Cândido Protinari, Cangaceiro., óleo sobre tela.
OS ARTISTAS DOS VESTIBULARES
Por Ana C. Dantas
Vira e mexe a ENEM, a FUVEST e outros exames de avaliação como esses, inserem em uma de suas questões um quadro de pintores como Tarsila do Amaral, Lasar Segall, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Cícero Dias e, entre outros, Cândido Portinari, para algum exercício de interpretação. A ideia é bastante louvável, considerando-se que as obras desses pintores são objetos da nossa cultura e dizem respeito a nossa vivência.
Cândido Portinari,
Meu Pai. óleo sobre tela. 1938. Coleção particular, RJ
No entanto, embora contemporâneo e amigo dos mencionados, um se difere: Cândido Portinari. Isso porque, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo os artistas se envolviam no movimento em prol do tardio modernismo brasileiro, que teve como marco a Semana da Arte de 1922, considerada o grande divisor de águas das nossas artes, o comportado Portinari seguia cursando as Escolas de Artes e Ofícios e de Belas-Artes, mantendo-se na pintura de retratos encomendados, “envolto em seu casulo, tomando conhecimento de tudo o que se passava [...], mas sem alterar seu rumo”, como diz Cecília Prada [1].
“Ele apresentaria realmente uma defasagem de dez anos em relação à vanguarda brasileira. Mas essa resistência parece ter sido muito mais estratégica do que autêntica. Basta lembrar que em 1923 seu quadro Baile na Roça foi recusado, por fugir dos padrões acadêmicos, pelo salão oficial da Escola de Belas-Artes. Como seu grande objetivo era obter uma bolsa para estudar na Europa, em 1928 o pintor levava ao salão um bonito, mas bem convencional retrato do amigo poeta Olegário Mariano. E via satisfeito seu intento” [2].
PORTINARI
Cândido Protinari, Auto-Retrato, óleo sobre tela.1957, Coleção particular, RJ.
Nono filho de um total de 11 irmãos em uma família de imigrantes italianos, aos nove anos de idade Portinari participou, como aprendiz, do restauro da igreja matriz de sua cidade natal, Brodowski, encarregado da pintura das estrelas no teto no interior de São Paulo.
Cândido Protinari, Futebol, óleo sobre tela, 1935, Coleção particular, RJ.
A primeira gravura fez a carvão aos 11 anos, era o retrato de Carlos Gomes cuja imagem vinha gravada em um maço de cigarros.
Desenho de Carlos Gomes feito a carvão em 1914.
Inscrições, na metade superior à direita, “LO SCHIAVO”,
“SALVADOR ROSA” e “MARIA TUDOR”; na metade inferior à esquerda,
“TOSCA”, “COLOMBO”, “CONDOR” e “GUARANY”; no centro da metade inferior,
“Carlos Gomes nascido 17 julho de 1836 e fallecido 16 setembro de 1896
Na capital, na década de 1930, participou da formação do grupo Santa Helena junto a Alfredo Volpi, Francisco Rebolo, Mário Zanini e outros.
Candido Portinari, Cana, 1938, Pintura mural a afresco,
salão de audiências do Palácio Gustavo Capanema, RJ.
Portinari viajou pela Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, França. Casou-se com a uruguaia Maria Martinelli, com quem teve João Cândido, seu único filho. Estudou os mestres italianos, os da Escola de Paris, os muralistas mexicanos.
Cândido Portinari,Banda de música, óleo sobre tela, 1956, col. particular, SP.
Conquistou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro da Exposição Geral de Belas-Artes em 1928. Em 1935 obteve a segunda Menção Honrosa na exposição internacional do Instituto Carnegie de Pittsburgh, Estados Unidos. A Universidade de Chicago publicou o primeiro livro sobre ele em 1940, His Life and Art. No ano seguinte executou quatro grandes murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington e, em 1943, a pedido de Assis Chateaubriand, fez os famosos murais da Rádio Tupi, no Rio de Janeiro.
Cândido Protinari, Fumo, 1938, Pintura mural a afresco. Palácio Gustavo Capanema, RJ
Em 1950, conquistou a Medalha de Ouro concedida pelo júri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia. Recebeu também a Medalha de Ouro concedida pelo International Fine Arts Council de Nova York, em 1955 e, em 56, foi convidado pelo governo de Israel para fazer uma visitar àquele país. De volta ao Brasil, recebeu, no mesmo ano, o Prêmio Guggenheim. Em 57, a Menção Honrosa veio do Concurso Internacional de Aquarelas do Hallmark Art Award e, em 58, expôs como convidado de honra, em sala especial, na I Bienal de Artes Plásticas da Cidade do México.
