Encontro teve como tema vida política do homenageado da edição.
Para biógrafo, ele aplaudiria protestos e diria que evento é 'rapapé burguês'.
Cauê Muraro Do G1, em Paraty
O sociólogo Sergio Miceli (Foto: Reprodução/G1)
O sexo na obra de Graciliano Ramos e o provável apoio do autor aos recentes protestos foram os assuntos que renderam as manifestações mais entusiasmadas da audiência na primeira mesa desta sexta-feira (5) na 11ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Embora o tema do encontro – “Graciliano: Filha política” – pudesse sugerir que a conversa ficaria restrita à militância comunista do escritor ou à época em que ele foi prefeito de Palmeira dos Índios (AL), os participantes abordaram outras questões.
Estiveram na Mesa 5 da Tenda dos Autores o biógrafo do escritor, Dênis de Moraes (que especulou sobre a adesão aos protestos), o sociólogo Sergio Miceli (que falou sobre sexo) e o brasilianista americano Randal Johnson.
A discussão teve tom bem humorado desde o princípio, quando o mediador, José Luiz Passos, lançou um aviso aos presentes: “Contato físico somente acima da cintura, e cotovelo, só abaixo do pescoço. Miguel Conde [curador] me autorizou a usar spray de pimenta”. O público riu, mas participaria ainda mais decisavemente quando, cerca de meia hora depois, Passos interrompeu Miceli.
O sociólogo, último a tomar a palavra, vinha falando sobre “símbolos fálicos” e assuntos afins em livros escritos por Graciliano, como “Caetés”, “São Bernardo” e “Angústia”. A certa altura, preocupado com relógio, o mediador interrompeu – foi, então, que o público interveio com um “ahhhh!”, numa espécie de protesto delicado. Demonstrando surpresa, Passos devolveu, rindo: “Fico feliz que a voz das ruas tenha calado o moderador e não os participantes”.
Assim, Miceli ganhou chance de concluir, citando Luís da Silva, narrador e protagonista de “Angústia”, a quem descreveu como “obcecado pela sua inadequação sexual”. “Ele ouve o vizinho [fazendo sexo] e imagina um animal lascivo.”
Quanto à inveja que o personagem sente do rival, Julião Tavares, o sociólogo apontou tinha relação com o fato de o antagonista “comer todas as menininhas da cidade”. Por fim, argumentou que a cobra, a corda e os tubos de encanamento são signos das fixações de Luís da Silva.
Dênis de Moraes participa de mesa na Flip
(Foto: Reprodução/G1)
Flip como ‘rapapé burguês’
O tema “sexo”, entretanto, teve destaque – mas não se pode dizer que tenha sobressaído a ponto de ofuscar as demais discussões. Biógrafo de Graciliano Ramos, Dênis de Moraes também recebeu aplausos e aprovação. Logo no princípio de seu discurso, brincou, em alusão ao comentário de abertura feito por José Luiz Passos: “Devolve o spray para a repressão, para que a repressão possa recuar no Brasil”.
Na sequência, imaginou que opinião teria o autor de “Vidas secas” sobre a festa que lhe presta homenagem: “Diria que é um rapapé burguês”. Depois, ponderou: “No fundo, ele estaria feliz, porque este evento permitira rever sua vida, sua trajetória acidentada, turbulenta. Acho que chegaria a conclusão de que valeu a pena”.
A maior adesão Dênis de Moraes conseguiu quando afirmou que “Graciliano diz muito a 2013”. “Uma Copa do Mundo milionária num país com tantos problemas. Um sistema de saúde falido, um sistema educacional em decadência, entre outros problemas”, exemplificou. “Graciliano nos chama atenção para a necessidade de coerência ética. Acho que, se vivo fosse, estaria apoiando de maneira enfática os protestos da cidadania. Estaria aplaudindo, pedindo mais.”
Já Randal Johnson, primeiro dos convidados a se dirigir ao público, fez o discurso – dentre os três – mais similar a uma aula. Que começou com uma “nota pessoal”. “Aos 20 anos, li meu primeiro romance brasileiro, que era exatamente ‘Vidas secas’. Eu estudava português fazia um ano”, lembrou-se, confessando que o exemplar tem diversas anotações.
É que Johnson, durante a leitura, tinha de recorrer ao dicionário e anotar o significado das palavras. “Ainda guardo aquele exemplar, mostro para meus alunos [iniciantes em português] para dizer que ainda há esperança.”
(Foto: Reprodução/G1)
Flip como ‘rapapé burguês’
O tema “sexo”, entretanto, teve destaque – mas não se pode dizer que tenha sobressaído a ponto de ofuscar as demais discussões. Biógrafo de Graciliano Ramos, Dênis de Moraes também recebeu aplausos e aprovação. Logo no princípio de seu discurso, brincou, em alusão ao comentário de abertura feito por José Luiz Passos: “Devolve o spray para a repressão, para que a repressão possa recuar no Brasil”.
Na sequência, imaginou que opinião teria o autor de “Vidas secas” sobre a festa que lhe presta homenagem: “Diria que é um rapapé burguês”. Depois, ponderou: “No fundo, ele estaria feliz, porque este evento permitira rever sua vida, sua trajetória acidentada, turbulenta. Acho que chegaria a conclusão de que valeu a pena”.
A maior adesão Dênis de Moraes conseguiu quando afirmou que “Graciliano diz muito a 2013”. “Uma Copa do Mundo milionária num país com tantos problemas. Um sistema de saúde falido, um sistema educacional em decadência, entre outros problemas”, exemplificou. “Graciliano nos chama atenção para a necessidade de coerência ética. Acho que, se vivo fosse, estaria apoiando de maneira enfática os protestos da cidadania. Estaria aplaudindo, pedindo mais.”
Já Randal Johnson, primeiro dos convidados a se dirigir ao público, fez o discurso – dentre os três – mais similar a uma aula. Que começou com uma “nota pessoal”. “Aos 20 anos, li meu primeiro romance brasileiro, que era exatamente ‘Vidas secas’. Eu estudava português fazia um ano”, lembrou-se, confessando que o exemplar tem diversas anotações.
É que Johnson, durante a leitura, tinha de recorrer ao dicionário e anotar o significado das palavras. “Ainda guardo aquele exemplar, mostro para meus alunos [iniciantes em português] para dizer que ainda há esperança.”
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