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segunda-feira, 9 de julho de 2012

SEPARAÇÃO


Desmontar a casa e o amor. 



Despregar os sentimentos das paredes e lençóis.

Recolher as cortinas após a tempestade das conversas.

O amor não resistiu às balas, pragas, flores

e corpos de intermeio.

Empilhar livros, quadros, discos e remorsos.

Esperar o infernal juízo final do desamor.

Vizinhos se assustam de manhã

ante os destroços junto à porta:

- pareciam se amar tanto!

Houve um tempo:

uma casa de campo,

fotos em Veneza,

um tempo em que sorridente

o amor aglutinava festas e jantares.

Amou-se um certo modo 

de despir-se

de pentear-se.

Amou-se um sorriso

e um certo modo de botar a mesa. 

Amou-se um certo modo de amar.

No entanto, o amor bate em retirada

com suas roupas amassadas, tropas de insultos

malas desesperadas, soluços embargados.

Faltou amor no amor?

Gastou-se o amor no amor?

Fartou-se o amor?

No quarto dos filhos

outra derrota à vista:

bonecos e brinquedos pendem

numa colagem de afetos natimortos.

O amor ruiu e tem pressa de ir embora

envergonhado.

Erguerá outra casa, o amor?

Escolherá objetos, morará na praia?

Viajará na neve e na neblina?

Tonto, perplexo, sem rumo

um corpo sai porta afora

com pedaços de passado na cabeça

e um impreciso futuro.

No peito o coração pesa

mais que uma mala de chumbo.


Affonso Romano de Sant'Anna

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