Cândido Protinari, A Fuga para o Egito, 1937, pintura mural a afresco,
Museu Casa de Portinari, Brodowski,SP.
Ele foi o único artista brasileiro a participar da exposição 50 Anos de Arte Moderna, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas. Expôs em Paris, Milão, Munique, Bruxelas, Israel, Bolonha, Lima, Buenos Aires, na Galeria Wildenstein de Nova Iorque, Tchecoslováquia e outros locais.
Cândido Portinari, Guerra, 1952, óleo sobre tela,
Ministério das Relações Exteriores, Brasília, D.F.
Portinari deixou mais de cinco mil obras. Entre elas, dois painéis homenageiam a iniciativa das Nações Unidas no edifício-sede, em Nova Iorque. Os privilegiados delegados da ONU são os únicos com freqüente acesso aos maiores painéis do pintor, de um lado o Guerra, de outro, o Paz.
Cândido Protinari, Paz, óleo sobre tela, 1952,
Ministério das Relações Exteriores, Brasília,D.F.
50 ANOS DE PORTINARI NA ONU
Em 1952 Trygve Lie, então Secretário Geral da ONU, sugeriu a cada nação membro da Organização das Nações Unidas, que fizesse uma contribuição cultural à instituição cuja sede estava em construção.
Portinari foi o artista escolhido pelo governo brasileiro para realizar as obras em homenagem à entidade.
Aprovadas pela Junta Assessora de Arte da ONU, em 1954 as maquetes dos painéis foram expostas no Museu de Arte de São Paulo (MASP) por ocasião do IV Centenário da cidade de São Paulo.
Cândido Portinari, Mulher, 1955, desenho a grafite e lápis de cor
sobre papel, Galeria Bonino,RJ.
Depois de longo atraso nas negociações financeiras e da assinatura do contrato, Portinari deu início à execução dos painéis que já contava com muito estudo. Foram mais de 150 estudos, disse Rosinha Leão, "Cada mão, cada pé, cada rosto era motivo para um estudo detalhado".
Estudos
No entanto, nesse período o artista já se encontrava as sob ordens médicas de afastar das atividades artísticas, em razão do estranho envenenamento causado pelas tintas que usava, e que o levou, mais tarde, a morte prematura. E, embora Portinari preferisse trabalhar no edifício da ONU, os painéis foram pintados no galpão da TV Tupi, no Rio de Janeiro, cedido por Assis Chateaubriand, onde as condições de trabalho eram precárias.
Os amigos Rosinha Leão e Enrico Bianco foram também discípulos e ajudantes.
Em janeiro de 1956 a obra estava pronta e, antes de embarcar para Nova Iorque, foi inaugurada pelo Presidente Juscelino Kubitscheck, no Teatro Municipal.
Chegando a Nova Iorque, em pleno macarthismo, os painéis forma boicotados como obra de um artista comunista. Guardados por um ano e seis meses, após esforços diplomáticos foram expostos no local combinado. Para a sua instalação no hall dos Delegados da Assembléia Geral foram gastos US$ 20.000,00.
Os painéis foram inaugurados em 6 de setembro de 1957, sem a presença de Portinari.
MACARTHISMO
Cândido Portinari, Mulher e menino morto, 1939, zincografia, papel.
Após a segunda Guerra Mundial, deu-se inicio a disputa entre EUA e União Soviética pelo poder hegemônico do planeta na chamada Guerra Fria. A política interna norte-americana daquele período caracterizava-se pela perseguição a pessoas acusadas de simpatizar com o comunismo e de realizar atividades antinorte-americanas, auxiliada pela Lei MacCarran-Nixon, de 1950, que exigia o registro de todas as organizações simpatizantes do comunismo.
O senador Joseph McCarthy era o responsável pelas subcomissões de investigação do Senado, que realizavam uma caça às bruxas no meio artístico, intelectual e sindical do país, que chegou a atingir cerca de seis milhões de norte-americanos, entre eles artistas como Charles Chaplin, Henry Fonda e outros, destacando-se o casal Julius e Ethel Rosenberg, executado na câmara de gás em 1953, acusados de entregar aos soviéticos o segredo da bomba atômica.
Cândido Portinari, Transporte do café, 1956, Painel a óleo/madeira.
Desde a década de 1940, parte da sociedade norte-americana já não via com bons olhos o brasileiro Cândido Portinari que incluíra figuras de negros em seus murais na Biblioteca do Congresso, em Washington, e que, por ocasião da sua exposição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, incluiu dez negros na lista de convidados e a direção do MoMA se viu impulsionada a boicotar os convites.
