Explicar, para quem quer que seja, o que se sente, sendo um artista é algo como ser mãe e explicar a alguém que não tem filhos, o amor que se sente pelos seus. Não se explica para um peixe a importância do ar, como não se ensina para um homem o prazer de voar com suas próprias asas.
Desde criança escrevo. Aos dez anos minha mãe mostrou um texto meu para meu pai, que disse: “Ela copiou de algum lugar”. Na época não entendi por que meu pai havia concluído aquilo e não questionei. No auge de minha inocência, continuei os meus escritos à mão e em letras infantis. Anos depois, entendi a conclusão de meu pai: o texto era levemente erótico e bem à frente do que se supõe ser a imaginação e criatividade de uma menina de dez anos.
E os anos passaram. Meus textos começaram a surgir na tela do computador, menos frequentes, porém mais intensos. Sempre ouvi de professores, que viria a ser escritora um dia. Fato é que algumas décadas se passaram e escrevi meu primeiro livro. Achava que seria o único, mas depois dele vieram treze, quatro roteiros e mais de trezentas crônicas publicadas.
Perdi muitos de meus textos por aí. Mas percebi a tempo o “para que vim a este mundo”. Sensibilidade à flor da pele e um desejo incansável de me expressar em palavras, não importa se estou triste ou alegre. Escrevo o que sinto com a transparência que me cabe. Exponho o que sou, sem máscaras.
Gosto de tocar a alma dos que leem. Os que com minhas palavras se conectam, me mostram que realmente não estou só em minha dor ou história.
Escrevo por que amo escrever. Talvez este seja o melhor dos meus amores. Nunca o deixei. E sempre o tive comigo. Na lealdade de me mostrar sempre quem eu fui, mesmo tendo sido muitas.
Artista das palavras, não acho difícil ser artista. Difícil é sentir tudo o que um artista sente e perceber o mundo com tanta profundidade. Nascer artista e não ser artista não sei o que é. Tenho uma profissão que me sustenta a vida, e outra que me alimenta a alma.
Não tem como um artista não ser artista.
Se o artista não puder ser artista ao menos por dentro, morre em vida.
Não se muda a alma."
CAROLINA VILA NOVA
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