A epopeia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a Índia.
É uma epopeia que se insere na perspectiva humanista, mesmo nas suas contradições, na associação da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciação do prazer sensual e nas exigências de uma vida ética, na percepção da grandeza e no pressentimento do declínio, no heroísmo pago com o sofrimento e luta.
O poema abre com os célebres versos:
As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
(…)
Cantando espalharei por toda a parte / Se a tanto me ajudar o engenho e arte” ( Os Lusíadas, Canto I)
A Estrutura em 10 cantos de Os Lusíadas:
Os dez cantos do poema somam 1.102 estrofes num total de 8.816 versos decassílabos, empregando a oitava rima (abababcc). Depois de uma introdução, uma invocação e uma dedicatória ao rei Dom Sebastião, inicia a ação, que funde mitos e factos históricos.
O itinerário de Os Lusíadas
Vasco da Gama, navegando pela costa da África, é observado pela assembleia dos deuses clássicos, que discutem o destino da expedição, a qual é protegida por Vênus e atacada por Baco. Descansando por alguns dias em Melinde, a pedido do rei local Vasco da Gama narra toda a história portuguesa, desde as suas origens até à viagem que empreendem. Veja na imagem o quadro ‘A partida de Vasco da Gama’, que ocorreu em 1497. O quadro é de autoria de Alfredo Gameiro (1864-1935).A Narrativa em Os Lusíadas – Os cantos III, IV e V contêm algumas das melhores passagens de todo o épico: o episódio de Inês de Castro, que se torna um símbolo de amor e morte, a Batalha de Aljubarrota, a visão de Dom Manuel I, a descrição do fogo de santelmo, a história do gigante Adamastor.
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De volta ao navio, o poeta aproveita as horas de folga para narrar a história dos Doze de Inglaterra, enquanto Baco convoca os deuses marítimos para que destruam a frota portuguesa. Vênus intervém e os navios conseguem alcançar Calecute, na Índia. Lá, Paulo da Gama recebe os representantes do rei e explica o significado dos estandartes que adornam a nau capitânia.
Na viagem de volta os marinheiros desfrutam da Ilha dos Prazeres para eles criada por Vênus, recompensando-os as ninfas com seus favores. Uma delas canta o futuro glorioso de Portugal e a cena encerra com uma descrição do universo feita por Tétis e Vasco da Gama. Em seguida, a viagem prossegue para casa.
N’Os Lusíadas Camões atinge uma notável harmonia entre erudição clássica e experiência prática, desenvolvida com habilidade técnica consumada, descrevendo as peripécias portuguesas com momentos de grave ponderação mesclados com outros de delicada sensibilidade e humanismo. As grandes descrições das batalhas, da manifestação das forças naturais, dos encontros sensuais transcendem a alegoria e a alusão classicista que permeiam todo o trabalho.
Estas características se apresentam como um discurso fluente e sempre de alto nível estético, não apenas pelo seu carácter narrativo especialmente bem conseguido, mas também pelo superior domínio de todos os recursos da língua e da arte da versificação, com um conhecimento de uma ampla gama de estilos, usados em eficiente combinação. A obra é também uma séria advertência para os reis cristãos abandonarem as pequenas rivalidades e se unirem contra a expansão muçulmana.
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A estrutura da obra é por si digna de interesse, pois, segundo Jorge de Sena, nada é arbitrário n’ Os Lusíadas. Entre os argumentos que apresentou foi o emprego da secção áurea, uma relação definida entre as partes e o todo, organizando o conjunto através de proporções ideais que enfatizam passagens especialmente significativas.
Sena demonstrou que ao aplicar-se a secção áurea a toda a obra recai-se, precisamente, no verso que descreve a chegada dos portugueses à Índia. Aplicando-se a secção em separado às duas partes resultantes, na primeira parte surge o episódio que relata a morte de Inês de Castro e, na segunda, a estrofe que narra o empenho de Cupido para unir os portugueses e as ninfas, o que para Sena reforça a importância do amor em toda a composição.
Dois outros elementos dão a Os Lusíadas a sua modernidade e distanciam-no do classicismo: a introdução da dúvida, da contradição e do questionamento, em desacordo com a certeza afirmativa que caracteriza o épico clássico, e a primazia da retórica sobre a ação, substituindo o mundo dos factos pelo das palavras, as quais não resgatam totalmente a realidade e evoluem para a metalinguagem, com o mesmo efeito disruptivo sobre a epopeia tradicional.
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Segundo Costa Pimpão, não há qualquer evidência de que Camões pretendesse escrever o seu épico antes de ter viajado à Índia, embora temas heróicos já estivessem presentes na sua produção anterior. É possível que tenha retirado alguma inspiração de fragmentos das Décadas da Ásia, de João de Barros, e da História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, de Fernão Lopes de Castanheda.
Sobre a mitologia clássica estava com certeza bem informado antes disso, igualmente quanto à literatura épica antiga. Aparentemente, o poema começou a tomar forma já em 1554. Storck considera que a determinação de escrevê-lo nasceu durante a própria viagem marítima. Entre 1568 e 1569 foi visto em Moçambique pelo historiador Diogo do Couto, seu amigo, ainda a trabalhar na obra, que só veio à luz em Lisboa, em 1572.
