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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Cris Lisbôa e a força das palavras


Tem coisa que só sai da gente por escrito. A frase, vista no muro de alguma cidade brasileira, diz muito sobre as aulas de Cris Lisbôa. Escritora e jornalista, desde 2013 assumiu a frente de uma escola itinerante que repensa o poder da palavra, do diálogo e da coexistência. Em movimento constante pelo país, a A Go-go, Writers ajuda a colocar no papel também uma boa dose de sentimentos e sonhos que andavam esquecidos. Do peito até a ponta dos dedos, como ela mesma diz.

A escola tem espírito viajante: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba e Belo Horizonte são alguns dos lugares que recebem as aulas de escrita, sempre dadas à vontade, com ares de casa. Os encontros são direcionados a qualquer pessoa que precise se comunicar por palavras - e têm grande presença feminina. Pelas turmas, já passaram mais de 1500 alunos, incluindo advogadas, youtubers, publicitárias, parteiras e uma lutadora de MMA. “Me encanta o encontro de gente tão diferente”, resume Cris.

A autora de 6 livros de ficção, entre eles Papel Manteiga, acredita que a criatividade está em qualquer um. Ao estimular a busca pelas próprias histórias, aponta caminhos para encontrar o processo criativo e enfrentar o medo de recomeços (depois do curso, foram muitos os projetos de alunos que viraram livros ou até empresas). Ouvi-la faz lembrar, sempre com leveza: palavras ditas podem mudar mundos.

Inspire-se Cris Lisboa (Foto: Reprodução Instagram)

Cartas de Auto-Amor

“Tive uma aluna que, como forma de exercício, criou um blog em que escrevia cartas para ela mesma - e achei incrível. Um dia, em frente ao espelho do elevador, percebi que jamais tinha algo bom a dizer sobre mim, só percebia os meus defeitos. Para outras pessoas; palavras boas. Perguntei a outras mulheres como se sentiam e ouvi relatos muito parecidos. Então criei uma aula em que as mulheres olham para si e percebem suas qualidades. O resultado das primeiras experiências em aula virou uma catarse.”

Inspire-se Rolex Cris Lisboa (Foto: Reprodução Instagram)


Medo e atenção

“Acho que virar professora aumentou meu medo, o que é bom. Para mim, o medo faz com que eu preste mais atenção nas pessoas. Tem um trecho de poema da Ana Cristina César que diz “se você me ama, por que você não se concentra?”. E eu me concentro muito nas aulas. Entendi que, quando as pessoas escrevem e leem, acabam se abrindo. Esse processo tem um quê de terapia, então tomo muito cuidado com o que eu falo, porque sei que há um impacto grande.”

Comunicação Não-Violenta

“Com as redes sociais, a palavra têm muita força. As pessoas são, diariamente, convidadas a dizer quem são por meio da palavra. Isso fez com que aumentasse a busca por ferramentas, macetes e fórmulas mágicas para se expressar. O primeiro impacto, porém, é descobrir que, se não houver autoconhecimento, não é possível escrever.
Fui pesquisar sobre comunicação não-violenta quando percebi que as pessoas estavam com um tom muito agressivo no dia a dia, às vezes sem querer. Os textos em geral andam impositivos e servem para mostrar a inteligência de quem escreve. Nessas horas, as pessoas esquecem que texto público também é diálogo.”

Inspire-se Cris Lisboa (Foto: Reprodução Instagram)

Ler Mulheres

“A escrita é a voz da palavra. E se, por muitos anos, as mulheres foram (em muitos lugares ainda são) proibidas de frequentar bibliotecas, escolas e outros ambientes do saber, o agora nos traz a chance de finalmente ouvir vozes femininas sem distorção de pseudônimo ou medo. Estamos atentas, curiosas, produzindo e voando. Na cabeceira tenho: Susan Sontag, Matilde Campilho, Ana Cristina César, Bruna Beber, Chimamaia, Jarid arraes, Conceição Evaristo, Ryane Leão e Ana Guadalupe.”

http://vogue.globo.com/Inspire-se/noticia/2017/10/cris-lisboa-e-forca-das-palavras.html

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