“Quando você toma uma flor em sua mão e realmente olha para ela, é o seu mundo por um momento. Quero mostrar esse mundo a alguém. Mas a maioria das pessoas vive nas cidades grandes correndo e não tem tempo de olhar para uma flor. Eu decidi, então, pintar aquela flor em grande escala para que sua beleza não fosse ignorada”, disse Georgia O’Keeffe, pintora conhecida como a “mãe do modernismo americano”. Agora pegue essa vontade de abrir os olhos do mundo para as formas e cores da flora e adicione um solo de guitarra e algumas viradas na bateria: este é Makoto Azuma, que se mudou para Tóquio sonhando com a vida de rock star e acabou se apaixonando pelas flores do Ota Market.
Para o artista japonês, a vida das plantas é mais transcendental do que a nossa – assim como as experiências musicais. Não à toa, ele fez parcerias com a banda americana experimental Algiers para criar uma série de performances em instalações botânicas. “Os japoneses acreditam que os deuses existem na natureza e a adoram. Temos medo e respeito pelas coisas que estão ocultas, elas possuem um poder esmagador. Nesse sentido, a performance é um tipo de oração”, explicou o escultor-botânico, que falou sobre o assunto no Casa Vogue Experience 2016.
Ready-made botânicos
Apesar do objetivo em comum com Georgia, Azuma pensa de maneira oposta. Não quer eternizar os momentos mais belos das plantas e, sim, realçar as pequenas diferenças no florescer e murchar. Sua obra é, portanto, sobre o instante do encontro entre homem e natureza. “Procuro novas formas de expor as espécies. Eu as embalo a vácuo, queimo e congelo – estas ações são tentativas de fazer um recorte de sua beleza.” Os trabalhos que mais atraem o público são como ready-made botânicos: Azuma tira suas espécies preferidas de contexto – onde elas não poderiam sobreviver – para ressaltar sua vitalidade. Ele levou, assim, um bonsai preso num cubo metálico para uma torre abandonada na Bélgica e mandou literalmente outra pequena árvore para o espaço. Próximo destino? Alguma parte profunda do oceano.
Floricultura itinerante
Mas não só de experimentos físicos e químicos ele vive. Flower Shop KIBOU (“esperança” em japonês) é uma floricultura itinerante que dura um dia e cujo objetivo é entregar buquês para pessoas em vilas que estão sofrendo com a pobreza, os conflitos e os problemas ambientais. Em agosto último, o japonês passou por Congo, Argélia e Alemanha para fazer testes, mas o projeto começa em 2017 e percorrerá Sibéria, Chernobyl, Qinghai e Tibete. Considerado um dos artistas mais radicais do mundo, Azuma não tem maiores pretensões ao realizar as suas obras: são gestos que chamam a atenção para sutilezas a serem eternizadas na mente dos que podem ver os trabalhos.
Moda Florida
Foi comentário de todos que passaram pela mais recente semana de moda de Paris: as cem plantas raras reunidas em 23 buquês congelados por Makoto Azuma decoravam a passarela de Dries Van Noten. De fato, flores e o radicalismo de Azuma combinam com vestidos, saias e bolsas e a parceria entre estilista e artista começou em 2014 quando belga convidou o japonês para fazer a cenografia de sua exposição no Musée des Arts Décoratifs. Ele, no entanto, não foi o primeiro a propor o mix entre arte, botânica e moda. Azuma Makoto já desenhou uma coleção de acessórios com Helmut Lang em 2011; fez uma bolsa-musgo para a Dior e montou vitrines para a Hermès no ano seguinte; e montou floriculturas móveis em lojas da Fendi em abril deste ano. A Japan House, que abre em maio de 2017, não podia ter escolhido lugar mais apropriado, então, para fazer um preview da programação nipônica que tomará conta de São Paulo com a abertura do centro cultural: o Shopping Iguatemi, reduto dos fashionistas da cidade, vai receber uma instalação com flores japonesas assinada Makoto em março do ano que vem iniciando a contagem regressiva para a abertura da Japan House.
O artista japonês Makoto Azuma, que participará do Casa Vogue Experience (Foto: Divulgação)
Casa Vogue
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