Respeito pelo popular marca obra de Lina Bo Bardi
A arquiteta, em 1967, no vão livre do museu, ao lado do suporte de vidro, com obra de Van Gogh, criado por ela para a pinacoteca da instituição
Observar o vão livre do Museu de Arte de São Paulo – MASP tomado por participantes das recentes manifestações populares por um Brasil melhor emociona e faz pensar sobre o caráter libertário da produção de Lina Bo Bardi (1914-1992), autora desse ícone visual da capital paulista. Este ano, a profissional única e de atuação interdisciplinar, cujo legado marca a cultura brasileira, faria 100 anos. “Encaminhamos ao Ministério da Cultura um projeto que, para lembrar a efeméride, prevê desde exposições até a produção de um média-metragem e a reedição de livros sobre sua obra”, conta o arquiteto Renato Anelli, diretor do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. A sede da entidade fica na conhecida Casa de Vidro (1950), construção racionalista idealizada por Lina, no bairro paulistano do Morumbi, para viver com o marido, o historiador e crítico de arte Pietro Maria Bardi, criador do MASP, ao lado de Assis Chateaubriand.
Dentre outros projetos, destacam-se ainda o restauro do Solar do Unhão (1963), em Salvador, conjunto arquitetônico do século 17 que abriga o Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM-BA, e o Sesc Pompeia (1977), em São Paulo, antiga fábrica transformada em centro cultural. São espaços eminentemente democráticos. “O que vai além do ‘particular’, o que alcança o coletivo, pode (e, talvez, deve) ser monumental”, escrevera Lina em meados dos anos 1960. Para o arquiteto Marcelo Ferraz, as obras traduzem um traço fiel: “O desejo de transformar a realidade”. Ele e o também arquiteto André Vainer, que colaboraram com ela por 15 anos, são curadores de uma das exposições programadas para este ano.
Poltrona Bowl Bowl, agora editada pela Arper
Multifacetada, Lina foi também cenógrafa, editora, ilustradora e designer. Um exemplo emblemático de seu mobiliário é a poltrona Bowl (1951), orgânica e ajustável conforme o desejo do usuário, e agora editada industrialmente pela italiana Arper.
Há ainda belas peças de madeira, de desenho mais seco e essencial, como as cadeiras Girafa e Frei Egídio, desenvolvidas nos anos 1980 em parceria com Ferraz e o arquiteto Marcelo Suzuki.
Suzuki é também organizador e autor do projeto gráfico de um dos livros esgotados de Lina a serem reeditados: Tempos de Grossura: o Design no Impasse, postumamente publicado pelo instituto, em 1994. A publicação reúne textos reflexivos seus e de outros autores, como Jorge Amado, Ariano Suassuna e Glauber Rocha, acerca de uma produção genuinamente nacional e livre de contaminação estrangeira – denominada por ela “pré-artesanal”. Foi sobretudo entre os anos de 1958 e 1964, quando viveu em Salvador, que a profissional aprofundou-se na cultura popular nordestina. A experiência influenciaria sua produção de maneira notória.
Naturalizada brasileira em 1951, Achillina Bo nasceu em Roma, onde se formou em 1940, tendo trabalhado em Milão com o arquiteto Gio Ponti. Em 1946, no pós-guerra, casou-se com Pietro Maria Bardi e trocou a Itália pelo Brasil. Morreu aos 77 anos, em sua querida Casa de Vidro. A comemoração de seu centenário é bem-vinda tanto quanto a conservação de suas obras e o respeito a elas. Aquele mesmo MASP do (espera-se, para sempre) vão livre teve, por exemplo, o projeto expositivo concebido pela arquiteta alterado na gestão de Julio Neves, que presidiu a instituição de 1994 a 2008. Hoje, não mais se exibem as obras do acervo afixadas nos suportes de vidro com base de concreto. O resultado? “Uma geração inteira não pode conhecer a ideia original de Lina”, alerta Anelli.
São Paulo, Roma e NY abrigam exposições
O Sesc Pompeia, na capital paulista, trará, em setembro, a mostra A Arquitetura Política de Lina Bo Bardi, na qual os curadores Marcelo Ferraz e André Vainer enfocam três obras: o MASP, o Solar do Unhão e o próprio Sesc. O viés é dado pelos diferentes momentos da política brasileira em que os projetos se inserem: desde o desenvolvimentismo, passando pela ditadura militar até a reabertura gradual.A exposição será levada, posteriormente, a Roma.
Em paralelo, o centro cultural paulistano expõe Lina Gráfica, com curadoria de João Bandeira e Ana Avelar. “Terá ilustrações feitas por ela para a revista brasileira Habitat”, conta Elisa Maria Americano Saintive, gerente do Sesc Pompeia. A publicação foi criada em 1950 pela arquiteta.
Já em 2015, quatro projetos da profissional integrarão uma exposição sobre arquitetura latino-americana no MoMA, em Nova York. “Lina definiu um novo ethos e uma nova estética ao trabalhar estruturas históricas e criar instituições socialmente engajadas”, opina Barry Bergdoll, curador-chefe de arquitetura e design do museu americano.