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Questão 01
De onde vem a expressão “agora Inês é morta”?
Inês foi uma dama da corte portuguesa que teve morte trágica. Seu nome completo era Inês de Castro (1323-1355) e ela foi amante do príncipe herdeiro que se tornaria rei com o nome de D. Pedro I – que nada tem a ver com o Pedro imperador do Brasil. Em 1345, com a morte da esposa, D. Constança, o príncipe português passou a viver secretamente com Inês.
Chegou a ter filhos com ela. Dez anos depois, o rei, aproveitando que o filho estava fora do país, mandou executar a moça. Quando retornou, Pedro ficou furioso e ordenou a morte dos conselheiros que ajudaram seu pai na decisão. Fora a vingança, não havia mais o que fazer.
O caso trágico foi contado e recontado em várias obras portuguesas, inclusive em Os Lusíadas, de Luís de Camões.
(In: Superinteressante, set. de 1999 [adaptado]).
01) O que significa o ditado popular “agora Inês é morta”?
a) Quem sai na chuva é para se molhar.
b) A mentira tem pernas curtas.
c) Agora é tarde demais.
d) Que se faça justiça.
e) Quem não deve não teme.
Questão 02
O trecho a seguir pertence ao episódio “A morte de Inês de Castro” em Os Lusíadas de Camões :
Queria perdoar-lhe o rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
( Que dessa sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra ua dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?
Levando em conta os seus conhecimentos sobre o episódio como um todo, assinale a alternativa correta:
a) Segundo a versão apresentada no poema, o perdão que o Rei desejava conceder a Inês acabaria por prevalecer sobre o desejo homicida dos nobres.
b) Pode-se perceber, de forma implícita, nos dois últimos versos da estrofe, uma acusação de covardia lançada aos assassinos de Inês de Castro.
c) A estrofe proclama a coragem dos nobres cavaleiros que, desobedecendo às ordens expressas do Rei, preferiram lançar ao chão suas espadas a matar uma dama indefesa.
d) A leitura do texto indica o motivo maior da condenação de Inês: sua ousadia em enfrentar o Rei, recusando-lhe o perdão.
e) Pela pergunta contida nos dois últimos versos, dirigida aos nobres, o leitor fica sabendo que Camões esteve presente aos acontecimentos que narra no livro.
Questão 03
Leia os versos transcritos de Os lusíadas, de Camões, para responder ao teste.
Tu, só tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Assinale a afirmação incorreta em relação aos versos transcritos:
a) A apóstrofe inicial da estrofe introduz um discurso dissertativo a respeito da natureza do sentimento amoroso.
b) O amor é compreendido como uma força brutal contra a qual o ser humano não pode oferecer resistências.
c) A causa da morte de Inês é atribuída ao amor desmedido que subjugou completamente a jovem.
d) A expressão “se dizem” indica ser senso comum a ideia que brutalidade faz parte do sentimento amoroso.
e) Os versos associam a causa da morte de Inês não só à força cruel do amor, mas também aos perigosos riscos que a jovem inimiga representava para o rei.
Questão 04
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram, ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana.
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis, que foram dilatando
A Fé, o Império e as terras viciosas
De África e de Ásia, andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Cessem do sábio grego e do troiano
As navegações grandes que fizeram:
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram,
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Assinale a alternativa incorreta.
a) Essas estrofes, que abrem Os Lusíadas, contêm a Proposição do poema.
b) O desdobramento do mar desconhecido, a descoberta do caminho marítimo para a Índia, a expansão do Império português e do cristianismo por África e Ásia são o assunto do poema.
c) O poema afirma a superioridade das navegações e dos feitos dos heróis portugueses perante os de Grécia e Roma antigas.
d) O primeiro verso de Os Lusíadas imita a abertura da Eneida, de Virgílio, onde se lê: “Arma uirumque cano…” (eu canto as armas e o varão…).
e) O poeta se diz capaz de libertar os homens da lei da morte, por força de seu engenho e arte.
Questão 05
A estrofe a seguir abre o episódio do “Velho do Restelo”, em Os Lusíadas, de Camões. Nela, temos a descrição da personagem:
Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente
Postos em nós os olhos, meneando,
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só de existência feito,
Tais palavras tirou do experto peito.
Tendo em vista esta estrofe, e todo o episódio em questão, indique a alternativa que resuma melhor os elementos que constituem a imagem do velho:
a) O velho “descontente” dirige-se às mulheres, que retardam a partida de seus filhos e maridos em prantos intermináveis.
b) O velho (aspecto venerando) representa a opinião de uma corrente conservadora diante da aventura da navegação.
c) A “voz pesada” do velho indica o cansaço de quem está saturado de falar “à gente surda e endurecida” de Portugal, sobre os perigos do mar.
d) A esperteza do velho (experto peito) está em tentar adiar a partida, permitindo, com isso, as despedidas das esposas e mães dos marinheiros.
e)O velho era conhecedor do estado de espírito local, por viver “nas praias entre a gente”, razão pela qual pode aconselhar os navegantes sobre a partida
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