Através de aquarelas e colagens, o artista curitibano Mário de Alencar cria inversões e desvios de valores imagéticos que possibilitam leituras de associação não linear.
Mao do Século - colagem de papel sobre papel.
Com influências de ícones contraculturais de diversos períodos, como Winston Smith (não confundir com o protagonista de "1984"), William Burroughs e Terry Gilliam - só para dar alguns exemplos - o artista Mário de Alencar desloca elementos do nosso repertório para contextos estrangeiros que, ao mesmo tempo em que causam certo estranhamento, também trazem à tona certa familiaridade segundo noções e julgamentos sociais.
Tendo outrora focado-se majoritariamente em colagens, o curitibano investe agora em aquarelas feitas direto no papel, mas, fora isso, tanto produz quanto já produziu quadrinhos, capas para discos, entre outros.
Foi para tentar desvendar as motivações e influências da obra de Mário de Alencar que conversei com ele, confira:
Com influências de ícones contraculturais de diversos períodos, como Winston Smith (não confundir com o protagonista de "1984"), William Burroughs e Terry Gilliam - só para dar alguns exemplos - o artista Mário de Alencar desloca elementos do nosso repertório para contextos estrangeiros que, ao mesmo tempo em que causam certo estranhamento, também trazem à tona certa familiaridade segundo noções e julgamentos sociais.
Tendo outrora focado-se majoritariamente em colagens, o curitibano investe agora em aquarelas feitas direto no papel, mas, fora isso, tanto produz quanto já produziu quadrinhos, capas para discos, entre outros.
Foi para tentar desvendar as motivações e influências da obra de Mário de Alencar que conversei com ele, confira:
Por Trás do Concreto - aquarela sobre papel
Quais tuas preocupações estéticas e políticas em relação à arte que tu produz?
Mário de Alencar: Olha, eu sou péssimo em descrever o que eu faço, então isso vai soar ridiculamente cabeção, mas vamos lá. O que eu tento fazer nas minhas obras é criar um panorama de símbolos com seus valores imagéticos invertidos e desviados de modo a orientar uma narrativa visual que possibilite leituras não exatamente lineares quando organizadas em alguma associação pela audiência. A idéia de leitura sequencial das obras é tão importante pra mim quanto cada obra individual. Eu procuro criar cenas e descrever personagens, obviamente de uma maneira bem vaga. Como o material gráfico que eu utilizo como base visual da qual retiro esses símbolos são em grande parte enciclopédias infanto-juvenis e científicas, publicações baratas de ficção científica e crime e espionagem, ilustrações da National Geographic, catálogos de roupas e revistas de moda, o que acabo descrevendo é um tipo de mitologia de uma contemporaneidade levemente ultrapassada.
Claro, essa é a versão longa da resposta. A versão curta é que eu trabalho com um tipo de "apropriação cultural narrativa". Sei lá.
Acho que algumas leituras críticas sociais e políticas são inerentes e inevitáveis, afinal de contas eu uso muitas imagens religiosas e militares e da sociedade de consumo, mas procuro deixar muito da interpretação em aberto pra uma livre associação meio aleatória. E sinceramente? Eu não gosto de explicar muito essas coisas. Toda vez que se explica uma piada, um anjinho bebê cai morto lá no céu de Papai Noel.
Subconsciência Itinerante - aquarela sobre papel
Tu produz tanto aquarelas quanto colagens, como tu passou a trabalhar com ambas as técnicas?
Eu comecei minha produção fazendo inicialmente só colagem. Fiz por muito tempo, e na realidade, hoje em dia ainda vejo as aquarelas como uma extensão disso. Um tipo de “colagem expandida”, como falam em “pintura expandida”, sabe? Em um dado momento da minha produção eu só travei, não conseguia mais fazer muita coisa. Tenho inclusive uma pilha bastante grande de imagenzinhas cortadas e prontas para serem coladas, que nunca viraram obras de verdade. Bom, enfim, travei. Eu sentia que não estava conseguindo dar prosseguimento ao projeto artístico que havia planejado, e que o material físico do papel impresso tava sendo mais um problema do que um elemento interessante na minha arte. Experimentei um tanto com outras técnicas: óleo, pastel seco e oleoso, lápis aquarelado, e acabei meio que inventando um tipo de “apropriação desenhada” pra copiar as imagens da mesma maneira que usava a colagem pura anteriormente. É engraçado aprender as coisas dessa maneira, mas é como eu prefiro. Aprendi colagem por conta própria, não é o tipo de coisa que se ensina na escola de artes, e decidi aprender aquarela sozinho também. É meio como tocar punk rock, não existe escola pra isso e o único jeito de se aprender de verdade é fazendo.
