Quero uma fita bem amarela, tremulando ao sol do Norte de Minas, para cada criança que partiu, antes da hora. Quero uma fita amarela para toda mãe que sai para trabalhar, com o coração apertado, ao deixar seus filhos na escola.
Quero uma fita amarela nos cabelos da jovem professora que planejou durante toda a semana suas aulas, mas não sabe se o salário será depositado em dia.
Quero uma fita amarela nas mãos da servente que prepara a merenda de cada menino e menina, que brincam no pátio.
Quero uma fita amarela para o professor que levou um murro do aluno.
Quero uma fita amarela, de ouro, para os alunos de licenciatura que ainda acreditam.
Quero uma fita amarela e mimosa para a adolescente que tira nota máxima na redação.
Quero uma fita amarela para os meninos especiais que frequentam as escolas que não estão preparadas para recebê-los.
Quero uma fita amarela para a escola sem quadro negro, sem carteira, sem apagador, mas que figura nas estatísticas do governo. Quero uma fita amarela para cada pai que ainda acredita que o melhor que poderá legar a seu filho será uma educação de qualidade.
Quero uma fita amarela, porque ela é a nova cor da esperança. Deverá arder nos olhos de quem detém o poder e nada faz; deverá amargar na boca de quem sabia e nunca agiu. Deverá irradiar luz e calor para aqueles que amam e fazem de seu ofício um constante desafio. Deverá incomodar quem desconhece. Deverá fortalecer quem padece. Deverá dar forças para quem luta.
Mas é preciso que ela seja amarrada em cada janela, cada poste, cada árvore. Amarela, como um alerta à nossa pasmaceira.
Amarela, como uma homenagem à razão, que parece ter se perdido por aí. Amarela como sonhou Van Gogh em seus delírios, para nos lembrar que existe um infinito. Amarela, para nos seduzir com sua luz. E muito, muito amarela, para nos fazer enxergar os incautos.
Essa fita amarela, que eu quero, haverá de nos lembrar, definitivamente, de que não precisamos de comoção momentânea. Precisamos é de uma política educacional corajosa que tire o Brasil do humilhante lugar que ocupa. Precisamos de governos que distribuam menos comendas e mais oportunidades.
Precisamos de políticos que troquem a propina pela equação matemática, o discurso pela ética e pela ação construtiva.
Precisamos de uma família que frequente a escola. Precisamos de uma criança que brinque de novo.
Quero uma fita amarela. Grande, brilhante, vaidosa. Porque eu quero substituir o choro pelo riso, a derrota pela vitória, a morte pela vida.
Chegou o dia dos professores.
A universidade em que trabalho não comemora. A sociedade não vê. A imprensa não notícia.
Não quero ouvir que ser professor é um sacerdócio, missão ou doação. Não quero ver o rosto da professora cheio de hematomas. Não quero chorar por nenhuma criança morta, porque não houve o zelo necessário do Estado. Não quero ouvir que meu salário está sendo fatiado, desvalorizado, dividido, aviltado. Nem quero presentes.
Não quero ouvir que ser professor é um sacerdócio, missão ou doação. Não quero ver o rosto da professora cheio de hematomas. Não quero chorar por nenhuma criança morta, porque não houve o zelo necessário do Estado. Não quero ouvir que meu salário está sendo fatiado, desvalorizado, dividido, aviltado. Nem quero presentes.
Eu quero uma fita amarela bem presente, numa História diferente, de um país diferente, no qual as crianças e as escolas sejam protagonistas.
(Dedico esse texto a cada aluno que já passou ou passará por minha sala de aula)."
Ivana Ferrante Rebello
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