Em busca da "paranoia crítica"
Salvador Dalí definiu seu processo criativo como "crítico-paranoico". Tal método consistiria em permitir-se um estado mental semelhante ao da paranoia clínica, no qual a vontade e a razão eram suspensas temporariamente, de modo deliberado pelo artista. Dalí empregava uma técnica apurada, de grande virtuosismo, mas a serviço de um simbolismo alucinado, proveniente do mundo dos sonhos e do inconsciente.
Com seu comportamento extravagante, Salvador Dalí tornou-se o mais célebre dos representantes do movimento surrealista, vanguarda estética surgida na França no período entre-guerras. Os surrealistas defendiam o chamado "automatismo", o fluxo livre de associações de ideias, ditadas diretamente do inconsciente, sem qualquer tipo de controle racional ou censura moral.
O surrealismo representava a face positiva do dadaísmo, movimento iconoclasta fundado em 1915 por um grupo de jovens artistas, entre os quais despontava a figura do escritor romeno Tristán Tzara. Assim como os surrealistas, os dadaístas também valorizavam o não-racional e o absurdo. Mas, em seus manifestos, prevalecia a ironia e o niilismo radical. Para o dadaísmo, tratava-se de implodir, pelo escândalo e pelo gracejo, o próprio conceito de arte.
O poeta André Breton, principal líder e teórico do surrealismo, pregava a necessidade de resolver, de forma positiva, a contradição entre sonho e realidade, entre imaginação e consciência. Buscava, assim, alcançar uma suposta nova dimensão, a suprarrealidade.
As diferenças de concepção entre os adeptos do movimento surrealista – além das discordâncias de natureza política – acabaram antagonizando muitos de seus principais membros, inclusive André Breton e Salvador Dalí. "A diferença entre os surrealistas e eu é que, na verdade, eu sou surrealista", sentenciava o sempre provocativo Dalí.
Fonte: Folha
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