Quais as diferenças e as semelhanças entre ambas nos caráteres técnico e conceitual?
Putz, eu acho que as duas coisas são bem diferentes. O maior trabalho que eu tinha com as colagens era fazer os fundos e transições entre as figuras. Já com desenho e aquarela o problema está exatamente nas figuras, enquanto que o resto acaba sendo a parte mais simples. Mas, ao mesmo tempo, a forma como crio as composições é muito semelhante nas duas técnicas. Eu acho muito foda, contudo, o jeito como o desenho e a aquarela possibilitam o uso de uns papéis diferentes e em tamanhos muito maiores.
Quais tuas preocupações estéticas e políticas em relação à arte que tu produz?
Mário de Alencar: Olha, eu sou péssimo em descrever o que eu faço, então isso vai soar ridiculamente cabeção, mas vamos lá. O que eu tento fazer nas minhas obras é criar um panorama de símbolos com seus valores imagéticos invertidos e desviados de modo a orientar uma narrativa visual que possibilite leituras não exatamente lineares quando organizadas em alguma associação pela audiência. A idéia de leitura sequencial das obras é tão importante pra mim quanto cada obra individual. Eu procuro criar cenas e descrever personagens, obviamente de uma maneira bem vaga. Como o material gráfico que eu utilizo como base visual da qual retiro esses símbolos são em grande parte enciclopédias infanto-juvenis e científicas, publicações baratas de ficção científica e crime e espionagem, ilustrações da National Geographic, catálogos de roupas e revistas de moda, o que acabo descrevendo é um tipo de mitologia de uma contemporaneidade levemente ultrapassada.
Claro, essa é a versão longa da resposta. A versão curta é que eu trabalho com um tipo de "apropriação cultural narrativa". Sei lá.
Acho que algumas leituras críticas sociais e políticas são inerentes e inevitáveis, afinal de contas eu uso muitas imagens religiosas e militares e da sociedade de consumo, mas procuro deixar muito da interpretação em aberto pra uma livre associação meio aleatória. E sinceramente? Eu não gosto de explicar muito essas coisas. Toda vez que se explica uma piada, um anjinho bebê cai morto lá no céu de Papai Noel.
Subconsciência Itinerante - aquarela sobre papel
Tu produz tanto aquarelas quanto colagens, como tu passou a trabalhar com ambas as técnicas?
Eu comecei minha produção fazendo inicialmente só colagem. Fiz por muito tempo, e na realidade, hoje em dia ainda vejo as aquarelas como uma extensão disso. Um tipo de “colagem expandida”, como falam em “pintura expandida”, sabe? Em um dado momento da minha produção eu só travei, não conseguia mais fazer muita coisa. Tenho inclusive uma pilha bastante grande de imagenzinhas cortadas e prontas para serem coladas, que nunca viraram obras de verdade. Bom, enfim, travei. Eu sentia que não estava conseguindo dar prosseguimento ao projeto artístico que havia planejado, e que o material físico do papel impresso tava sendo mais um problema do que um elemento interessante na minha arte. Experimentei um tanto com outras técnicas: óleo, pastel seco e oleoso, lápis aquarelado, e acabei meio que inventando um tipo de “apropriação desenhada” pra copiar as imagens da mesma maneira que usava a colagem pura anteriormente. É engraçado aprender as coisas dessa maneira, mas é como eu prefiro. Aprendi colagem por conta própria, não é o tipo de coisa que se ensina na escola de artes, e decidi aprender aquarela sozinho também. É meio como tocar punk rock, não existe escola pra isso e o único jeito de se aprender de verdade é fazendo.
Quais as diferenças e as semelhanças entre ambas nos caráteres técnico e conceitual?
Putz, eu acho que as duas coisas são bem diferentes. O maior trabalho que eu tinha com as colagens era fazer os fundos e transições entre as figuras. Já com desenho e aquarela o problema está exatamente nas figuras, enquanto que o resto acaba sendo a parte mais simples. Mas, ao mesmo tempo, a forma como crio as composições é muito semelhante nas duas técnicas. Eu acho muito foda, contudo, o jeito como o desenho e a aquarela possibilitam o uso de uns papéis diferentes e em tamanhos muito maiores.
A Indústria Musical - colagem sobre papel
A técnica de colagem é bastante usada na contracultura – tanto por situacionistas na década de 60 quanto por punks em 70 e 80 – tu te sente influenciado por estes movimentos?
