Falar sobre Peter Gabriel é algo até fácil, ainda mais para fãs como eu deste incrível artista, quanto mais surpreendente é falar sobre o ineditismo de seu trabalho. Sons, visuais... influências.
Desde os tempos de Genesis vem adicionando algo importante ao showbiz. Aliás, essa palavra talvez seja injusta com o artista, que de fato fez questão de fugir do mainstream, deixando a banda no auge de seu estrelato até então, logo após a tour do exitoso “The Lamb Lies Down On Broadway”, em 1974.
Banks, Collins, Gabriel, Rutherford e Hackett: a formação clássica do Genesis
Ouvi de muitos após sua saída do Genesis, que Phil Collins teria "a mesma voz de Gabriel", que o conjunto não seria afetado. Tentava explicar que era uma impressão rasa, pois as vozes eram muito diferentes e na verdade, complementares na banda, bastaria ouvir as poucas canções onde Collins era o solista. Aliás, numa célebre entrevista, Gabriel certa vez disse a Collins, "você canta Supper's Ready melhor do que eu, mas jamais a cantará com meu 'understanding' dela". Dois excelentes cantores, mas apenas nesse caso, discordo de Gabriel... "Supper's Ready" sem ele não é a mesma música!
"I Know What I Like", o primeiro hit, e a emblemática "Supper's Ready": temas filosóficos...
Muitos se lembram naturalmente do excelente David Bowie, tão propalado e conhecido como “camaleão do rock”, embora Peter Gabriel tenha ajudado muito mais ao Genesis, com extrema originalidade, a sair de certo 'ostracismo' em termos de mídia, ante a uma geração profícua de grandes bandas como Yes, King Crimson, EL&P, Pink Floyd e tantas outros fantásticos sons que permeavam os anos 1970. Tenho até uma teoria, onde encontro evidências de que muito antes dos Secos&Molhados, e portanto antes também do Kiss, Peter Gabriel foi o verdadeiro influenciador visual do efervescente e genial grupo brasileiro.
"A flower", "Watcher of the Skies", "Slippermen", a criatividade e o incômodo na banda
Com suas máscaras e fantasias, interpretações viscerais de seus personagens em letras compostas por ele em grande parte [atingindo o ápice em “The Lamb”, quando escreveu todas as letras], deu uma ênfase original e incisiva à fantástica banda que era o Genesis. Porém, isso gerou evidentes crises egóicas entre alguns de seus integrantes, quando a mídia que tanto buscavam passou talvez a “centrar demais” a atenção naquele alto vocalista, com interpretações teatrais inusitadas e instigantes.
Ao som da flauta transversal, suas aspirações ambicionavam voo próprio: o adeus de Gabriel
Através da música buscou os rumos de seu próprio interior, e por isso deixou orfãos os fãs do Genesis como eu... O Genesis aos poucos foi buscando novos e também exitosos caminhos, afinal não ficamos tão orfãos assim. Mas, e Peter Gabriel?
A busca é e será sempre algo pessoal... the light ups!
Pouco a pouco, foi se redescobrindo interiormente através do divã de sua música, a partir de temas mais introspectivos e reais, menos fantasiosos e lendários que nos tempos de Genesis, e desenvolvendo sons e ritmos próprios. Muito antes de Paul Simon, com o decantado “Graceland” de 1986, Peter Gabriel desde 1980 com seu 3º álbum passa a beber na fonte dos sons africanos, revela ao mundo a opressão étnica na África do Sul antes de qualquer outro, revela ao mundo Stephen Biko, mártir pela libertação de seu país da opressão branca. Daí, o mundo passa então a conhecer Nelson Mandela...
A sutilização de sua música vem junto com a crescente consciência política
Seu quarto trabalho solo, conhecido como “Security” nos EUA é simplesmente primoroso, gutural, essencial... canta como um “anjo torturado”, segundo palavras do jornalista Pepe Escobar à época do então LP. Já antes havia pioneiramente desenvolvido o “dry beat”, onde os pratos na bateria e percussão são praticamente esquecidos, tendência que passa a ser seguida por muitos do rock e pop mundial. Explode mundialmente com “So”, onde sua originalidade flerta com um apelo mais pop, o que para mim soa quase como uma heresia classificá-lo dessa forma, pois a qualidade é indiscutível até hoje. E tantos trabalhos vieram depois, “Us”, “Up”...
A maturidade pessoal pode ser buscada de diversas formas. Peter Gabriel buscou a sua nos presenteando com sua preciosa e maravilhosa música
Leia mais: http://lounge.obviousmag.org/arquitexturas_musicais_e_a_vida/2012/10/peter-gabriel-a-busca-de-si-mesmo-atraves-da-musica.html#ixzz28bqilPKf
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