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terça-feira, 8 de outubro de 2013

HIPER-REALISMO: A ÚLTIMA PALAVRA SOBRE A REALIDADE?


À sua frente, um trabalho de arte. Fascinado, você se aproxima, observa a riqueza dos detalhes, o primor das imagens... É perfeito! Mas surge a dúvida: isso é uma pintura ou uma fotografia?


© Denis_Peterson, "Active Driveway No Parking".

O próprio crítico de arte Gilles Aillaud comentou, durante uma exposição de artistas hiper-realistas no Centro Nacional de Arte Contemporânea de Paris em 1974: “(...) eles fazem quadros que parecem fotografias”. Essa questão pairou sobre a cabeça de diversos visitante de galerias e museus totalmente desavisados do período. Até mesmo na atualidade o hiper-realsimo é capaz de suscitar dúvidas.

Entre os anos de 1965 e 1970, desenvolveu-se nos Estados Unidos uma corrente artística denominada hiper-realismo, com foco primeiramente em Nova York e na Califórnia, chegando posteriormente à Europa. A estética foi batizada de início como fotorrealismo pelo galerista norte-americano Louis K. Meisel (1942). Os termos novo realismo e realismo radical também são utilizados para nomear o movimento. Apesar dos diversos nomes, o pintor americano Denis Peterson(1944) - primeiro artista fotorrealista - afirma que existe diferenciação, sim, entre o que seria hiper-realismo e o fotorrealismo. Para ele, o hiper-realismo leva o fotorrealista a um outo nível de experimentação e detalhamento da obra.

O detalhamento extremo das pinturas hiper-realistas tem sua raiz no realismo do século XIX (movimento artístico e literário surgido no final do século XIX na Europa, em especial na França). Os realistas repudiavam a artificialidade do neoclassicismo e do romantismo, e sentiam a necessidade de retratar a vida, os problemas e os costumes das classes média e baixa, além de questionar os modelos estabelecidos na sociedade. Os hiper-realistas também se sentiam atraídos e inspirados pela pintura de Edward Hopper (1882-1967) - pintor, artista gráfico e ilustrador norte-americano -, conhecido por suas representações realistas da solidão na contemporaneidade.


© Chuck Close, "Mark".


© Guerrino_Boatto, "Motel Office".


© Denis Peterson, "Dust to dust".


© Denis Peterson, "Too Much of Nothing".

Independentemente dos temas construídos em cada obra, os hiper-realistas buscavam criar trabalhos que representassem fielmente a realidade, mas que concomitantemente refletissem uma visão pessoal da vida moderna americana. A estética hiper-realista foi um contraponto ao Minimalismo e à Arte Conceitual. Nos anos 1960, o hiper-realismo parecia um estilo de retorno à representação, como uma espécie de ruptura com o expressionismo abstrato dos anos anteriores. Com o tempo, o olhar dos críticos de arte e das demais pessoas foi percebendo que tais pinturas não eram realistas, pois não representam o mundo exterior, mas constituíam uma metalinguagem artística, por suas referências serem outras imagens.


© Richard Estes, "Madison Square".


© Richard Estes, "Supermarket".

As fotografias são as fontes primárias dos hiper-realistas: seu modo de obter as informações da realidade. Fotografada antecipadamente, a imagem é projetada diretamente na tela, fazendo pintura por aerógrafo ou por gravação fotossensível - ambos permitem realizar os trabalhos na tela ou qualquer outra superfície sem deixar marcas gestuais, além de permitirem o controle da quantidade e a regularidade da tinta. Dessa forma os artistas criavam figuras uniformes e de uma aparência fria e objetiva.


© Richard Estes, Telephone Booths".


© Audrey Flack, "Crayola".

Mesmo com a busca pela exatidão na representação, as imagens são levemente modificadas em relação ao original fotográfico – podendo ser engrandecidas, levemente deformadas ou recebendo jogos e efeitos de nitidez. Os primeiros artistas a criarem obras hiper-realistas foram os americanos, e entre eles estavam os pintores Richard Estes, Audrey Flack e Chuck Close. Na Europa, o primeiro artista hiper-realista foi o austríaco Gottfried Helnwein. O hiper-realismo não se restringiu apenas à pintura - diversos escultores contemporâneos pertenceram ao movimento: o americano Duane Hanson criou uma série de esculturas hiper-realistas em tamanho natural, que colocam em evidência indivíduos menosprezados na sociedade americana. E ainda o escultor australiano Ron Mueck, que criou esculturas hiper-realistas, hiperdimensionadas, com atenção especial para os detalhes.


© Audrey Flack, Rich art".


© Gottfried_Helnwein, "The murmur of the Innocents 17".


© Gottfried Helnwein, "Epiphany I Adoration of the Magi".

O hiper-realismo impôs-se em poucos anos, chegando a sua consagração na famosa exposição Documenta de 1972, curada por Harald Szeemann. E mais tarde, novamente na Documenta de 1975, quando a exposição confrontou o Hiper-realismo com a Arte Conceitual, e colocou os dois movimentos como os mais representativos do final da década de 1970. Muitos artistas continuaram trabalhando com está técnica, ampliando os temas e ferramentas. Devido ao avanço das tecnologias, a produção hiper-realista mais recente tem conseguido um grande grau de nitidez e alta definição. Os temas comuns dos óleos e acrílicos produzidos pelos hiper-realistas são a representação das cidades, seus outdoors publicitários, lojas, cafetarias e supermercados. Assim como cenas de famílias ordinárias e seu cotidiano sem extravagâncias.


© Ron Mueck, "Big Man", (fotografia de MetalCris).


© Ron Mueck, "Mask Self Portrait", (fotografia de Paul Lim).

O objetivo do hiper-realismo consistia em uma representação da realidade de maneira extremamente meticulosa e distanciada, afastando qualquer subjetividade do artista e do próprio observador. Mesmo com o advento da fotografia como representação do “real” – ou uma possível interpretação dessa realidade – a afirmação do pintor Richard Estes é significativa quanto à ação do hiper-realismo na história da arte e na própria sociedade: “Não acredito que a fotografia dê a última palavra sobre a realidade.” Contudo, o crítico e historiador de arte italiano Giulio Carlo Argan afirma de maneira irônica que o hiper-realismo: “Consistia em reproduzir imagens fotográficas com precisão canina, empregando meticulosamente as técnicas pictóricas, como se estivesse refazendo artesanalmente, com grande perda de tempo e energia, algo que a máquina faz num instante”.


© Ron Mueck, "Baby", (fotografia de Jeannie Fletcher).


© Duane Hanson, "Football", (fotografia de Thomas Hank).

Para alguns autores, ainda, o hiper-realismo surge como tentativa de compensar o “desaparecimento do real”, construindo assim uma versão até exagerada do que é “real”, das experiências e da própria vida. Essa simulação do real não pode ser interpretada como irreal, sendo na verdade o hiper-real, pois todos esses trabalhos pretendem ser mais verdadeiras do que a realidade. Agora, uma obra hiper-realista pode suscitar muitas outras questões, além da pergunta primeva: será pintura ou fotografia?


© Duane Hanson, "Woman Eating", (fotografia de Mjlaflaca).
Fonte: Obvious.

2 comentários:

Eloah disse...

Perfeição acima de tudo.Amei.Grande dom para fazer dos detalhes pura arte.Obrigada por compartilhar conosco destas maravilhas.Bjs Eloah

Aline Carla Rodrigues disse...

Realmente fiquei encantada Eloah com tremenda perfeição! Imenso abraço amiga! Aline Carla.

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