Eu estudei bastante coisa nas minhas pesquisas sobre colagem, muita coisa que me influenciou de um jeito ou de outro. Certamente as minhas maiores influências visuais vêm das artes do Winston Smith e da Gee Vaucher, mas muito também existe a partir de algo dos dadaístas alemães como John Heartfield, George Grosz, Raoul Haussman e Hannah Hoch. Do punk eu peguei um tanto de design gráfico subversivo a la John Yates e da arte de cartazes do Art Chantry e Frank Kozik, e isso me levou a umas coisas da contracultura dos anos 60 e 70, tipo o low brow do Robert Williams e Joe Coleman, e também as coisas de associação de imagem e texto tipo a Barbara Kruger. E eventualmente, quando eu comecei a desenvolver as colagens enquanto aquarelas, estudei muito as coisas de artistas outsiders como Henry Darger e de uns pintores contemporâneos como Neo Rauch.
Claro, as teorias situacionistas tanto em relação ao detournément quanto a crítica política e social foram bastante importantes. Também tive influência de várias coisas de vanguardas anti-arte e movimentos contraculturais e coisa e tal, talvez mais conceitualmente e como pano de fundo histórico do que qualquer outra coisa. E minhas pesquisas de recorte e colagem acabaram me levando pra umas outras coisas, tipo os cut-ups do Wiliam Burroughs e animações em stop-motion do Terry Gilliam, Larry Jordan, Bruce Bickford e Jan Svankmajer.
Sei lá, também é difícil falar dessas coisas. Mas sim, sim, eu tenho bastante influência de punk, vanguarda anti-arte política, e contracultura como um todo. De um jeito meio profundo e inerente a tudo que eu faço, eu diria. E se não diretamente presente na minha produção artística, tá sempre ali enquanto ethos de criação e maneira de como lidar com o mundo.
A técnica de colagem é bastante usada na contracultura – tanto por situacionistas na década de 60 quanto por punks em 70 e 80 – tu te sente influenciado por estes movimentos?
Eu estudei bastante coisa nas minhas pesquisas sobre colagem, muita coisa que me influenciou de um jeito ou de outro. Certamente as minhas maiores influências visuais vêm das artes do Winston Smith e da Gee Vaucher, mas muito também existe a partir de algo dos dadaístas alemães como John Heartfield, George Grosz, Raoul Haussman e Hannah Hoch. Do punk eu peguei um tanto de design gráfico subversivo a la John Yates e da arte de cartazes do Art Chantry e Frank Kozik, e isso me levou a umas coisas da contracultura dos anos 60 e 70, tipo o low brow do Robert Williams e Joe Coleman, e também as coisas de associação de imagem e texto tipo a Barbara Kruger. E eventualmente, quando eu comecei a desenvolver as colagens enquanto aquarelas, estudei muito as coisas de artistas outsiders como Henry Darger e de uns pintores contemporâneos como Neo Rauch.
Claro, as teorias situacionistas tanto em relação ao detournément quanto a crítica política e social foram bastante importantes. Também tive influência de várias coisas de vanguardas anti-arte e movimentos contraculturais e coisa e tal, talvez mais conceitualmente e como pano de fundo histórico do que qualquer outra coisa. E minhas pesquisas de recorte e colagem acabaram me levando pra umas outras coisas, tipo os cut-ups do Wiliam Burroughs e animações em stop-motion do Terry Gilliam, Larry Jordan, Bruce Bickford e Jan Svankmajer.
Sei lá, também é difícil falar dessas coisas. Mas sim, sim, eu tenho bastante influência de punk, vanguarda anti-arte política, e contracultura como um todo. De um jeito meio profundo e inerente a tudo que eu faço, eu diria. E se não diretamente presente na minha produção artística, tá sempre ali enquanto ethos de criação e maneira de como lidar com o mundo.
Alerta Vermelho do Passado - aquarela em papel
Tu também produziu capas para discos e singles. Que peculiaridades tu observou na produção da arte que serviria de apoio gráfico a músicas produzidas por outros?
Eu comecei a fazer arte meio que como conseqüência de ter começado a fazer cartazes de show. Uma época, no fim dos anos 90, eu tava meio cansado dos pôsteres em photoshop horrendos que apareciam por aí, e pensei que se era pra fazer uma coisa horrenda, que eu conseguiria fazer bem melhor por conta própria com minhas mãos. Fiz uma porrada de cartazes pra minhas bandas e pra a cena independente ao nosso redor. Capas de disco, camisetas, todo esse tipo de coisa. Mas eu tenho uma aversãozinha à textura das coisas geradas por computador, então sempre fiz as artes com colagem, xerox, letra-decalque e serigrafia.
