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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Rio de Janeiro, por Cristiano Mascaro


Não há como não gostar, admirar e até mesmo invejar o Rio de Janeiro. O deslumbre já começa quando o avião se aproxima do Santos Dumont – e azar de quem escolheu mal a janela e ficou olhando para o lado errado. Enquanto perdemos altura, desfilam diante de nossos olhos praias e montanhas mais belas do que as de qualquer outra cidade do mundo. Leblon, Ipanema, Arpoador, Copacabana, Pão de Açúcar, Corcovado e por aí vai. Dá para competir? Mas o Rio não se resume à sua beleza natural. A cidade herdou, como capital do Império e da República, inúmeros monumentos, igrejas, palácios e diversos outros edifícios, todos preciosos, testemunhas da riqueza de nossa arquitetura nos últimos séculos. Além disto, a cidade também mira o futuro. Arquitetos brasileiros e estrangeiros já traçaram novos projetos para o Rio, que se movimenta e se agita com a proximidade da Copa e dos Jogos Olímpicos. Espero, evidentemente, fotografar todos eles.


Corcovado (2007)

Já havia fotografado, em várias oportunidades, o Cristo Redentor, talvez o mais celebrado monumento carioca. Desta vez, no entanto, imaginei fazer diferente. O céu de um azul puríssimo e o brilho da luz refletida no piso me atraíram, e decidi registrar a paisagem distante, quase imperceptível, e o desenho da passarela em torno da enorme estátua de nosso senhor Jesus Cristo. Era muito cedo, a luz nessas horas é suave, e fui o primeiro a chegar antes da multidão de turistas que vai até lá para reverenciar o Filho de Deus.

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Real Gabinete Português de Leitura (1996)

Pela sonoridade, o nome desta biblioteca já desperta enorme curiosidade. No entanto, antes de passarmos por seu vestíbulo e avançarmos até o salão principal do edifício, não podemos imaginar o que nos espera. Assim aconteceu comigo quando fui ao Rio de Janeiro fotografar para uma reportagem sobre os centros das grandes cidades brasileiras. Inebriado pelo que via, pasmo diante de tantos livros, não resisti ao flagrante de um funcionário buscando talvez um exemplar de Os Lusíadas, a pedido de um leitor voraz. Para os interessados, o Real Gabinete fica no centro do Rio, não por acaso, na rua Luís de Camões.

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Palácio Gustavo Capanema (1986)

Aí está o melhor exemplo de arquitetura modernista já visto. A ideia de se construir edifícios apoiados sobre pilotis não só proporcionou leveza às construções, mas também permitiu que a luz e a brisa penetrassem pelos espaços abertos, criando verdadeiras praças no meio dos quarteirões. O MEC – Ministério da Educação e Cultura, como foi batizado originalmente, é um projeto criado por Le Corbusier, Lucio Costa e Oscar Niemeyer, entre outros, em 1936. Sempre digo que, mesmo não se tratando de um templo religioso, ele merece que nos ajoelhemos diante de sua beleza, em reverência a seus autores.

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Jardim Botânico (2007)

Graças a d. João VI, que plantou a primeira muda dessas palmeiras-imperiais, hoje podemos ter o privilégio de caminhar por esta aleia única, quase tropeçando em suas sombras longas, antes de chegar ao Chafariz Central, sempre iluminado por algum raio de sol que passa entre as árvores. Além da tranquilidade proporcionada por um passeio pelas suas alamedas ou pela leitura de um livro sob a sombra de um jacarandá, o Jardim Botânico oferece outras atrações para quem o visita, como diversos monumentos e inúmeras espécies de plantas – incluindo-se aí as carnívoras. É um lugar onde nunca deixo de ir quando estou na cidade.

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Praia do Leme (1988)

Havia acabado de chegar ao Rio e fui direto ao hotel. Era fim de tarde. Da janela, dei uma espiada na praia e me deparei com esta cena singular. A textura da areia, criada pelo vai e vem dos banhistas e pela chuva que havia caído horas antes, e as sombras longas provocadas pelo sol já bem inclinado, compunham uma cena típica da vida carioca. Pensando nesta imagem, que nunca se repetiu – é sempre assim... –, sempre que volto ao Rio, procuro um hotel no Leme. Um canto de praia tranquilo onde viveram Ary Barroso e Clarice Lispector, o que lhe confere uma importância única.

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Morros Dois Irmãos (1986)

Quando ouvia dizer que, do Arpoador, as pessoas batem palmas para o sol no momento em que ele se põe atrás dos morros Dois Irmãos, achava um exagero. Deixei de achar quando, em um fim de tarde, passando de carro por lá, antevi esta cena que estava prestes a acontecer. Nem sei bem onde estacionei, corri para a praia um tanto envergonhado – estava de calça e sapato –, escalei a pedra que me proporcionaria o melhor ponto de vista e, sorte minha, as nuvens se posicionaram de tal forma naquele momento que raios de sol divinos surgiram no céu. Dignos de aplausos e até de um bis.

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Arcos da Lapa (1996)

Caminhar pelo bairro da Lapa nos faz relembrar histórias da vida boêmia do Rio. Afinal, passaram por lá personagens ligados à música e à malandragem carioca. E, por ali, não há como evitarmos uma surpresa ao avistarmos os Arcos da Lapa – construção imponente, de nome Aqueduto da Carioca, inaugurado em 1750 para abastecer a cidade de água. Já o fotografei inúmeras vezes e ele nunca perde a majestade. Aí o vemos imaculado, refletindo intensamente a luz do sol.

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Biblioteca Nacional (1995)

Bibliotecas são sempre cenários impressionantes. Acho que foi a partir desta fotografia, feita quando olhava para o alto e me surpreendi com o que via, que jamais deixei de torcer o pescoço, para me certificar do que poderia vislumbrar daquele ângulo. Fui aperfeiçoando o processo para torná-lo menos doloroso, a ponto de deitar-me no chão – mesmo que os passantes pensem que há um fotógrafo desmaiado na sala.

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Zona Norte (1988)

O dia era chuvoso, mas fotógrafo não deve se fiar em previsão do tempo. Resolvi subir para Santa Teresa equilibrando os pneus sobre os trilhos da Almirante Alexandrino, um divertimento raro nas cidades que aboliram os bondes. No alto do bairro, parei diante de um terreno baldio sem obstáculos para uma visão panorâmica e fiquei surpreso com o que vi. O sol reaparecia entre as nuvens, e iluminava os bairros do Rio Comprido e Estácio e as montanhas da Serra do Mar.

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Asa delta (1997)

Cheguei à Pedra Bonita numa tarde luminosa, disposto a voar. No entanto, na hora em que vi as pessoas bem mais saradas, corajosas e treinadas do que eu, virem correndo por uma rampa, pularem naquele vazio, e alçarem voo em direção ao mar, fingi que estava ali somente para fotografar. Não me arrependi. Fiz esta foto buscando um momento de luz que representasse a leveza do homem voando como um pássaro. Que até poderia ser eu...
Fonte: Casa Vogue.

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