O Duran Duran dominou o mundo pop na primeira metade da década de 80. Em 1985, entraram de férias, após o estouro do álbum e da turnê de Seven and the Ragged Tiger. Havia um motivo bem mais sério do que descanso, porém. Os meninos não se suportavam mais e os tabloides estavam pegando bem pesado com a vida excessiva de festas e drogas dos outrora Fab Five, de Birmingham. Andy e John Taylor formaram o power-roqueiro Power Sation.
Simon LeBon, Nick Rhodes e Roger Taylor usaram o tempo livre para desenvolver projeto paralelo, batizado de Arcadia, que rendeu apenas um álbum. Eles queriam ser levados mais à sério, e não apenas considerados um bando de meninos bonitos. Almejavam o respeito de um Japan, por exemplo, banda que sempre esteve nas sombras oníricas dos duranies. Basta comparar o visual de Nick, inspirado no do dandy David Sylvyan, vocalista do Japan (que por sua vez copiava Bowie, claro).
O vocalista, o tecladista e o baterista usaram sua influência, grana e contatos para reunir um quem-é-quem de convidados ilustres da época: Grace Jones, Sting, Herbie Hancock, David Gilmour e Carlos Alomar (guitarrista de David Bowie). O resultado foi o álbum So Red the Rose, nas palavras de LeBon, “o mais pretensioso jamais gravado”. A produção é típica do excesso oitentista de barulhinhos. Canções repletas de sininhos, miniexplosõezinhas, batidinhas, apitozinhos, raspadinhas.
So Red the Rose soa como Duran Duran tentando ser Roxy Music. A crítica malhou o trabalho e o próprio LeBon é irônico. É lugar comum dizer que So Red The Rose é o álbum mais artístico do ‘Duran Duran’. Sarcasmo para se referir ao fato de que os meninos podem ter pensado em fazer trabalho mais consistente, mas não davam o pulo do gato na vanguarda e experimentalismo, porque queriam estrelato e grana. E estavam atrelados a uma gravadora que esperava deles montanhas de lucro.
Mais de três décadas depois, é hora de reconhecer que o álbum é um produto típico de seu tempo e apresenta boas canções. Não merecia cair no esquecimento. Election Day é uma das coisas mais sexy da década, com sua forte batida funkeadaa e os vocais manhosos de Simon. El Diablo é joia da superprodução da década: os teclados imitam flautas andinas e simulam rufar de asas e canto de pássaros para criar o clima de latinitidad fake que evoca o título espanhol, enquanto LeBon pede ao demo que lhe venda a alma de volta. Além disso, há violinos, som de bolinha quicando e muito mais detalhes. Prato cheio para detratores. The Promisse tem backing vocals de Sting – então com a moral nas alturas entre os críticos – e longa sessão instrumental, atípica em álbuns pop e representante da assepsia de estúdio. Lady Ice é balada dramática, fustigada por teclados e efeitos grandiloquentes, que, se bem ouvida, revelará citações a efeitos presentes em outras faixas, como Election Day e a vinheta instrumental Rose Arcana.
Para comemorar as bodas de prata de So Red the Rose foi lançada edição de luxo comemorativa em 2010. Um box com 2 CDs e um DVD. O CD 1 traz o álbum original, acrescido de 7 bônus; o CD 2 traz 12 gravações raras. É um monte de remixes, demos e versões extended, que devem interessar apenas aos fãs mais xiitas do álbum. Exceção para Say the Word, canção não constante do LP original e que traz a semente de A View to a Kill, tema do filme do 007, de 1985, composta pelo Duran Duran. O DVD traz clipes e Making Ofs (também para fãs mais exaltados).
A arcádia literária do século XVIII era informada pelo bucolismo pastoril e pelos tropos do fugere urbem, da inutilia truncat e da aureas mediocritas. O fugaz Arcadia apostou no reverso, com sua maquiagem pesada, cabelos elaborados, produção beirando ao preciosismo rococó, alta dramaticidade contrastada com assepsia e total urbanidade. Pura pose. Como os cultos poetas urbanos árcades se fingindo de rústicos pastores…
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