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segunda-feira, 11 de março de 2019

O Respeito às Normas de Conduta em Laboratórios Clínicos


Os laboratórios clínicos são caracterizados pelo manuseio de amostras (em grande quantidade) e pela diversidade dos métodos empregados durante as análises clínicas. Segundo Barker (2002) esses laboratórios têm suas próprias regras e costumes, como qualquer organização social complexa, no que diz respeito aos horários, vestimentas, tarefas, trabalhos, atribuições, reuniões, etc., obedecendo aos padrões impostos pela Biossegurança e pela ética profissional.

Entretanto, tais requisitos são costumamente quebrados por grande parte dos profissionais em seu local de trabalho, o que resulta numa série de transtornos não só ao próprio profissional, como também aos seus pacientes e à instituição (o laboratório) onde exerce suas funções.

O respeito às normas de conduta nos laboratórios de pesquisas clínicas é algo que vem chamando muito a atenção nos dias atuais, não só dos profissionais de saúde como também dos seus próprios pacientes, pois são mais valorizados aqueles que trabalham com segurança e confiabilidade. Por outro lado, a área de análises clínicas vem crescendo constantemente junto às evoluções tecnológicas e ao emprego de novas formas de diagnóstico.

Segundo Barker (2002), em todo laboratório há uma grande variedade de pessoas trabalhando, mas quase sempre com diferentes níveis de comprometimento e vários motivos para estar ali. As normas são impostas para cada tipo de trabalho a ser realizado, que vão desde os equipamentos de proteção individual e da organização geral do ambiente laboratorial até a realização dos experimentos e análises, respeitando os princípios da autonomia e da beneficência. Entretanto, nem todos obedecem tais requisitos com a devida regularidade que lhes é imposta.

Os exames laboratoriais, na visão de Andríolo (2010), são realizados com várias finalidades, entre as quais se destacam confirmar, estabelecer e complementar o diagnóstico clínico. Contudo, em tais exames, há muitos casos de riscos e acidentes em laboratórios clínicos, principalmente por contaminação (área, cutânea, entre outras) causada pelo não uso dos equipamentos de proteção na obtenção e manipulação de amostras biológicas, além do descaso em relação aos padrões de segurança. E é importante ressaltar também que nem todo profissional respeita a autonomia do paciente, mantendo-o ciente dos resultados prévios dos testes realizados.

Objetivo
O presente estudo tem como objetivo analisar os aspectos disponíveis na literatura sobre a execução das normas de Biossegurança e dos padrões da ética profissional, relatando as questões que giram em torno das normas de conduta atribuídas ao pesquisador, principalmente no que diz respeito às irregularidades presentes em grande parte dos laboratórios de pesquisas, minimizando assim os riscos, erros e danos, além de promover um trabalho cada vez mais eficiente.
Metodologia
Trata-se de uma revisão da literatura, de temática aberta, composta por uma seleção arbitrária de artigos obtidos em bancos de dados da Biblioteca Virtual de Saúde Scielo, utilizando a análise de conteúdo na modalidade temática. A metodologia utilizada é o levantamento de dados, com as devidas observações, e o estudo da frequência dos casos de riscos, acidentes e outros transtornos em determinadas instituições, tendo como base a pesquisa bibliográfica, a análise de conteúdo e as experiências profissionais de seus autores.
A Medicina Diagnóstica e os erros Pré-Analíticos
O laboratório clínico é uma ferramenta capaz de reduzir as incertezas da clínica, contribuir para a preservação e/ou a restauração da saúde e aprimorar a qualidade do atendimento à saúde. Segundo Lopes (2003), tais laboratórios têm por missão produzir resultados de exames que sejam de real utilidade para se fazer corretamente o diagnóstico, o prognóstico e, inclusive, acompanhar a terapia, a evolução e a prevenção de enfermidades, ou seja, é trabalhada a medicina diagnóstica.