Eu acho que não existe muito problema na criação de suporte gráfico pra música e outros projetos. Exceto pelas expectativas. A maior complicação tá na dificuldade de transpor a visão que a banda tem da capa pra algo que tenha a ver com a minha linguagem visual. Alguém pode chegar e falar: “olha, eu quero que você faça um ringue de boxe com o Papa lutando com o Bush e o Lula de juiz, e na platéia você põe umas celebridades e pessoas famosas escrotas, e sabe aquela imagem do Banksy, do Mickey andando de mãos dadas com as crianças de napalm do Vietnã? coloca isso no meio também”. (História real). E aí o que você faz? Não é tudo que dá pra se imaginar em colagem que fica de fato legal na técnica, e em grande parte dá pra representar os conceitos que as pessoas estão pedindo de jeitos mais complexos e visualmente interessantes.
Participação de Mário de Alencar em programa especial sobre quadrinhos da TV Paulo Freire
Em 2012 tu participou de um programa especial sobre quadrinhos. Como eles entraram na tua vida?
Eu sempre li quadrinhos. Até onde consigo lembrar, desde que aprendi a ler, já estava lendo quadrinhos. Acho que bem novo, com uns 4-5, eu lia Maurício de Souza, depois passei pra aquelas histórias clássicas da Disney do Carl Barks e do Floyd Gottfredson, e umas outras que eram versões européias, tipo do Donald na Fórmula 1. Com uns 7-8 comecei a ler a coleção de quadrinhos do meu irmão, que tinha muita coisa da Marvel desde a época da Ebal. Quando começaram a surgir aqueles quadrinhos mais adultos dos anos 80, eu acompanhei praticamente tudo o que caia na minha mão. Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Akira, Elektra Assassina, Monstro do Pântano, Sandman, tudo fritou meu cerebrozinho infantil. A medida que fiquei mais velho, abandonei um pouco essa dedicação, em parte porque eu tinha mais coisas com as quais me importar, e em grande parte porque os quadrinhos mainstream começaram a ficar uma merda mesmo. Voltei a ler uns quadrinhos independentes mais tarde, meio que simultaneamente com meu envolvimento com punk e com cultura de zines e coisa e tal. E hoje em dia leio bastante coisa.
E como eles afetam o teu trabalho?
Eu acho que muito da forma como vejo uma linha narrativa muito forte na minha arte vem de uma concepção vinculada aos quadrinhos. Uma das coisas em que eu mais piro, que mais me interessa, em quadrinhos, é o jeito como o olho caminha pela página. Eu busco criar algo semelhante no que estou fazendo, especialmente nas obras maiores. O meu objetivo final, eu suponho, é que a audiência desloque primeiramente o olhar e por fim se desloque fisicamente pra acompanhar a narrativa, e tenha essa sensação de movimento, de uma história que se passa – que vai acontecendo diante dos seus olhos – mesmo que de uma forma não-linear.
Tu também produziu capas para discos e singles. Que peculiaridades tu observou na produção da arte que serviria de apoio gráfico a músicas produzidas por outros?
Eu comecei a fazer arte meio que como conseqüência de ter começado a fazer cartazes de show. Uma época, no fim dos anos 90, eu tava meio cansado dos pôsteres em photoshop horrendos que apareciam por aí, e pensei que se era pra fazer uma coisa horrenda, que eu conseguiria fazer bem melhor por conta própria com minhas mãos. Fiz uma porrada de cartazes pra minhas bandas e pra a cena independente ao nosso redor. Capas de disco, camisetas, todo esse tipo de coisa. Mas eu tenho uma aversãozinha à textura das coisas geradas por computador, então sempre fiz as artes com colagem, xerox, letra-decalque e serigrafia.
Eu acho que não existe muito problema na criação de suporte gráfico pra música e outros projetos. Exceto pelas expectativas. A maior complicação tá na dificuldade de transpor a visão que a banda tem da capa pra algo que tenha a ver com a minha linguagem visual. Alguém pode chegar e falar: “olha, eu quero que você faça um ringue de boxe com o Papa lutando com o Bush e o Lula de juiz, e na platéia você põe umas celebridades e pessoas famosas escrotas, e sabe aquela imagem do Banksy, do Mickey andando de mãos dadas com as crianças de napalm do Vietnã? coloca isso no meio também”. (História real). E aí o que você faz? Não é tudo que dá pra se imaginar em colagem que fica de fato legal na técnica, e em grande parte dá pra representar os conceitos que as pessoas estão pedindo de jeitos mais complexos e visualmente interessantes.
