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quarta-feira, 8 de junho de 2011

"EU NÃO FALO, EU PINTO."






Esta era a única frase que Alfredo Volpi proferia quando lhe pediam para falar sobre seu trabalho. Artista que inicia sua carreira em pleno desenvolvimento do modernismo, cuja arte é verbalizada e discutida em manifestos e movimentos de vanguarda, sua obra silencia e emerge vigoroza, colacando-se à parte dos debates daquele momento. Sua origem italiana revela uma visualidade atávica, que o impele a trabalhar incansavelmente, mesmo estando fora das academias e do profissionalismo das artes. 

Num processo de constante evolução, Volpi vai passando de uma pintura singela e figurativa, para uma arte geométrica e construtiva. Atento ao mundo em que vivia, Volpi percebe a chegada e a onipresença da abstração nas exposições de arte nos meados do século XX, e, em meio às pesquisas da época onde as correntes geométricas ganham força, o artista passa a pintar bandeirinhas. Sua pintura não só dialoga com os movimentos construtivistas de sua época, como produz inovações, apesar das muitas pesquisas formais do construtivismo, a forma das bandeirinhas ainda era inédita na pintura abstrata. Uma arte de vanguarda que as pessoas comuns entendem, uma vez que as bandeirinhas são o principal “enfeite”das festas populares brasileiras, uma visualidade das periferias, das expressões genuínas do povo. 

Mas não só: a forma das bandeiras tem uma geometria complexa, quadrado somado a dois triângulos, em construções que acabam por se tornar um signo de identidade de sua obra. Além disso, a técnica que passa a empregar, em substituição à tinta à óleo, é a têmpera à base de ovo. Uma tinta ancestral, e portanto em diálogo com os primeiros pintores do pré-renascimento italiano. Daí sua grandeza, daí sua pureza, daí sua originalidade, daí a não necessidade de falar. Pois pintura é para ser olhada, não é?

Graças a um capricho do destino este imigrante italiano veio morar no Brasil, o que faz de nossa arte e cultura melhores, pois Volpi faz pintura, de vanguarda e tradicional, brasileira e universal.


Evandro Carlos Nicolau


Fonte: MAC - Exposições

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