Cândido Portinari, Menino com cabrito. 1954, Coleção particular, São Paulo,SP
Em 1945, junto de amigos como Oscar Niemeyer e outros intelectuais, filiou-se formalmente ao Partido Comunista, pelo qual se candidatou a deputado e, mais tarde, a senador, sem obter sucesso, mas com prejuízo em sua carreira, pois além de terem vetado uma exposição sua na cidade de São Paulo, sua entrada nos EUA foi dificultada nesse período.
FURTOS [3]
Faz muito tempo que comprar, vender ou colecionar obras de arte vem sendo um bom negócio. Essa é uma prática constante no mundo entre as pessoas de grande poder aquisitivo.
Embora, como afirma o marchand Lopes dos Santos [4], “o consumo não tenha a ver com uma educação culta, e sim com dinheiro”, a cultura brasileira não é muito voltada para conhecimentos de arte, muitas pessoas que se interessam por esse mercado deixam de comprar por falta de informações que lhes permita identificar a qualidade, o valor e a originalidade da obra. Mas, ainda assim, essa tem sido uma atividade atraente no País.
Nos últimos dez anos, foram furtadas 933 obras de arte e bens culturais no Brasil, que é o quarto país com o maior número de ocorrências desse tipo, atrás apenas dos Estados Unidos, França e Iraque.
A maior ocorrência de furtos no Brasil tem sido com a arte sacra, os roubos de quadro são mais casuais e amadores. Os especialistas afirmam que não há mercado para grandes obras de arte roubadas. “Acho muito fantasiosa a hipótese de um colecionador milionário, que fica em uma sala hermeticamente fechada onde só ele poderá contemplá-la” — diz João Cândido, filho de Portinari.
No carnaval de 2006, por exemplo, o Museu Chácara do Céu, no Rio, foi assaltado por bandidos armados com pistolas e granada. Foram roubados quadros de Matisse, Monet, Picasso e Salvador Dalí, avaliados em US$ 50 milhões.
No dia 29 de outubro de 2007, o Museu de Arte de São Paulo (MASP) foi invadido por dois assaltantes uniformizados de segurança que renderam os vigias do museu, mas sem sucesso. Fugiram sem levar nada.
Na madrugada de 27 de fevereiro de 2007, dois quadros de Pablo Picasso foram roubados da casa de sua neta, Diana Widmaier-Picasso, em Paris, França. Os quadros Retrato de Jacqueline e Maya à la Poupée estavam avaliados em 140 milhões de dólares.
De um museu holandês foi roubado, em 2002, o quadro Vista do Mar em Scheveningen, de Van Gogh. Renoir também já foi roubado, seu quadro A Praça de Trinite foi recuperado em uma tentativa de venda nos EUA, em 2004.
Do Museu de História da Arte de Viena, enquanto era reformado, foi roubado o saleiro de ouro feito pelo mestre da Renascença Benvenuto Cellini avaliado em 60 milhões de dólares. O ato do furto durou 50 segundos.
De Leonardo da Vinci, uma tela em exibição no Castelo de Drumlanrig, na Escócia, avaliada em 40 milhões de euros, também foi roubada. Igualmente Renoir, Rembrandt, Salvador Dali e até a Monalisa de Da Vinci que se encontra no museu do Louvre, já foram alvos de furto.
Só nos primeiro mês de 2008 já temos notícias de um roubo de quadro, dia 8 de janeiro, em um centro cultural na Suíça onde levaram um Picasso avaliado em quatro milhões de dólares e, no dia 10 de janeiro, um museu de Zurique anunciou o roubo de quadros dos impressionistas Cézanne, Degas, Van Gogh e Monet. Mesmo que a polícia de Zurique não tenha ainda revelado o nome do museu, acredita-se que o roubo tenha ocorrido na Fundação Emil Buehrle, entidade fundada por um empresário, que abriga várias obras impressionistas.
Edgar Degas, Pequena Bailarina de Quatorze Anos, s/d,
Museu de Arte moderna de São Paulo.
Essa obra coloca o MASP dentro de um seleto clube de somente
poucos museus colecionadores do mundo inteiro, que possuem em seus acervos
as 28 únicas reproduções em bronze da escultura original do artista feita em cera. [5]
As obras de Pablo Picasso lideram o ranking das mais roubadas contabilizando 586 obras, seguida de Juan Miró, com 365, Marc Chagall, com 320, Salvador Dali, com 244, e Pierre-Auguste Renoir, com 220 [6].
