Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?
Sua maciez chegava
voando por sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera ,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.
A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem.
Pablo Neruda
4 comentários:
"...as mãos são quase seres animados.Serviçais?Talvez.Mas dotadas de um temperamento enérgico e livre,de uma fisionomia,rostos sem olhos e sem voz,mas que vêem e que falam...no momento em que começo escrever vejo as minhas mãos que solicitam o meu espírito,que o arrastam...através delas o ser humano entra em contato com a solidez do pensamento...a face humana é composta sobretudo de órgãos receptores...A mão é ação:ela toma,ela cria e por vezes,diz-se-ia que ela pensa.
Em repouso,ela não é uma ferramenta sem alma,abandonada sobre a mesa ou pendurada ao longo do corpo.O hábito instinto e a vontade da ação meditam nela e não é preciso um grande exercício para adivinhar o gesto que ela vai fazer...
Belíssimo comentário meu poeta, suas palavras trazem refrigério ao meu coração. Imenso abraço, Aline Carla.
Com você me sinto imortal Ma Chèrie!
E assim vivemos cada momento como se fosse único, mon cher!
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