Pouco conhecido fora do seu país, Wang Shu mostra, com a sua obra, que o que se constrói na China "é mais do que a produção em massa da banalidade", como disse um dos membros do júri.
© Wang Shu, Ningbo Tengtou Case Pavilion" (Wikicommons, Kimon Berlin).
A atribuição deste prémio tem que ver com o emergir da China, o que não deixa de surgir em jeito de crítica porque, quando se olha para a obra de Wang Shu, percebe-se a diferença que ele marca no contexto chinês, pautado pela espectacularidade e massificação. A obra de Wang chega mesmo a ser arcaica, dada a proximidade que o seu trabalho tem com o do artesão.
O Prémio Pritzker, fundado em 1979 por Jay A. Pritzker e pela sua mulher, Cindy, é uma honra anualmente concedida a um arquiteto vivo cuja obra construída demonstre uma combinação de talento, visão e comprometimento. O laureado recebe um prémio de 100 mil dólares e uma medalha de bronze. Este ano, a cerimónia formal do conhecido "prémio Nobel da Arquitectura" terá lugar no país mais populoso do mundo, na cidade de Pequim, no dia 25 de maio, e o galardoado, o arquitecto chinês Wang Shu, vai, por isso, sentir-se bem em casa.
Mas nada disto é "por acaso". Antes se encaixa na perfeição com o espírito dos nossos tempos. Quando o júri anunciou a decisão, as afirmações de Pritzker não podiam ser mais elucidativas: “O facto de um arquitecto chinês ter sido seleccionado representa um passo significante para perceber o papel que a China terá no desenvolvimento dos ideais arquitectónicos. Além disso, durante as últimas décadas, o sucesso da urbanização chinesa será importante tanto para o país como para o mundo. Essa urbanização, como a urbanização em todo o mundo, precisa de estar em sintonia com a cultura e as necessidades locais. As oportunidades sem precedentes para o planeamento e desenho urbano possibilitadas pela China deverão estar em harmonia tanto com a sua longa e única tradição do passado como com as suas (e de todo o mundo!) futuras necessidades para o desenvolvimento sustentável.”
© Wang Shu (Wikicommons, Marco Casagrande).
Arquitecto e Professor, Wang Shu nasceu em 1963, em Urumqi, uma cidade na região de Xinjiang, a província mais ocidental da China. O sr. Shu recebeu o seu primeiro diploma em arquitectura em 1985 e apresentou a sua dissertação de mestrado em 1988, ambos no Nan Nanjing Institute of Technology.
Em 1997, fundou com a mulher, Lu Wenyu, o Amateur Architecture Studio em Hangzhou, China. O nome do escritório baseia-se na espontaneidade, nas capacidades artesanais e em tradições culturais fortemente reflectidas nas obras deste arquitecto. Wang Shu passou vários anos a trabalhar em construções de obras (sobretudo na recuperação de casas antigas) para aprender os seus pressupostos e técnicas mais básicas. Por isso,o seu processo de criação assenta numa experimentação que busca, em cada obra, uma combinação única de conhecimento do tradicional, das táticas de construção experimentais e de pesquisa intensiva injectada pela sua consciência ecológica. É isto que define a base para os projetos de arquitetura do estúdio. Wang Shu não é, definitivamente, um arquitecto do starsystem..
© Wang Shu "Ningbo Museum of Art" (Wikicommons, Siyuwj).
Ao invés de olhar para o Ocidente em busca de inspiração, como muitos dos seus contemporâneos, Wang Shu encontra-a nas suas raízes e no contexto da história e culturas chinesas. A obra deste arquitecto, pouco conhecido além das fronteiras do seu país (aliás, tal como o vencedor do Pritzker de 2011, o português Eduardo Souto Moura), tem pouco de espectacular e é, no fundo, um pouco arcaica. O próprio confessa que gosta mesmo é de trabalhar com artesanato, com liberdade e ritmo à sua medida, explicou ao “Le Courrier de l’Architecte”. Veja-se que Wang Shu tem uma relação muito próxima com o trabalho dos artesãos: filho de um músico e carpinteiro amador e de uma professora, parecia destinado a ser artista plástico ou escritor. Escolheu a arquitectura. Aproveitando este mix, Wang Shu consegue transcender o debate em torno do recente processo de urbanização na China desenvolvendo uma obra intemporal e perene. Yung Ho Chang, professor de arquitectura no MIT School of Architecture and Planning, nos EUA, confirma esta ideia: "a obra de Wang mostra que a arquitectura na China é mais do que a produção em massa da banalidade que responde ao mercado e de reproduções do exótico."
O arquitecto chinês justificou o gosto pelo antigo e pela renovação com palavras que revelam um casamento da arquitectura do passado com a do futuro: “Eu sei que existia algo antes de mim, os meus edifícios vêm de algum lado”, disse aos media internacionais.
As abordagens de Wang Shu inserem-se plenamente naquele "tipo" que, ultrapassando a visão redutora do arquitecto enquanto criador das formas estéticas, superam também o estatuto técnico, agindo de forma reactiva à realidade, invocando para a arquitectura, enquanto área que se situa entre a resolução técnica e a expressão cultural, uma responsabilidade especial enquanto actor social. Só desta forma poderá a arquitectura manter uma flexibilidade e relevância crítica enquanto participante nas dinâmicas culturais e sociais do mundo.
© Wang Shu "Ningbo Museum of Art" (Wikicommons, Siyuwj).
As suas obras mais conhecidas são a Biblioteca do Colégio Wenzheng, em Suzhou University (em 2004, a biblioteca recebeu o Prémio de Arquitetura Arte da China),o Museu de Arte Contemporânea de Ningbo e cinco casas espalhadas também em Ningbo (que que lhe valeram o Holcim Award para a categoria da "Construção Sustentável na Ásia-Pacífico"). Na mesma cidade, completou o Museu de História, em 2008 e, em Hangzhou, fez a primeira fase do Campus Xingshan da Academia de Arte da China em 2004, terminando a segunda fase em 2007.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/04/o_pritzker_2012_wang_shu.html#ixzz1sVH6Bf00
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