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quarta-feira, 2 de março de 2011

Criticar um surrealista é muito fácil, difícil é criar o que ele um dia criou.

Metamorfose de Narciso - Salvador Dalí

Narciso Cego
Thiago de Mello

Tudo o que de mim se perde
acrescenta-se ao que sou.
Contudo, me desconheço.
Pelas minhas cercanias
passeio – não me frequento.

Por sobre fonte erma e esquiva
flutua-me íntegra, a face.
Mas nunca me vejo: e sigo
com face mal disfarçada.
Oh que amargo é o não poder
rosto a rosto contemplar
aquilo que ignoto sou;
distinguir até que ponto
sou eu mesmo que me levo
ou se um nume irrevelável
que (para ser) vem morar
comigo, dentro de mim,
mas me abandona se rolo
pelos declives do mundo.

Desfaço-me do que sonho:
faço-me sonho de alguém
oculto. Talvez  Deus
sonhe comigo...

...Cego assim, não me decifro.
E o imaginar-me sonhado
não me completa: a ganância
de ser-me inteiro prossegue.
E pairo – pânico mudo -
entre o sonho e o sonhador.

Um comentário:

Eduardo disse...

O que ocorre é que alguns confundem o não gostar, que todos tem o direito, com o não conhecer. Criticar qualquer movimento artístico consagrado é muita pretensão. O manifesto do surrealismo foi escrito pelo psiquiatra André Breton, muito influenciado pelas recentes descobertas de Freud. A pintura tinha o propósito de retratar o inconsciente. Dali e Max Ernst são os mais citados, mas eu gostaria de lembrar as telas do belga René Magritte, que também gosto muito.
Um abraço!

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