Minha trajetória começa aos quatro anos quando meu pai levava-me para subir um morro que ficava em frente a minha casa para arrumarmos a antena da TV.
Era realmente uma grande diversão, recordo-me da terra vermelha, das lindas goiabas que conseguíamos comer no meio do caminho, dos atalhos cheios de Dormideiras e do cansaço ao arrumarmos a antena na posição exata.
Amava realizar este percurso, sentir a natureza de pertinho, ouvir o canto dos passarinhos em seus ninhos. Tudo era tão simples e belo como o sol amarelo.
Com o passar do tempo as antenas não precisavam ficar mais em morros, mas no telhado das casas, e a nossa subida ficou impregnada de mato acabando com nossa trilha. Devido a esta dificuldade meu pai resolveu nos levar para a pequena montanha onde ficava situada a estátua do "Cristo", lugar em que avistávamos toda a cidade. Lindo, fazíamos piquenique, jogávamos bola e corríamos muito. Como era bom viver daquele jeito!
Contudo as dificuldades da vida nos impediram de prosseguir com os nossos passeios, passado alguns anos precisávamos trabalhar intensamente para sobreviver e não havia tempo para o lazer.
Dentro do meu ser sempre existia a vontade de voltar num lugar bem alto para obter aquela visão que somente a altura nos fornece. Persegui a vontade de estar próxima às montanhas e sempre que podia visitava uma roça e subia na mais alta montanha que houvesse...
Quando fui absorvida pela música formamos um grupo e sempre nos reuníamos no Vale Verde, bem próximo a montanha sob a luz do luar, e com aquele clima voltei a amar.
Mas foi nas montanhas de Minas que encontrei o meu primeiro amor e também foi lá que o perdi.
Tendo que ultrapassar a "montanha" da dor persisti a caminhar e procurei montanhas que eram situadas ao lado do mar.
Que sensação maravilhosa apreciar o horizonte, e o infinito... Sentir-me livre sem asas e mesmo assim voar, abrir o braços e agradecer pela vida que jorra em mim.
Absorta de forças, voltei ao vale, lugar em que me encontro, cheio de bênçãos e de gigantes que norteiam meu ser. Aprendi que eles não são maiores que a visão das montanhas guardadas na memória do meu olhar, e que apesar de pequena e frágil eu continuo a peregrinar e a amar, sempre em busca das montanhas para que um dia eu possa nelas habitar.
Outono de 2012, Aline Carla Rodrigues.
Fonte das imagens: Google
2 comentários:
Aline, que bonito, os seus olhos falam enquanto escreve estas palavras. lembrou-me um programa que vi há dias na televisão portuguesa, em que Eduardo Lourenço voltava à sua terra natal perto da Guarda, uma vila não muito longe da Serra da Estrela , o ponto mais alto de Portugal.
A determinada altura do programa, no cimo de um planalto, espraiando o olhar sobre uma imensa planície disse de uma forma sonhadora, olhando o céu, o horizonte e o manto de tons verdes, quase infinito, "é como um mar em terra", e eu achei tão bonita a imagem.
Da mesma foram que achei belas estas impressões e memórias tão sentidas. gostei muito, Aline :)
Sua sensibilidade José fazem minha vida muito melhor. Somente um poeta poderia entender minhas memórias sentidas e compartilhá-las comigo mesma. De fato és um presente de Deus, e aqui fica todo o meu agradecimento por palavras que transformam meu ser. Excelente semana! Imenso abraço, Aline Carla.
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