"Não, o amor não é cego, nós é que muitas vezes nos fazemos de cegos para acobertarmos propositalmente as falhas do parceiro e as nossas próprias falhas, na vã tentativa de salvarmos um relacionamento que já não tem mais razão de ser."
Não, o amor não é cego, nós é que muitas vezes nos fazemos de cegos para acobertarmos propositalmente as falhas do parceiro e as nossas próprias falhas, na vã tentativa de salvarmos um relacionamento que já não tem mais razão de ser. Queremos amar e sermos amados verdadeiramente e, para tanto, não raro acabamos por empreender lutas inúteis contra o inevitável fim que já se aproximou, ou mesmo já esteja instalado.
Nós é que morremos de medo de ficarmos sozinhos, como se a felicidade fosse impossível de ser alcançada na companhia de nós mesmos e de ninguém mais. Tememos encarar a solidão necessária ao reerguimento que nos renova e nos torna preparados para o recomeço junto de alguém merecedor do que temos a oferecer, de alguém que tenha o que nos oferecer.
Nós é que achamos que não somos bons o suficiente para encontrar alguém melhor e que estaremos fadados a ficar solteiros, caso dispensemos alguém, mesmo que a presença desse alguém seja vazia e irrelevante. Não nos damos o real valor que temos, diminuindo-nos em nossa capacidade de proporcionar e de receber a felicidade, por conta de inseguranças bobas, machucando cada vez mais a nossa autoestima, deixando-a cada vez mais frágil.
Nós é que nos submetemos ao aviltamento de nossa dignidade, em favor de aparências que não se sustentam da porta para fora, tampouco convencem quem nos olhar atentamente. E assim vamos nos permitindo aceitar migalhas, engolir ofensas, esconder o choro, abafar o grito, com medo de vir a sofrer algo que na realidade já estamos sofrendo diariamente, sem perceber que nada poderá ser pior do que as aflições que já se instalaram em nossas vidas.
Nós é que idealizamos um conto de fadas para o nosso viver, na busca de uma pessoa perfeita que jamais encontraremos na vida real, tornando-nos intolerantes com as falhas alheias, superdimensionando os defeitos e nos esquecendo de valorizar as qualidades de quem está disposto a nos amar com sinceridade. Isso porque não nos dispomos a ceder e a aceitar o outro em tudo o que o define, tampouco conseguimos encarar nossas próprias falhas, para que possamos mudar para melhor.
Definitivamente, o amor não é cego; pelo contrário, amor requer honestidade e completude, mergulho e entrega real, o que poucos estão dispostos a oferecer. Trata-se de um lançar-se que necessita de que compartilhemos o nosso melhor e o nosso pior e isso implica coragem para desnudarmos nossa essência em sua inteireza, doa a quem doer - sendo que muito dessa dor será bem nossa, no final das contas.
Inegavelmente, é mais fácil julgarmos do que olharmos para nós mesmos, enquanto esperamos do outro aquilo que nem nós estamos dispostos a oferecer. É mais cômodo não entrar em conflitos com o parceiro, para que também não sejam jogadas contra nós certas verdades a que fugimos desesperadamente. Por isso, é preciso, sobretudo, coragem, tanto para lutar por um amor que ainda vale a pena, quanto para se libertar de um amor que machuca e que nem amor já não é.
Que, enfim, fique claro: amor de verdade ilumina, desanuvia, elucida, constrói, traz respostas, não cega coisa nenhuma. E, caso nosso olhar se perca em brumas de incertezas, certamente amor não há.
© obvious
Nenhum comentário:
Postar um comentário