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terça-feira, 17 de julho de 2012

A explosão no mármore: a escultura de Michelângelo e Rodin


No século XVI, Michelangelo já era um dos maiores mestres da escultura. Era ela sua verdadeira paixão, aquela que comandava seu espírito tempestivo, segundo o biografo Tiberio Calcagni: “a sua arte era a escultura; as outras, faz e fez para comprazer os príncipes.” Sua importância foi tamanha que apenas mais de 300 depois outro artista, inspirado por ele, foi tão marcante: Rodin.
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© Michelangelo, "Pietá" (Wikicommons, Stanislav Traykov).
Michelangelo (1475-1564) foi pintor, arquiteto, poeta e escultor. Sua produção na Capela Sistina foi um dos marcos do Renascimento, suas figuras masculinas são o símbolo supremo da perfeição dos corpos fortes, belos e majestosos. Nelas ele demonstra um profundo conhecimento em anatomia.
Apesar de a Capela Sistina ser o símbolo de todas suas obras, o grande prazer artístico de Michelangelo era escultura. Sua reputação cresceu com a expressiva Pietá (c.1498-1499). Graças a essa obra, o artista foi chamado para terminar um projeto inacabada: Davi (1501-1504), a majestosa escultura em mármore do jovem nu preparando-se para a batalha com Golias. É aqui que Michelangelo demostra seu alto conhecimento em anatomia e sua sensibilidade artística, sendo capaz de dialogar as duas vertentes em um obra de extrema emotividade.
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© Michelangelo, "David" (imagem da esquerda)(Wikicommons, Rico Heil).© Michelangelo, "Moisés" (imagem da direita)(Wikicommons, Scalleja).
Desde cerca de 1513 até 1530 Michelangelo realizou quatro esculturas para o túmulo do papa Júlio II – juntamente com a figura de Moisés (1513-1516). O conjunto ficou conhecido como “Os escravos” e hoje pertencem à Galeria da Academia de Belas Artes de Florença.
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© Michelangelo, "Escravos" (Wikicommons).
Nessa obra, o corpo de um jovem homem aparece surgindo do mármore ainda rústico. As partes de seu corpo delineado parecem estar explodindo da pedra nobre. Porém nem todas as partes encontram-se expostas: o jovem ainda está como que por nascer da pedra. Suas mãos e pés ainda estão presos, como um escravo preso por correntes impedido de movimentar-se.
Em sua face há algum delineamento de traços, assim como alguma expressão de lábios. Seu corpo apresenta formas definidas, músculos estirados. Michelangelo explorou o movimento do corpo humano até suas últimas consequências. Em todos os ângulos existe a visibilidade da obra, ou seja, ela exige um observador que dialogue com seus múltiplos pontos de vista.
Mesmo inacabados, os corpos torturados dos escravos demonstram a grandiosidade e a dramaticidade da produção do artista. Esse era o sentido da escultura de Michelangelo: a obra já estava na pedra, ele apenas retirava o excesso e deixava a forma fluir.Sua ideia era libertar a forma que parecia estar dormindo no mármore. As modificações profundas na escultura realizadas por Michelangelo no final do Renascimento só foram revistas, como ponto de partida de estudos, com Rodin (1840-1917), no fim do século XIX.
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© Michelangelo, "Escravo Moribundo" (imagem da esquerda)(Wikicommons, Dada).© Michelangelo, "Pietá de Florença" (imagem da esquerda)(Wikicommons, Dada).
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© Michelangelo, "Pietá Rondanini - última obra de Michelangelo" (Wikicommons, Paolo da Reggio).
Auguste Rodin (1840-1917) foi um dos maiores escultures da história da arte. Estudioso da escultura clássica, Rodin tem como mestre Michelangelo. Ele recriou o ser humano em uma perspectiva hiper-realista, elevando as tensões dos corpos ao extremo. Pele, músculo, feições faciais, são únicas e extremamente pensadas em cada uma de suas esculturas de personagens sedutores e incrivelmente vivos.
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© Rodin, "Je Suis Belle" (Wikicommons, Mary Harrsch).
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© Rodin, "O Pensador" (Wikicommons, Andrew Horn).
Sua Andrômeda pode ser considerada uma obra herdeira do artista italiano. Na parte inferior vemos a pedra bruta, na parte superior surge um corpo com formas femininas delineadas. Rodin não gostava de dar acabamento em suas obras - sua ideia era deixar um ar de incompletude para que o próprio expectador terminasse a obra em sua mente. Andrômeda possui uma sensualidade suave, assim como o escravo de Michelangelo. Os longos cabelos fundem-se com o bloco de mármore, deixando imperceptível onde começa um e termina o outro.
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© Rodin, "Andrómeda" (Wikicommons, Rebecca Marks).
Para realmente ver Andrômeda faz-se necessário observar a obra em todos os seus ângulos. Seu corpo está em movimento, retraído como se estivesse levantando-se, surgindo do mármore. Seus músculos ressaltados, seu corpo sinuoso, a dualidade da forma delicadamente definida e da indefinição bruta fazem parte dela. Andrômeda explode da pedra de maneira até mais violenta que O Escravo. Contudo, ao mesmo tempo, Andrômeda encontra-se presa à pedra, como a personagem mitológica que a inspirou. Assim como Michelangelo, Rodin joga com o nome de sua escultura.
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© Rodin, "A Mão de Deus ou a Criação" (Wikicommons, Wally Gobetz).
Rodin não buscava tirar a vida do mármore como Michelangelo, mas criá-la com suas próprias mãos. Entretanto, ambos exploraram o mármore de maneira única na escultura, criando vida e movimento. Forçaram a figura, a sua exaustão da forma, a sinuosidade e volumes dos corpos exacerbados, para criar sensações no observador.

Os trabalhos de Michelangelo e Rodin são impares na arte da escultura. São exemplos da compreensão total do corpo humano e da própria arte. A beleza de suas obras não estava na simples cópia, mas na dramática perfeição que elevava ao extremo o corpo humano, e na incompletude poética de cada objeto.
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© Rodin, "O Beijo" (Wikicommons).
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© Rodin, "Eternal Springtime" (Wikicommons, Phiend).


Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/07/a_explosao_no_marmore_os_dialogos_ente_rodin_e_michelangelo.html#ixzz20uxGJhTw

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