Detalhe da pintura de Adriana Varejão
Está no Rio de Janeiro para conferir as novidades da Art Rio? Então aproveite para visitar sete ótimas exposições que abriram na cidade esta semana!
1.Adriana Varejão e Paula Rego na Carpintaria
Adriana Varejão mostra nova série de trabalhos na filial carioca da Fortes D'Aloia & Gabriel, a Carpintaria, ao lado e em diálogo com obras da portuguesa Paula Rego – ambas revisitam temas da história ou do universo ficcional para revelar o lado perverso ou obscuro de algumas narrativas.
Destaque para as telas em forma de folha seca trazendo imagens que criticam a história do Brasil. Além da recorrente referência à nossa colonização, Adriana também aponta para a tradição chinesa de pintar sobre folhas (ela estuda as técnicas e temas dos artistas deste país há algum tempo!) de pintar sobre folhas.
São interessantes também os novos trabalhos da série de pratos que conversam com o universo do ceramista Bordallo Pinheiro. Em tempo: Abre hoje a mostra Interiors com obras de Adriana na Gagosian Gallery de Beverly Hills com peças célebres como O iluminado, da série de saunas. A mostra faz parte do Pacific Standard Time: LA/LA – uma série de exposições com artistas da América Latina que levou grande parte da turma artsy para Los Angeles. Até 4 de novembro. fdag.com.br
Adriana Varejão apresenta telas em forma de folha seca
Paula Rego universo ficcional para revelar o lado perverso ou obscuro de algumas narrativas.
2.Daniel Arsham e Makoto Azuma no Aterro do Flamengo e no Oi Futuro
Marcello Dantas segue com o projeto de levar obras pública de criadas por artistas internacionais renomados para o Rio de Janeiro! Depois de montar obras de Song Dong, Daniel Buren. Robert Morris, Brian Eno, entre outros, pela cidade, o curador trouxe o americano Daniel Arsham e o pelo japonês Makoto Azuma para uma curta temporada na cidade maravilhosa.
Quem passar pelo Aterro do Flamengo poderá conferir o “jardim zen do futuro” criado por Daniel Arsham e uma mandala de flores gigante idealizada pelo japonês Makoto Azuma.
Confesso que, apesar de conhecer bem o trabalho dos dois artistas, nunca pensei em alguma conexão entre os dois. Mas agora parece óbvio: um trauma de infância fez com que Daniel olhasse para o presente como ruína do futuro – sempre simulando situações suspensas no tempo – enquanto Makoto explora o efêmero das plantas e flores colocadas nos mais variados contextos geográficos. “Esse contraste entre o que entra em decomposição e o que é o resquício é uma metáfora forte dos nossos tempos”, explica o curador. O projeto faz parte da mostra Outras Ideias e Marcello selecionou obras dos mesmos artistas para o Oi Futuro do Flamengo. Até 5 de novembro. www.oifuturo.org.br
Jardim zen do futuro de Daniel Arsham
Mandala de flores feita por Makoto Azuma
3. Marcius Galan na galeria Silvia Cintra + Box 4
Em Martelinho de Ouro, Galan usa o incômodo do risco da chave na pintura do carro novo e o som que esse atrito produz como ponto de partida para obras que provocam o olhar do espectador e sugerem uma reflexão sobre as relações as nossas expectativas de espaço, tempo e forma.
Destaque para as três esculturas feitas a partir de vergalhões de construção dispostos sobre bases com pintura automotiva. O movimento da peça sobre o apoio produz um desenho geométrico que deixa de ser um incômodo – ao rabiscar a superfície com precisão teríamos uma obra de arte e não um problema? A pensar. Até 13 de outubro. www.silviacintra.com.br
Marcius Galan
4. A invenção da praia:cassino no IED
As ruínas do antigo Cassino da Urca, prédio que pertence hoje ao IED do Rio de Janeiro, foram ocupadas por obras de Bruno Faria, Caio Reisewitz, Chiara Banfi, Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Laercio Redondo, Laura Lima, Lula Buarque de Hollanda, Maria Laet, Mauricio Adinolfi, Nino Cais e Sonia Guggisberg.
A mostra A invenção da praia: cassino, com curadoria de Paula Alzugaray, tem como ponto de partida conceitual os desenhos preparatórios da arquiteta Lina Bo Bardi para um “Museu à Beira do Oceano”, que seria construído sobre as areias da praia de São Vicente, no litoral paulista. A ideia? Resgatar o projeto de Lina transformando o Cassino num autêntico Museu à Beira do Oceano...mesmo que só por alguns dias.
Giselle Beiguelman
Laercio Redondo
Se o historiador Joel Rufino dos Santos dizia acreditar “mais na literatura que na história, como instrumento capaz de contar a saga do povo brasileiro”, estes artistas parecem perfeitos para resgatar as histórias do próprio edifício. E é essa a proposta da curadora “Doze artistas foram convidados a escavar o passado, desenterrar mistérios e reescrever as histórias do edifício e de seus personagens”, explica.
