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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Da esperança



Da esperança
Ricardo Gondim

Esperança já foi criticada como armadilha; ao prometer um futuro melhor, enganaria os incautos. Amaziada com a utopia, adiaria as iniciativas transformadoras do presente. Os corojosos, já se acreditou, não precisam de suas juras futeis, e só os covardes se valem de seus acenos.

Esperança se tornou substantivo que se desgastou por uso excessivo; na boca de demagogos, palavra piedosa que não comunica coisa alguma.

Porém, esperança permanece o alento que resta aos pobres. Quem aguarda novos céus e nova terra levanta a cabeça. Por sua causa, na Páscoa, os judeus se cumprimentaram em guetos imundos: “No próximo ano, em Jerusalém”. Inspirados na esperança, escravos negros cantaram nos velórios: “Free at last, free at last!”.

Esperança é irmã mais frágil da fé. Sua fragilidade vem da insustentabilidade. Esperança não nasce de certezas. O chão da esperança, inseguro como areia movediça, será sempre improvável. Nas Escrituras, lê-se que a esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo?(Romanos 8.24).

Mesmo incerta e incapaz de fazer promessas absolutas, esperança alimenta o herói em sua gesta heróica. Animado pelo impossível, ele desenvolve sensibilidades que adensam os sonhos da cidade futura, onde paz e justiça se beijarão.

Esperança espera, mas jamais obedece a mecânica do tempo. Nela, não existem cronogramas, relógios e planejamentos estratégicos. Enquanto flui, esperança não se obriga senão satisfazer os que se engajam pela vida. O galardão da esperança resume-se a fazer da excelência um fim em si mesmo, jamais um meio.

Dizem ser verde a cor da esperança. Eis, então, o tom que anima o vencido a continuar resoluto. Só ela ressuscita audácia em corações arruinados. Esperança, ao devolver alegria ao desiludido, lambuzado de cinza, nunca se contenta com uma só tonalidade. Ela é dona de todas as cores, na esperança mora um arco íris.

Esperança exorciza mau agouro, cala pessimistas e revoga os decretos do Destino. Esperança não sobrevive de quimeras; não procura construir castelos nas nuvens; não doura pílulas; não promove viagens alucinógenas. Todo esperançoso se torna companheiro de valentes, de intrépidos, de aventureiros. Neles, pulsa o coração de um batalhador, de onde surge a poesia mais inspiradora.

Esperança se move de frente para trás. Réstias de sua luz veem do futuro, do porvir mais longínquo, para iluminar o presente. Esperança é a força derradeira que anima o velho e o brilho que anima os olhos da mãe quando embala o filho.

Abraão, Moisés, Don Quixote, Martin Luther King Jr., e o Eródoto, meu pai, foram homens que navegaram nas águas da esperança; oceano que conhecemos tão pouco, mas que sem ele não sobreviveríamos.

Soli Deo Gloria

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