Como afirma Andriolo (2010) “os exames laboratoriais são realizados com várias finalidades, entre as quais se destacam confirmar, estabelecer e complementar o diagnóstico clínico. Adicionalmente, os resultados dos exames podem fornecer elementos para o prognóstico de determinadas doenças, estabelecer critérios de normalidade e delinear fatores de risco evolutivos”.

A medicina diagnóstica é de extrema importância nesse tipo de trabalho, pois tem como objetivo principal auxiliar nas decisões dos profissionais frente aos seus pacientes, ao passo em que deve existir confiança e segurança entre ambos os sujeitos perante os laudos emitidos pelo laboratório. Dentro deste contexto, um dos aspectos mais discutidos é a quantidade de erros de diagnóstico que ocorrem em grande parte dos laboratórios clínicos. Isso porque, segundo Guimarães et al. (2011), tais diagnósticos muitas vezes são imprecisos, ao passo em que a fase inicial das análises laboratoriais, conhecida como fase pré-analítica, é definida, por diferentes estudos, como sendo a grande responsável pelos erros de laboratório.

O autor referido acima também afirma que os erros pré-analíticos decorrem da dificuldade de controle de suas variáveis, que vão desde a solicitação da análise até a coleta, identificação, armazenamento, transporte e recebimento das amostras biológicas. Isso ocorre porque tais processos envolvem diretamente trabalhos manuais (sem automatização), gerando uma série de consequências que podem prejudicar não só ao paciente, como também ao profissional responsável e ao próprio laboratório, tais como: rejeição da amostra, demora da liberação do laudo e perda da credibilidade, da confiança e da segurança entre os sujeitos participantes.

Segundo Guimarães et al. (2011), “para alcançar as metas de redução dos erros e aumentar a segurança nos processos pré-analíticos, faz-se necessário implantar atividades que visam à formação, educação e cultura de todos os profissionais envolvidos nos processos de obtenção e manipulação de amostras biológicas. É necessária a busca de um novo olhar na investigação sobre como as pessoas, individualmente ou em grupos, devem realizar as suas atividades, não mais atribuindo os erros às pessoas e sim aos processos que podem levar a determinada falha na obtenção de um resultado”.

Sendo assim, sabe-se que os erros de laboratório vão continuar existindo, porém podem ser minimizados através de métodos de controle de qualidade empregados por todos os profissionais envolvidos na medicina diagnóstica, trazendo benefícios ao paciente, ao médico e ao laboratório.
Questões de Biossegurança
Os transtornos passados pelos pesquisadores clínicos em seu ambiente de trabalho não se referem apenas aos erros pré-analíticos, mas também à própria Biossegurança, ou seja, a um conjunto de ações que objetivam prevenir, minimizar ou eliminar os riscos a que os profissionais encontram-se submetidos em seu ambiente de trabalho, com o objetivo de evitar a contaminação por agentes infecciosos.

Esta contaminação ocorre principalmente durante a manipulação das amostras biológicas, seja por inalação ou por contato direto e/ou indiretamente com os materiais a serem analisados, lembrando que toda amostra biológica analisada deve ser tratada como potencialmente patogênica, por questões de segurança.

Carvalho et al (2009) explica que as infecções, na área de saúde, são consideradas um problema de saúde pública e que, nos dias atuais, a população passou a exigir mais e, principalmente, valorizar os profissionais que investem em Biossegurança. Isso porque o emprego de práticas seguras reduz o risco de acidentes ocupacionais, fazendo-se necessária a conscientização de cada pesquisador para a utilização de técnicas assépticas, dos equipamentos de proteção individual (jaleco, luvas, máscara, entre outros) e de outros procedimentos que possam garantir ao profissional e ao paciente um tratamento sem risco de contaminação.

Mesmo os equipamentos de proteção individual protegendo a integridade física e a saúde do trabalhador, a contaminação da pele e das vestimentas por respingos e pelo toque é consideravelmente inevitável, provocando assim o acúmulo de bactérias que, em sua maioria, têm grande capacidade de resistência ao meio em que se encontram.

