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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Os detalhes de Santiago Salvador


Pinta devagar e em pequenas dimensões. Nas suas telas, destacam-se a cor e o desenho figurativo mas a relação entre ambos retrata uma ideia, uma percepção, algo mais profundo. Toda a pintura é sensação.
Com uma vasta produção plástica em diversos suportes, Santiago Salvador problematiza o viver social das pessoas e a representação, na sua arte, do que nos rodeia. Assim se tornam as suas pinturas, “construções”.
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© Santiago Salvador.
Uma vida normal
Santiago Salvador Ascui Allende-Iriarte nasceu em 1983 e é natural de Santiago, Chile. Este um jovem pintor é fiel de um “alternativismo” autonómico nas artes plásticas, próprio dos artistas contemporâneos. Pinta desde os tempos de escola, tendo-se licenciado em Artes Plásticas na Universidade Finis Terrae, em Santiago. Mas acredita ter aprendido mais com os seus amigos e com quem contacta pelo Flickr. Já fez arte de rua e desde criança que admira o graffiti. Trabalha nos estúdios de arte “Angeimos” e para a “Homebless”.
Na feira expositiva “ArteBA”, Argentina, conheceu Paul Birke, director da galeria de arte “Die Ecke Arte Contemporáneo”, de Santiago. Esse contacto foi o mote para que, em Dezembro de 2010, terminasse lá a sua primeira exposição individual, “La Comunidad”. Mas já desde 2005 Santiago realiza e expõe trabalhos de vídeo e de animação, bem como participa em exposições colectivas, dentro e fora do Chile. Integra um grupo de 10 artistas plásticos, “Colectivo de Arte Gang Bang”, que usa a pintura como “meio e linguagem”, e o “Onda Hal Foster”, projecto colectivo musical e visual chileno.
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© Santiago Salvador.
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© Santiago Salvador.
Aprecia “Os Simpsons”, “Futurama” e músicos como David Bowie ou Iggy Pop.
Mas, para Santiago, o gosto maior são os detalhes. Por isso, prefere levar “uma vida sã e pintar” em vez de “fazer de tudo e não dormir”. Porque ser pintor requer “trabalho árduo, um enfoque e uma maneira de viver”.
“Como um prisma para o reconhecível, para o íntimo e ambíguo que nos rodeia"
Pinta pequeno porque sempre gostou dos detalhes. Com uma obra “outsider”, Santiago considera ter algo de ingénuo no que faz por a sua motivação não ser académica mas meramente irracional. Ao nível do que pinta e porquê, sente mais do que pensa. Acaba por identificar-se com os artistas que “sem terem visto as grandes obras de história de arte, sem saberem bem a técnica, têm esse bichinho que faz pintar o ser humano”.
Ao procurar os detalhes na pintura, procura o simbolismo. E fá-lo combinando a cor com figuras humanas aglomeradas em diversas posições, por exemplo. Os efeitos cromáticos de simplicidade e equilíbrio, juntamente com as figuras, criam uma carga visual e mental, profunda. A sua obra não se esgota neste género estético-figurativo mas é aqui que esta mais se destaca - exemplo é o seu primeiro projecto individual, “La Comunidad”.
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© Santiago Salvador.
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© Santiago Salvador.
“Ver gente aglomerada na cidade é uma imagem para mim muito ambígua. É difícil saber o carácter, a psicologia de cada pessoa, quem é quem”, refere Santiago. Ao longe, as personagens parecem abstrações, ou indivíduos que acabam por perder a sua identidade ao seguirem os mesmos rumos que a sociedade de consumo propõe, enquanto, ao mesmo tempo, se diluem nas redes sociais on-line. O destaque cromático que as figuras humanas recebem fá-las situar num emaranhado de relações subjectivas ou distantes, onde a cor interage com o desenho, pautando os seus ritmos, ascensões e/ou depressões. Daí os efeitos visuais sentidos nessas obras. Estes são alguns pontos que Santiago Salvador destaca. 
Afinidades: neoplasticismo, Chris Johanson e “The Beautiful Losers”
O uso da cor e da figura humana na obra de Santiago apresentam semelhanças com outros legados artísticos - e vejamos três casos.
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© Santiago Salvador.
O Neoplasticismo surgiu na década 1910-1920 e teve, no uso de elementos básicos tais como cores primárias com linhas rectas, o seu princípio essencial pautado pela necessidade de veicular “clareza, certeza e ordem”. Essa “abstração geométrica”, na boca de Piet Mondrian, visa “a expressão pura da relação”. A “certeza” e a “ordem”, descritas por linhas rectas, representam a mentalidade “rectilínea” (obstinada) típica do contexto social propiciador da I Guerra Mundial.
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© Theo van Doesburg, Wikicommons.
Já Chris Johanson, nascido em 1968 na Califórnia, tem na cor e no desenho de pessoas a sua síntese artística. Em moldes diferentes, reflecte alguma pureza na pintura que faz, através dos materiais reciclados e graffiti, dos temas geralmente urbanos que trabalha e quando diz que, quando falamos de arte, “trata-se de partilhar informação e ideias… mais importante do que o artista”. Tenta mostrar a relação das pessoas com o meio das cidades, construindo, na tela, um documento de vida real.
Finalmente, “The Beautiful Losers”: trata-se de um grupo de criadores jovens com uma produção artística representante de uma cultura de rua, “adolescente”. Elementos como o graffiti, o skateboarding e a música punk e hip-hop influenciaram o viver diário e a arte desta nova geração. A cor e a figuração humana, entre outras manifestações, são usadas para exprimir ideais e a pureza do movimento “Do It Yourself” em que se baseia o grupo - isto é, criar sem o conhecimento ou o rigor formal de artistas profissionais.
Apesar das diferenças, essa pureza surge como alternativa para contacto, onde o conhecimento formal e rigoroso não é essencial. Será um reflexo das necessidades que temos hoje?


Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/08/santiago_salvador_o_sentido_esta_nos_detalhes.html#ixzz1WAFl2hBp

2 comentários:

Aclim disse...

Arte...tão simples e complexa. Mas é como a vida cheia de personalidades diferentes.

Abraço

Aline Carla Rodrigues disse...

Graças a Deus pelas diferenças que nos trazem tremendas riquezas culturais. Obrigada pela participação constante! É muito bom poder conversar sobre arte com você. Grande abraço!

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