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sábado, 7 de novembro de 2015

O JAPÃO E O RESPEITO AO PRÓXIMO




Subir os impressionantes 600m da Tokyu Skytree, em Tóquio, no Japão, é uma experiência necessária para quem quer ter uma visão geral do que é o maior aglomerado urbano do mundo. É um lugar muito limpo, muito organizado, muito seguro e muito eficiente. Quando pensamos em eficiência, logo lembramos que o Japão tem uma das maiores redes ferroviárias do planeta. Japonês adora trem, reconhece sua rapidez e comodidade e, por isso, tem o país inteiro servido pela Japan Railways. Com um ticket válido por dias ou semanas, é possível cruzar o país como um todo e ainda girar no sistema ferroviário de sua maior cidade.



A eficiência japonesa está em tudo. No mercado de peixes, em Ginza, bairro mais luxuoso de Tóquio, o que deveria ter mau odor ou demarcar falta de higiene não salta aos olhos porque não existe. O aspecto é rústico, porém altamente tecnológico. Aliás, isso está em muita coisa no Japão. Casas de chá convivem com karaokês hightech. Ônibus milimetricamente sincronizados e confortáveis são conduzidos por motoristas que agradecem a cada passageiro pelo uso no momento do desembarque. Máquinas em cada esquina servem bebidas frias e quentes, e são conservadas intactas pela população. Os carros nas ruas não se aglomeram em trânsito - japoneses preferem transporte público. As estações centrais de trem são os endereços mais valorizados das cidades. E as calçadas são limpas e suaves.

As bicicletas convivem com os carros. Nas ruas, lado a lado. Não se ouve uma buzina, não se agride ninguém. Então, quando vemos o sistema de transporte eletrônico e eficiente, as privadas hightech, a educação nos serviços que dispensam qualquer centavo de gorjeta, pensamos: o Japão é uma experiência de futuro pela infra-estrutura que oferece?

Não, o Japão não é civilizado e sofisticado por causa da engenharia de suas cidades, da eficiência de seus transporte, da tecnologia de suas máquinas e do dinheiro em seus bancos. O Japão se destaca pela consciência do outro. Ela existe lá de forma maior que em qualquer país que já conheci - foram mais de 50. E é gritante essa distância do resto das civilizações.



Pelas ruas de Tóquio, pessoas comuns estacionam suas bicicletas e sobem os arranha-céus rumo ao trabalho. Não as prendem com cadeados. Nas cestinhas presas ao guidão, deixam suas lancheiras, suas capas de chuva e outros itens que não querem levar para o escritório. Ninguém toca em nada. O vento bate, algumas bicicletas caem. Por lá ficam. Não se encosta no que é do outro. Se você tem dúvida sobre o seu trajeto, entrega seu celular nas mãos de um cidadão japonês - ou ele te oferece o aparelho dele - para traduzir a sua dúvida e mapear a sua rota. Debaixo das cerejeiras, todos querem fazer piquenique. A civilidade local diz que duas horas por grupo é um tempo adequado para desfrutar. Os grupos que sentam e esticam sua toalhinha, colocam uma plaquinha ao lado para dizer a que horas chegaram e dão a entender que dali a duas horas o local estará disponível para o próximo da fila.



Então o Japão é melhor que qualquer lugar do mundo? Não. O Japão é interessante sim pelo fato de a consciência do outro ser algo que dinheiro nenhum traz de forma rápida a qualquer cultura. Não adianta mudar governos, investir em infra, aumentar a arrecadação, acumular moedas se o que mais distingue um país do outro é a capacidade de sua gente de conviver com a diferença. Isso é ensinado desde muito cedo entre os japoneses. Disciplina, consciência do outro, respeito ao bem público, respeito ao próximo. Talvez seja algo até um pouco duro para se introjetar desde cedo na cabeça de uma criança. Deve ser por isso, também, que a infância japonesa acompanha a vida adulta durante muito tempo - os mascotes estão em tudo, tentando divertir e dar cor a tanta polidez.

Hoje, é possível dizer sim que Japão nos mostra o bem-estar que traz respeitar e a ser civilizado em grupo, isso é fato. Mas também é preciso observar que, se não há espaço nenhum para qualquer escorregão, o preço a pagar pela honra. pela retidão e pela polidez pode ser muito alto. É por isso que, eventualmente, só uma coisa atrapalha a eficiência do metrô de Tóquio: suas interrupções por pessoas que se jogam contra os trens a fim de dar cabo da vida.



© obvious

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