Participação de Mário de Alencar em programa especial sobre quadrinhos da TV Paulo Freire
Em 2012 tu participou de um programa especial sobre quadrinhos. Como eles entraram na tua vida?
Eu sempre li quadrinhos. Até onde consigo lembrar, desde que aprendi a ler, já estava lendo quadrinhos. Acho que bem novo, com uns 4-5, eu lia Maurício de Souza, depois passei pra aquelas histórias clássicas da Disney do Carl Barks e do Floyd Gottfredson, e umas outras que eram versões européias, tipo do Donald na Fórmula 1. Com uns 7-8 comecei a ler a coleção de quadrinhos do meu irmão, que tinha muita coisa da Marvel desde a época da Ebal. Quando começaram a surgir aqueles quadrinhos mais adultos dos anos 80, eu acompanhei praticamente tudo o que caia na minha mão. Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Akira, Elektra Assassina, Monstro do Pântano, Sandman, tudo fritou meu cerebrozinho infantil. A medida que fiquei mais velho, abandonei um pouco essa dedicação, em parte porque eu tinha mais coisas com as quais me importar, e em grande parte porque os quadrinhos mainstream começaram a ficar uma merda mesmo. Voltei a ler uns quadrinhos independentes mais tarde, meio que simultaneamente com meu envolvimento com punk e com cultura de zines e coisa e tal. E hoje em dia leio bastante coisa.
E como eles afetam o teu trabalho?
Eu acho que muito da forma como vejo uma linha narrativa muito forte na minha arte vem de uma concepção vinculada aos quadrinhos. Uma das coisas em que eu mais piro, que mais me interessa, em quadrinhos, é o jeito como o olho caminha pela página. Eu busco criar algo semelhante no que estou fazendo, especialmente nas obras maiores. O meu objetivo final, eu suponho, é que a audiência desloque primeiramente o olhar e por fim se desloque fisicamente pra acompanhar a narrativa, e tenha essa sensação de movimento, de uma história que se passa – que vai acontecendo diante dos seus olhos – mesmo que de uma forma não-linear.
Marcela - aquarela sobre papel
Tu chegou a produzir teus próprios quadrinhos. Como tu lidou com as diferenças entre a produção criativa entre artes plásticas e quadrinhos?
Eu faço umas coisas aqui e ali, mas admito que sou enrolado demais pra conseguir ter uma produção consistente em quadrinhos. Fiz um que saiu na revista Prego uns anos atrás (acho que na 3ª. edição, se não me engano), e estou com umas coisas novas que vão sair, com alguma sorte, em breve, e se não rolar sorte, eventualmente.
Pra falar a verdade, não vejo muita diferença entre a produção criativa das minhas artes em colagem e aquarela pros meus quadrinhos. Eu vejo tudo como sendo derivação de um fluxo narrativo visual, e dessa maneira sinto uma conexão natural entre as duas coisas. Bom, talvez o quadrinho dê mais trabalho porque requer que eu dê um jeito de representar um mesmo personagem em diversos ângulos e posições, e isso não é fácil nem em colagem nem no arremedo de técnica desenho que eu inventei. Mas tudo bem. É um tipo de dificuldade legal, que faz a coisa valer a pena.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/aleatoriedades/2014/03/as-colagens-e-aquarelas-de-mario-de-alencar.html#ixzz2x6BdtxSV
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Tu chegou a produzir teus próprios quadrinhos. Como tu lidou com as diferenças entre a produção criativa entre artes plásticas e quadrinhos?
Eu faço umas coisas aqui e ali, mas admito que sou enrolado demais pra conseguir ter uma produção consistente em quadrinhos. Fiz um que saiu na revista Prego uns anos atrás (acho que na 3ª. edição, se não me engano), e estou com umas coisas novas que vão sair, com alguma sorte, em breve, e se não rolar sorte, eventualmente.
Pra falar a verdade, não vejo muita diferença entre a produção criativa das minhas artes em colagem e aquarela pros meus quadrinhos. Eu vejo tudo como sendo derivação de um fluxo narrativo visual, e dessa maneira sinto uma conexão natural entre as duas coisas. Bom, talvez o quadrinho dê mais trabalho porque requer que eu dê um jeito de representar um mesmo personagem em diversos ângulos e posições, e isso não é fácil nem em colagem nem no arremedo de técnica desenho que eu inventei. Mas tudo bem. É um tipo de dificuldade legal, que faz a coisa valer a pena.
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