RIO - Endereço que reúne alguns dos imóveis mais caros do Rio de Janeiro, a Avenida Vieira Souto, em Ipanema, Zona Sul da cidade, se transforma em um grande palco da festa popular nesta época de carnaval. Espremidos entre os prédios com apartamentos luxuosos e a areia da praia, milhares de foliões acompanham a tradicional Banda de Ipanema, que este ano completa 47 anos.
O repertório do bloco, que tem três grandes desfiles, sendo hoje o mais disputado, vai além dos sambas e das marchinhas. Inclui frevos, maxixes, clássicos da Música Popular Brasileira (MPB) e até música erudita. De acordo com o presidente da agremiação, Cláudio Pinheiro, todos eles ganham arranjos especiais para não sair do clima e cumprir o objetivo de animar a multidão.
“Procuramos atualizar sempre nosso repertório, mas não deixamos de transformar em carnavalescas algumas músicas que, na sua origem, não faziam parte do ritmo, mas que o próprio povo muda. Exemplos disso são Carinhoso [de Pixinguinha] e Aquarela do Brasil [de Ary Barroso], que viraram músicas de carnaval para nós e são reclamadas pelo povo para que toquemos durante o desfile”, afirmou.
Segundo Pinheiro, desde 1965, quando a banda saiu pela primeira vez, muita coisa mudou. Inicialmente a ideia era que a folia tivesse um ar de carnaval antigo, somado a um toque de irreverência, com críticas sutis à ditadura militar. O clima de brincadeira, diversão e respeito à diversidade, no entanto, sempre esteve presente no bloco. Na multidão, crianças, jovens, idosos, homens e mulheres de todas as idades e orientações sexuais misturam-se em um harmonioso conjunto.
O presidente também se orgulha de lembrar que a Banda de Ipanema teve papel fundamental na retomada do carnaval de rua na cidade. “Quando a Banda de Ipanema surgiu, o que se observava nas ruas cariocas era um grande deserto de música. Era uma década em que as escolas de samba já cresciam muito entre a classe média, carreando um grande público em seus desfiles, e sobravam apenas blocos tradicionais, marcadamente nos subúrbios. Na Zona Sul não tinha nada. Nós saímos às ruas e ela cumpriu o seu papel de catalisadora, impulsionadora do carnaval de rua”, disse.
Outro símbolo da irreverência típica da banda está em seu estandarte, que traz a inscrição “Yolhesman Crisbelles”. Durante a ditadura militar, o slogan intrigava a censura. As palavras de sonoridade esquisita, no entanto, não têm qualquer significado.
Este ano, a banda homenageia os centenários de nascimento de Assis Valente, José Maria de Abreu, Mario Lago, Nelson Cavaquinho, Pedro Caetano, Peterpan e Sinval Silva, todos mestres da música brasileira. A camiseta oficial contou com os traços dos irmãos Chico e Paulo Caruso, que são os padrinhos em 2011.
Fonte: Jornal do Brasil online.
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