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domingo, 30 de dezembro de 2012

Museu de Nova York dá aos games o mesmo status de filmes e quadros


(Fotos: Shutterstock e divulgação (3))

O jogo Pac-man poderia muito bem ser descrito como apenas um ser redondo que come bolinhas luminosas e tenta escapar de fantasmas coloridos. Justo, mas muito pouco para uma obra de arte. O MoMA, de Nova York, um dos mais conceituados museus de arte moderna do mundo, anunciou neste mês a compra de Pac-man e outros 13 jogos eletrônicos como Tetris, The Sims ePortal. E outros ainda estão por vir, numa coleção que somará 40 games, antigos e recentes. Não servirão como distração na sala de espera. Ficarão em exposição a partir de março de 2013, dividindo espaço com obras de artistas como Vincent van Gogh, Pablo Picasso e Auguste Rodin. A partir de agora, tratar Pac-man como um comedor de bolinhas coloridas é como descrever uma pintura célebre como borrões de tinta sobre uma tela branca.
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Jogos eletrônicos existem há pelo menos 40 anos e, durante boa parte desse tempo, foram apenas brincadeira de criança. As crianças cresceram, e os jogos evoluíram com a tecnologia para se tornar uma indústria que fatura mais de US$ 70 bilhões.


As aquisições do MoMA são apenas mais um passo na legitimação cultural dessa indústria. No ano passado, uma decisão da Suprema Corte americana colocou os games ao lado de literatura, música e cinema como dignos de proteção da primeira emenda à Constituição do país, que garante, entre outras coisas, a liberdade de expressão. Em março deste ano, o Smithsonian American Art Museum, em Washington, inaugurou a mostra The art of video games (A arte dos videogames), com exposição interativa de 80 games. Há uma semana, o Museum of the Moving Image, em Nova York, abriu a exposição Spacewar!, dedicada aos jogos eletrônicos de guerra.

O MoMA comprou os códigos originais dos jogos, para poder preservá-los mesmo que o console usado para jogá-lo fique obsoleto. “Essa aquisição permite ao museu estudar, preservar e exibir videogames como parte de nossa coleção de Arquitetura e Design”, afirmou na apresentação do projeto a curadora Paola Antonelli.

O que há de artístico em jogos eletrônicos? Segundo Chris Melissinos, curador da exposição no Smithsonian e conselheiro do MoMA nas recentes aquisições, os games não só são arte, como são sua forma mais abrangente. “Videogames são a combinação perfeita do que consideramos hoje como arte tradicional. Neles, temos escultura, pintura, música e narrativa, como nos livros e no cinema”, afirma Melissinos.

Como exemplo da complexidade dos games, Melissinos cita sua experiência com o título Shadow of the colossus, lançado em 2005 e reeditado em 2011. A missão do personagem principal é matar uma série de monstros gigantescos para, com a magia liberada por eles, salvar seu grande amor da morte. “Quanto mais eu atacava esses belos monstros gigantes, pior eu me sentia. Eles não tinham feito nada contra mim, até que os feri”, diz Melissinos. “Posso entender o desejo de recuperar um amor perdido, mas, no jogo, isso entra em conflito com meu princípio de não machucar ou matar. Não existe forma de arte que consiga despertar conflitos tão profundos nas pessoas.”

Shadow of the colossus mostra gráficos complexos e belos cenários. Isso facilita a imersão na história. Segundo ele, mesmo jogos simples, como Pac-man e Tetris, despertam conflitos. “Se você tiver um ponto azul e um verde numa tela, e um ponto vermelho viajando entre eles, isso não significa nada. Mas, se o ponto azul é seu inimigo, o verde é seu irmão e o vermelho é uma bola de fogo, aquilo ganha sentido”, diz.
(Fotos: Shutterstock e divulgação (3))
Época

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