Nino Cais
No dia da abertura da exposição Giselle Beiguelman convidou o público para "enformar a areia" da praia da Urca, em um ponto visível a partir do Cassino. As pequenas esculturas de memórias de areia ficam ali até serem consumidas pelo vento ou pelo mar. Nino Cais levou a sua sinfonia oceânica – a Instalação apresentada pela primeira vez em sua individual na Galeria Triangulo é composta por 80 porta-partituras musicais contendo 80 páginas de livros antigos com fotografias de conchas. Até 17 de setembro. ied.edu.br/rio
Maria Laet
5. Nuno Ramos na Anita Schwartz Galeria de Arte
Depois de um jejum de cinco anos sem expor na sua galeria carioca, Nuno Ramos apresenta uma nova série de pinturas feitas a partir a da encáustica – técnica milenar de mistura a quente de pigmentos e cera –, que o destacou no cenário da arte nos anos 1980. O resultado? Pinturas multicoloridas de 300 kg, e até 30 centímetros de profundidade que voltou a pintar há 3 anos – as antigas eram mais monocromáticas e as superfícies se faziam diferentes apenas pela matéria ou objetos incluídos. São, no mínimo, plásticas.
“São muito diferentes dos quadros originais, dos anos 1980, mas retomam em alguma medida essa espécie de pântano de origem, um território onde as coisas afundam ou emergem, que me caracteriza desde o início e ao qual de alguma foram ainda sou fiel", explica o artista. “Tem algo de uma paisagem literal, feita mesmo de matéria, uma exacerbação da matéria que precisa virar som, virar onda, grito, meio como ‘O Grito’ de Munch”, completa Nuno que nomeou sua individual de Grito e Paisagem – uma referência à obra do poeta Giuseppe Ungaretti. De fato. Ele parece tentar transformar (obsessivamente!) a matéria em sentido, a paisagem em grito. Até 11 de novembro. www.anitaschwartz.com.br
As novas pinturas de Nuno Ramos têm 300 kg e até 30 centímetros de profundidade
6.Laura Vinci na Galeria Nara Roesler
Conhecida por tratar de forma poética temáticas como o corpo, o espaço e o tempo, Laura Vinci encheu a galeria com uma suave massa de fumaça branca. O objetivo? A instalação Morro Mundo convida o visitante a experiência de desorientar-se no espaço e reorientar-se no corpo.
Quando a fumaça diminui podemos ver tubos de vidro que atravessam o espaço e por entre os quais precisamos passar. A instalação é composta ainda por objetos dourados, que pendem nas escoras distribuídas pelo espaço, ativando as noçôes da altura do teto e distância das paredes. “Esses pequenos objetos configuram-se como ampulhetas, bússolas, mapas e outras ferramentas de medição, que podem nos ajudar a seguir viagem”, sugere Laura.
O trabalho de Laura é, em primeira instância, lúdico. Mas também pode ser bastante forte ao propor uma discussão sobre as incertezas dos tempos atuais e incentivar uma experiência que confunde e esgota no silêncio e no vazio – coerente, inclusive, com a última Bienal de São Paulo. Para a artista, vivemos em um momento em que outra linguagem e outro tempo precisam ser inventados: novas palavras, gestos e formas de ação. Até 18 de novembro. nararoesler.art
Morro Mundo de Laura Vinci
7. Matheus Rocha Pitta na Athena Contemporânea
Entre suas 10 mil imagens colecionadas a partir de recortes de jornal, Matheus Rocha Pitta selecionou fotos sobre as manifestações que ocorreram em diversas cidades do Brasil para idealizar as mostras The Fool’s Year, na galeria Athena Contemporânea, e O Reino do Céu, em uma casa no bairro da Glória.
Matheus Rocha Pitta (Foto: divulgação)
Matheus Rocha Pitta (Foto: divulgação)
Na galeria vale destacar a obra que dá nome a mostra: um grande calendário, com 365 dias, onde, no lugar de cada dia, há um retrato de manifestantes com cartazes ou bandeiras. O artista substituiu as demandas politicas pela data 1º de abril: “O 1º de abril não é o dia em que a verdade e a mentira se confundem. Se vivemos no tempo da pós-verdade então habitamos um eterno primeiro de abril”, afirma.
Matheus Rocha Pitta (Foto: divulgação)
Matheus Rocha Pitta (Foto: divulgação)
Não deixe de visitar, no entanto, O Reino do Céu . onde Matheus é mais perspicaz e ácido. A casa é montada como se fosse uma igreja: obras com fotos de gás lacrimogênio lançados sobre civis são articuladas em torno de um vocabulário cristão, tais como uma cruz e uma pia batismal. “O público é convidado a percorrer a instalação, que tem um caráter imersivo, como se estivesse caminhando nas nuvens”, afirma. Rocha Pitta faz uma comparação entre as nuvens da iconografia cristã com as nuvens de gás das polícias. “A articulação das imagens descontextualizadas no ambiente da igreja apontam pra uma leitura perturbadora do nosso cenário político”, ressalta. Até 7 de outubro. athenacontemporanea.com
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