De acordo com Carvalho et al. (2009), “bactérias multirresistentes, que podem provocar doenças como faringites, otites, pneumonia, tuberculose e até mesmo a morte, são carregadas para lugares públicos e retornam das ruas para consultórios médicos, odontológicos, enfermarias e salas de cirurgia nos jalecos dos mais diversos profissionais de saúde. Frequentemente, a seriedade da questão é negligenciada por arrogância ou desconhecimento de alguns conceitos básicos de microbiologia”.

O profissional também deve ter cuidado com o descarte dos materiais após o uso, pois os mesmos contêm bactérias que podem ser prejudiciais à sua saúde ou podem causar algum tipo de acidente. O lixo não contaminado deve passar por uma coleta convencional, enquanto o lixo contaminado deve ser armazenado em recipientes próprios com identificação, respeitando o limite de acúmulo dos resíduos.
A Promoção da Saúde na Perspectiva da Bioética
As análises clínicas devem estar aliadas aos processos de promoção da saúde sob o olhar da bioética, estes explicados por Caponi et al. (2004) como sendo um conjunto de medidas ou ações de saúde, como educação sanitária, condições de trabalho adequadas, entre outras, que buscam desenvolver uma saúde geral melhor. Isso se aplica ao laboratório clínico pela necessidade de medidas ou ações preventivas que envolvem, de maneira geral, a conduta do indivíduo, ou seja, os aspectos ético-clínicos.

Por outro lado, um aspecto que deve ser amplamente discutido é o conjunto de implicações éticas existentes na relação do médico com o seu paciente e na relação entre os próprios profissionais em seu local de trabalho que, na concepção de Figueiredo (2011), devem preservar os valores pessoais dos seres humanos envolvidos. Isso caracteriza o que se chama de Bioética Clínica.

No ponto de vista de Oliveira e Jorge Filho (2010), “o âmbito da Medicina a Bioética Clínica surgiu como uma possibilidade de se pensar e discutir a prática da medicina na dimensão das diferentes instituições sociais que lidam com a saúde e com os profissionais da área da saúde. Ela tem a finalidade de pensar a aplicação desses novos valores resultantes do desenvolvimento científico frente a uma sociedade com respeito ao pluralismo e a aceitação das diferenças.

Por meio de estratégias – próprias da Bioética Clínica - os conflitos que podem emergir da relação entre o médico e o paciente devem ser analisados a partir de valores éticos, enquanto ciência dos fundamentos ou princípios das ações; e dos valores da moral, enquanto conjunto de normas culturais que regulam as ações humanas”.

O indivíduo que trabalha em laboratórios clínicos, assim como qualquer outro profissional, deve visar à promoção da saúde do paciente, mesmo se não estiver lidando diretamente com o mesmo. Contudo, se houver este relacionamento direto, deve manter o paciente ciente de cada passo a ser realizado antes e durante as análises laboratoriais, além de fazer as devidas recomendações (como jejum, suspensão de determinado medicamento, entre outras formas), respeitando a autonomia do mesmo.

Os profissionais devem manter um bom relacionamento uns com os outros, pois no laboratório todos vivenciam emoções e conflitos constantemente na prática de suas funções. Entretanto, nem sempre isso acontece.

Como afirma Cruz et al. (2009), muitas vezes ocorrem uma série de conflitos definidos em casos nos quais existem dois ou mais princípios, valores ou interesses de análise em uma mesma situação, requerendo uma revisão de atitudes e comportamentos tanto dos profissionais como da sociedade envolvidos direta ou indiretamente no processo da saúde. Precisa-se, portanto, de um ensino continuado que resultará num preparo maior dos próprios indivíduos atuantes.

