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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Fotógrafo esloveno naturalizado francês, Evgen Bavcar perdeu a visão aos 12 anos após dois acidentes consecutivos.

Estudou História na Universidade de Liubliana e cursou Filosofia na Sorbonne. Em Paris, iniciou sua carreira acadêmica e intensificou sua atividade fotográfica.
Antes de clicar, Bavcar tenta captar ao máximo a imagem que está sendo construída. Ele consegue através das mãos, marcar a distancia entre o objeto e a câmara. Para fazer retratos, eleva a câmara na altura dos rostos, guiados pelas vozes das pessoas. Como não pode ver, ele apela para outros sentidos. “Eu fotografo contra o vento”, diz ele.
Fotografar contra o vento, segundo o filósofo e crítico de arte, Nelson Brissac, significa que o vento indique para ele onde as coisas estão e qual o perfil que elas têm. O vento traz o cheiro que as coisas têm, o ruído ambiente que emitem. “Ao fazer apelo a outros sentidos, ele desloca a posição central que a nossa cultura, tradicionalmente, institui como posição central na percepção que é a ótica”, afirma Brissac.


Em entrevista à jornalista Lucrecia Zappi:
Se o senhor não vê, como enfrenta a distância que o separa da imagem das coisas?
Evgen Bavcar: Narciso morreu afogado porque não compreendeu que entre ele e a imagem existe a água. Eu sei que entre eu e a imagem há o mundo, há a palavra dos outros, uma grande distância. Entre as imagens reais que tenho. Há uma distância intransponínel de 40 anos de minhas recordações da Eslovênia. Não há perigo de morrer dessas imagens, porque não sou tonto como Narciso. Sou Narciso sem o espelho. Para mim, as imagens existem também através do olhar dos outros, que me falam, que me trazem, que me permitem ver.


O senhor tem então uma relação fundamentalmente verbal com o seu trabalho?
Bavcar: Claro, a palavra é uma parte da imagem. Tem a parte da palavra da imagem que é a parte da noite, do conto, da rapsódia grega que conta as coisas, e há a parte da imagem, que é a luz. Por exemplo, Deus antes de fazer a luz vivia muito solitário nas trevas, mas havia a palavra. Depois com a luz tinha também a imagem, que é a primeira imagem de Deus. O primeiro ícone de Deus é a luz. São Paulo, por exemplo, diz que nós vemos Deus através de um espelho, de uma imagem, mas na eternidade estaremos face a face. E estar face a face significa um outro registro das percepções.


O senhor também se encontra face a face com a memória?
Bavcar: Eu estou verdadeiramente face a face com as imagens da minha infância e posso falar dessas imagens com as pessoas da minha cidade, mas não das mesmas imagens, por pertencerem a uma memória muito pessoal. É uma memória da transcendência e imanência do meu corpo. Se outra pessoa me descreve uma foto, esta foto está em transcendência através do olhar do outro. Se eu fotografo uma pessoa, eu não verei nenhuma vez essa foto diretamente, e isso significa que essa foto é de uma trancendência inacessível, porque não é profanada com o meu olhar. Pode vir a ser profanada com o olhar dos outros, mas não com o meu olhar. Compreende isto? Sempre no invisível, sem o olhar físico. Com o terceiro olho eu vejo, mas não com estes olhos.


Por que o senhor fotografa quase sempre à noite?
Bavcar: Prefiro a noite porque o parâmetro noite é seguro para mim (risos). Posso controlar melhor a luz à noite.


Como perdeu a visão?
Bavcar: Aos 12 anos, com um acidente perdi meu olho esquerdo. Um ano depois, com um detonador de minas, perdi o direito. Conhecia muito bem os fuzis, todas as armas, mas não detonadores de minas. Graças a Deus eu estava sozinho.


Ficou cego instantaneamente? Vê ainda alguma coisa? Vultos?
Bavcar: A cegueira chega pouco a pouco. Foi um adeus longo, de oito meses. Tive tempo de por em minhas caixas de recordação muitas coisas. Oito meses é pouco e é muito. É importante dizer adeus. É como abandonar uma mulher bonita numa estação de trem. O trem que vai para um túnel, onde, no fundo, há uma pequena luz. Essa luz é a do espírito, da interioridade. Esta é uma experiência muito pessoal que agora revivo por causa do meu trabalho com cores.


O senhor tem memória das cores?
Bavcar: A cor chega de longe. Sim, todas. Tenho uma palheta das cores da minha terra natal. Do que vi na minha infância. Faço um sistema de referências com essas cores. Posso associá-las a outras descrições. Por exemplo: é verde como a erva ao lado do rio durante a primavera, é castanho como o objeto da minha infância, é branco e cinza como uma determinada pedra que me lembro. Ou seja, minha palheta de cores das percepções das coisas da Eslovênia. Com esta palheta eu posso colorir todo o mundo.


O senhor sonha em cores?
Bavcar: Quase sempre em cores, às vezes em monocromos.
Como é viver em Paris?


Bavcar: Paris é uma cidade que cansa muito, mas é cosmopolita, o que é bom. Não é fácil viver em Paris porque é muito fria como cidade e as pessoas podem ser individualistas. Não é como antes, com os grandes tempos do surrealismo ou do existencialismo, mas é uma cidade de contatos. Eu sou naturalizado francês e uma coisa que eu gosto muito é o respeito pela cultura. Esta é grande qualidade da França.


O senhor, para falar de sua obra, cita Narciso, e carrega um espelho em forma de broche no peito. Por quê?
Bavcar: Muitas mulheres me perguntam com o olhar em silêncio: "Estou bonita, não estou bonita?". Eu não posso responder rapidamente como os outros, com um gesto, com uma ação. Para não deixá-las frustradas, carrego este espelho (risos).


                      Algumas de suas fotografias 






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