(Imagem: Releitura de meus alunos em fotografia da obra de Portinari.)
“Todo o esforço de perfeição é digno de ser aclamado. Atacar um homem pelo que ele foi no passado é ou um disparate, ou uma malvadez. Ser-se hoje diferente do que se foi ontem não humilha ninguém; agora ter a certeza do que o amanhã nos há-de encontrar com tanta servidão, com tanta baixeza como o dia de hoje é que é uma enorme humilhação.¶ Portugal só se salvará quando os portugueses, que hoje querem ser sempre os mesmos, tiverem o bom senso de querer ser diferentes. Eu, por mim, comprometo-me a ‘saber mudar’ – isto é, a viver cada vez de uma vida mais intensa, mais nobre e mais activa. ¶ Ó homens! Deixai esse orgulho vão, essa imbecil vaidade! Eu digo-vos: no fundo do mais santo de vós, há muita baixeza e muita podridão. Há alguma coisa acima do vosso eu de hoje: trabalhai, avançai para o eu de amanhã. Lançai a vista pelos vastos espaços, fazei esforços para o mais sublime, cortai o mar imenso que nos separa do Porvir... Aquele que se lançar à água para nadar para as paragens distantes, não é um suicida que aceita a Morte, mas um navegante intrépido em busca de mais vida. ¶ Ó homens, querede o mais alto, o mais longínquo, o mais diferente de vós! Vêde, é tão extenso o caminho, o mundo abre diante de nós actividades tão vastas, o futuro será tão diverso do presente – nós temos de mudar tanto!”
Raul Proença, “A Coerência”, Revista Alma Nacional, Abril de 1910
“Há mais real grandeza numa alma que se abre, que se alarga, que se aprofunda, do que nas alminhas satisfeitas que se contentam. Todo o valor da vida está em se sentir em movimento: em ter consciência da sua dinâmica. ¶ Mudar? Transformar?
Revolucionar? É amargo, direis vós? Mas vêde – isto é que é viver, e tudo o mais é morte na Verdade, morte no Erro, morte no definitivo Verdadeiro ou no definitivo Engano. O mundo oferece-nos, ostenta-nos adiante dos olhos, como útero criador de onde mil existências nascem, riquezas sempre novas, fontes inexauríveis de prodígios, e o futuro é cheio de milagres”.
Raul Proença, "Tolerância", Alma Nacional, 1910
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