“É comum que os profissionais da saúde tenham uma atitude paternalista para com os clientes, ou seja, decidam o que é melhor para eles, sem levar em conta seus pensamentos ou sentimentos e, geralmente, justificam suas atitudes com uma frase semelhante a esta: “é para o seu próprio bem”, mesmo que o cliente discorde. Desta forma, mesmo tendo a intenção de fazer o bem, estão reduzindo adultos a condição de crianças e interferindo em sua liberdade de ação” – é o que afirma Koerich (2005).
Não é a toa que Albuquerque e Schuh (2009) ressaltam a importância do ensino da ética na formação dos que trabalham na área da saúde, tanto em sua dimensão individual como social, onde a dignidade de todos deve ser priorizada, pois nos mais diversos espaços de atendimento à saúde, como tais autoras afirmam, a observância dos princípios éticos na prática diária de cada profissional propõe que sejam respeitados os valores morais e culturais dos indivíduos.

Conclusão
No laboratório clínico, que trabalha com a Medicina Diagnóstica, estão presentes diferentes profissionais com variados níveis de compromisso, pois nem todos respeitam as normas de Biossegurança, que vão desde os equipamentos de proteção até a manipulação das amostras biológicas, e os padrões da Bioética Clínica, que se refere ao comportamento do profissional frente ao paciente e junto ao laboratório onde trabalha com os seus colegas. Ressalta-se a importância do ensino da ética na formação dos que trabalham na área da Saúde. Precisa-se, portanto, criar um projeto de gestão de qualidade que possa conscientizar, capacitar e treinar os profissionais para o exercício de suas funções.

Referências
ANDRÍOLO, A. O laboratório clínico e os intervalos de referência. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial. São Paulo, 2010, v. 46, n. 6, dez., 2010.

ALBUQUERQUE, I. M.; SCHUH, C. M. A ética na formação dos profissionais de saúde: algumas reflexões. Revista Bioética. Brasília, v. 17, n. 1, p. 55-60, jan./abr., 2009.

BARKER, K. Na Bancada: Manual de iniciação científica em laboratórios de pesquisas biomédicas. Trad.: Cristina Maria Moriguchi Jeckel et al. Porto Alegre: Artmed, 2002.

CAPONI, S.; VERDI, M. Reflexões Sobre a Promoção da Saúde numa Perspectiva Bioética. Florianópolis, SC, 2004, 7 f. (Artigo de Reflexão). Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública – UFSC.

CARVALHO, C.M.R.S. et al. Aspectos de Biossegurança Relacionados ao Uso do Jaleco pelos Profissionais de Saúde: Uma Revisão da Literatura. Revista Texto & Contexto Enfermagem. Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 355-360, abr./jun., 2009.

CRUZ, P.V.D. et al. Formação de profissionais da Saúde: revisão da literatura sobre o ensino da Ética e suas repercussões na prática profissional. Scientia Plena. Aracaju, v. 5, n. 11, 2009.

FIGUEIREDO, A. M. Bioética Clínica e sua Prática. Revista Bioética. Brasília, v. 19, n. 2, p. 343-358, 2011.
GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. 12. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009.

GUIMARÃES, A.C. et al. O Laboratório Clínico e os Erros Pré-Analíticos. Porto Alegre, RS, 2011. 7f. (Artigo de Revisão). Hospital de Clínicas de Porto Alegre.


KOERICH, M. S. et al. Ética e Bioética: para Dar Início à Reflexão. Revista Texto & Contexto Enfermagem. Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 106-110, 2005.

LOPES, H.J.J. Garantia e Controle da Qualidade no Laboratório Clínico. Belo Horizonte, MG, 2003. 27 f. Gold Analisa Diagnóstica Ltda.

OLIVEIRA, R. A.; JORGE FILHO, I. A. Bioética Clínica: Como Praticá-la? Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Rio de Janeiro, v. 37, n. 3, p. 245-246, 2010.

por SAMUEL JOSÉ AMARAL DE JESUS

Fonte:https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/o-respeito-as-normas-de-conduta-em-laboratorios-clinicos/19424

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