BASTARAM 3 MINUTOS
PARA CARREGAREM DO MASP
100 MILHÕES DE DÓLARES
PARA CARREGAREM DO MASP
100 MILHÕES DE DÓLARES
No dia 20 de dezembro de 2007, às 5:09h, assaltantes arrombaram a porta principal do Museu de Arte de São Paulo e, às 5:12h saíram de lá carregando dois dos quadros mais importantes do acervo:
"O Lavrador de Café", de Cândido Portinari, de 1939, e "O Retrato de Suzanne Bloch", de Pablo Picasso, de 1904. As obras encontravam-se expostas em salas separadas no segundo andar. Juntas, estão avaliadas em mais de US$ 100 milhões, segundo a assessoria de imprensa do MASP.
João Cândido Portinari, filho do pintor, considera uma tragédia o furto de uma obra do pai, “porque 95% das cinco mil obras de Portinari estão em coleções particulares e longe dos olhos do público. Além disso, o quadro retrata a história do trabalhador brasileiro e do próprio pintor, que em um poema diz: 'Saí das águas do mar e do cafezal da terra roxa’" — diz João, fazendo referência à fazenda de café onde o pintor nasceu no interior de São Paulo.
No dia 8 de janeiro de 2008, os quadros foram encontrados intactos, enrolados em cobertores, em uma casa simples de Ferraz de Vasconcelos, um bairro periférico da cidade de São Paulo.
O RETRATO DE SUZANNE BLOCH
de Picasso
de Picasso
O pintor catalão Pablo Ruiz Picasso (1881-1973) viveu um período entre Barcelona e Paris — de 1901 a 1904 —, em seu ateliê da capital francesa, na rua Ravignan número 13, a importante cantora wagneriana Suzanne, irmã do violinista Henri Bloch posou para Picasso.
Considerado um momento de transição de sua carreira, o Retrato de Suzanne Bloch é a sua última obra da fase azul. Além do quadro do acervo do MASP, Picasso fez outro retrato de Bloch a bico de pena com realces a guache, que se encontra na coleção de Neubury Coray, em Ascona, na Suíça.
A influência de Paul Cézanne (1839-1906) é percebida nessa obra de Picasso, que passa a ser identificada por alguns críticos como pós-impressionista.
Paul Cezanne, The Brook.
“Essa preocupação, de como a forma da construção é mais importante do que o realismo da representação, e, nesse sentido, o azul dominante nesta tela é um bom exemplo, é uma das características precursoras do cubismo, que tem em Picasso um de seus principais líderes, ao lado de Georges Braque” [7].
Georges Braque e Picasso.
Depois do retrato da cantora Suzanne Bloch, Picasso rompe completamente com as formas tradicionais de representação dando início ao cubismo com a pintura Les Demoiselles d'Avignon, em 1907, conduzindo-se a idéia de autonomia da arte, um dos princípios do modernismo.
Pablo Picasso, Les Demoiselles d'Avignon, 1907.
O Retrato de Suzanne Bloch que faz parte do acervo do MASP mede 65X54 centímetros e já esteve exposto em diversos locais como o Museu Picasso de Paris, em 1994; Berlim, em 1913; Buenos Aires, em 1939; São Francisco, em 1940; Los Angeles, em 1941; e Berna, em 1992.
O LAVRADOR DE CAFÉ
de Portinari
de Portinari
É uma das telas mais famosas de Candido Portinari (1903-1962), cuja data é confusa, para o MASP ela teria sido elaborada em 1939, mas para o Projeto Portinari [8], a obra data de 1934.
Cândido Portinari, Preto da enxada, bico-de-pena e nanquim, 1934, col. particular, RJ.
O Lavrador de café faz menção à temática social das mais recorrentes em Portinari que, só sobre esse tema, realizou cerca de 50 obras, tendo recebido, em 1935, a 2ª Menção Honrosa do Carnegie Institute, em Pittsburgh, nos EUA pela tela “Café”, hoje pertencente ao Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Cândido Portinari, Vendedor de peru, óleo sobre madeira, 1958, Col. Particular, S.P.
O interesse de Portinari foi muito além das classes trabalhadoras, pintou temas nacionais, pintou os índios, os negros e os mestiços, os heróis, as crianças, o circo e muito mais. São, no total, 450 temas diferentes catalogados no Projeto Portinari.
Cândido Portinari, Menino do Tabuleiro, óleo sobre tela, 1947, col. particular, RJ.
A obra O Lavrador de Café já foi exibida em vários países como Chile, 1980; Japão, 1982; e Suíça, 1993; bem como participou em várias cidades brasileiras como Salvador, 1963, e Curitiba 1985 [9].
Cândido Portinari, Café, mural afresco. 1938, Palácio Gustavo Capanema, RJ.
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