Jorge Elias preenche lar com raridades europeias
A história é pródiga em revelar (e por vezes glorificar) pessoas que viveram, de certo modo, deslocadas de seu próprio tempo. Muito se fala, por exemplo, de homens à frente de sua época, como Da Vinci, Einstein ou Steve Jobs, todos figuras que pareciam forçar a passagem dos anos. Há também outro tipo de descompasso, um que existe mais obscurecido do olhar público. Personagens cujas mentes e gostos não se identificam com o hoje, tampouco com o amanhã. Miram o passado. É este o caso do casal que vive no apartamento de decoração estilo império, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Para realizá-lo, o arquiteto Jorge Elias e sua equipe imergiram no universo dos antiquários europeus por três anos. Foi o tempo necessário para encontrar as peças ideais.
Em qualquer um dos 900 m², a atmosfera palaciana europeia é evidente. Por toda a morada há uma profusão de obras de arte, em especial as brasileiras, e móveis de origem francesa e russa. As cores são variações de cinza, com pinceladas de outros tons, como o ocre e o vinho. Peças-chave no décor desta residência são as boiseries, as peças de marfim, ébano e laqueadas, além da coleção de porcelanas da Companhia das Índias e da chinoiserie.
Logo no hall de entrada o tom da decoração se afirma. O espaço, de tamanho razoavelmente grande, impõe-se. A composição simétrica é a principal característica. Cômodas império francesas, do século 19, e cadeiras Regency inglesas, do mesmo século, descansam à direita e à esquerda do pórtico que leva à sala de estar. Nas paredes com acabamento de stucco veneziano cinza, quadros com gravuras de personagens históricos do século 18 estão organizados em fileiras alinhadas. Em outra superfície, veem-se consoles e espelhos franceses do século 19. Pendem do teto lanternas inglesas, estas do século 20.
No living com lareira, o móvel mais impressionante é uma poltrona francesa Luís XIV, do século 17. Por ali, encontram-se também a coleção de peças Famille Rose, da Companhia das Índias, do século 18, e quadros de artistas brasileiros – entre eles, Di Cavalcanti, Portinari, Cícero Dias e Guignard. As cortinas, cheias de detalhes, com passamanarias e franjas, chamam atenção. O outro canto do cômodo tem um sofá estilo Napoleão III, desenhado e executado pelo próprio Jorge Elias, acompanhado por mesas Bague, dos anos 1940, poltronas império francês, século 19, com revestimento de onça e acabamento de laca cinza, e poltrona de marajá do Rajastão, século 19, de marfim e ébano
Ainda nesse ambiente, vê-se uma belíssima secretária Trumeau estilo império italiano, do século 19. Acima dela, quadros expõem a coleção de selos da mesma época – uma raridade, pela grandeza e pelo caráter inusitado do conjunto. Próximo dali, a galeria de acesso à área do lavabo social possui console estilo diretório, de Jansen, que data dos anos 1940, cadeiras russas do século 19 e mais gravuras de personagens históricos.
Na sala de jantar, a boiserie tem painéis chineses laqueados, do século 18, que pertenceram à coleção de Coco Chanel. A mesa inglesa Regency, do século 19, é de mogno. Ao seu redor, encontram-se cadeiras italianas neoclássicas, do século 19, e, sobre ela, foi colocada a prataria inglesa de Paul Storr, da mesma época. Sobre o conjunto, paira lustre genovês de madeira e bronze com detalhes de quartzo fumê e cristal de rocha. A peça é do século 18.
Por sua vez, a sala de almoço exibe chinoiserie e espelho inglês inspirado no Brighton Pavilion, do século 19.Já a biblioteca tem em sua decoração uma boiserie de carvalho natural e carvalho cinza, tendo como destaque o bureau francês Luís XV, do século 18, com acabamento de laca preta. Acima dele, uma tela de Vlaminck, do século 20. Por ali, destaca-se ainda a poltrona Napoleão III, revestida com veludo cinza e vinho.
No quarto do casal, o antigo espelho de chinoiserie dá continuidade à cabeceira da cama. As paredes foram cobertas com papier peint e tecidos Miranda Green. A sala íntima e de TV, tem mesa de centro de laca chinesa e sofás de camurça modelo Chanel, ambos desenhados por Jorge Elias. Ali, as cortinas de tafetá são de Christopher Hylland. Até mesmo o terraço esbanja sofisticação. Revestido com treliças de várias manufaturas e painéis chineses do século 19, o espaço conta com aparadores desenhados por Jorge Elias.
Fonte: Casa Vogue
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