Poltrona Bola
Sesc Pompeia
Cadeira Frei Egídio (1987), de Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, na Marcenaria Baraúna
Observar o vão livre do Museu de Arte de São Paulo – MASP tomado por participantes das recentes manifestações populares por um Brasil melhor emociona e faz pensar sobre o caráter libertário da produção de Lina Bo Bardi (1914-1992), autora desse ícone visual da capital paulista. Este ano, a profissional única e de atuação interdisciplinar, cujo legado marca a cultura brasileira, faria 100 anos. “Encaminhamos ao Ministério da Cultura um projeto que, para lembrar a efeméride, prevê desde exposições até a produção de um média-metragem e a reedição de livros sobre sua obra”, conta o arquiteto Renato Anelli, diretor do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. A sede da entidade fica na conhecida Casa de Vidro (1950), construção racionalista idealizada por Lina, no bairro paulistano do Morumbi, para viver com o marido, o historiador e crítico de arte Pietro Maria Bardi, criador do MASP, ao lado de Assis Chateaubriand.
Dentre outros projetos, destacam-se ainda o restauro do Solar do Unhão (1963), em Salvador, conjunto arquitetônico do século 17 que abriga o Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM-BA, e o Sesc Pompeia (1977), em São Paulo, antiga fábrica transformada em centro cultural. São espaços eminentemente democráticos. “O que vai além do ‘particular’, o que alcança o coletivo, pode (e, talvez, deve) ser monumental”, escrevera Lina em meados dos anos 1960. Para o arquiteto Marcelo Ferraz, as obras traduzem um traço fiel: “O desejo de transformar a realidade”. Ele e o também arquiteto André Vainer, que colaboraram com ela por 15 anos, são curadores de uma das exposições programadas para este ano.
Poltrona Bowl Bowl, agora editada pela Arper
Multifacetada, Lina foi também cenógrafa, editora, ilustradora e designer. Um exemplo emblemático de seu mobiliário é a poltrona Bowl (1951), orgânica e ajustável conforme o desejo do usuário, e agora editada industrialmente pela italiana Arper.
Há ainda belas peças de madeira, de desenho mais seco e essencial, como as cadeiras Girafa e Frei Egídio, desenvolvidas nos anos 1980 em parceria com Ferraz e o arquiteto Marcelo Suzuki.
Suzuki é também organizador e autor do projeto gráfico de um dos livros esgotados de Lina a serem reeditados: Tempos de Grossura: o Design no Impasse, postumamente publicado pelo instituto, em 1994. A publicação reúne textos reflexivos seus e de outros autores, como Jorge Amado, Ariano Suassuna e Glauber Rocha, acerca de uma produção genuinamente nacional e livre de contaminação estrangeira – denominada por ela “pré-artesanal”. Foi sobretudo entre os anos de 1958 e 1964, quando viveu em Salvador, que a profissional aprofundou-se na cultura popular nordestina. A experiência influenciaria sua produção de maneira notória.
Naturalizada brasileira em 1951, Achillina Bo nasceu em Roma, onde se formou em 1940, tendo trabalhado em Milão com o arquiteto Gio Ponti. Em 1946, no pós-guerra, casou-se com Pietro Maria Bardi e trocou a Itália pelo Brasil. Morreu aos 77 anos, em sua querida Casa de Vidro. A comemoração de seu centenário é bem-vinda tanto quanto a conservação de suas obras e o respeito a elas. Aquele mesmo MASP do (espera-se, para sempre) vão livre teve, por exemplo, o projeto expositivo concebido pela arquiteta alterado na gestão de Julio Neves, que presidiu a instituição de 1994 a 2008. Hoje, não mais se exibem as obras do acervo afixadas nos suportes de vidro com base de concreto. O resultado? “Uma geração inteira não pode conhecer a ideia original de Lina”, alerta Anelli.
São Paulo, Roma e NY abrigam exposições
O Sesc Pompeia, na capital paulista, trará, em setembro, a mostra A Arquitetura Política de Lina Bo Bardi, na qual os curadores Marcelo Ferraz e André Vainer enfocam três obras: o MASP, o Solar do Unhão e o próprio Sesc. O viés é dado pelos diferentes momentos da política brasileira em que os projetos se inserem: desde o desenvolvimentismo, passando pela ditadura militar até a reabertura gradual.A exposição será levada, posteriormente, a Roma.
Em paralelo, o centro cultural paulistano expõe Lina Gráfica, com curadoria de João Bandeira e Ana Avelar. “Terá ilustrações feitas por ela para a revista brasileira Habitat”, conta Elisa Maria Americano Saintive, gerente do Sesc Pompeia. A publicação foi criada em 1950 pela arquiteta.
Já em 2015, quatro projetos da profissional integrarão uma exposição sobre arquitetura latino-americana no MoMA, em Nova York. “Lina definiu um novo ethos e uma nova estética ao trabalhar estruturas históricas e criar instituições socialmente engajadas”, opina Barry Bergdoll, curador-chefe de arquitetura e design do museu americano.
Poltrona Bola
Sesc Pompeia
Cadeira Frei Egídio (1987), de Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, na Marcenaria Baraúna
Vista aérea do Masp
Escada desenhada pela arquiteta para o Solar do Unhão
Cadeira Girafa (1987), de Lina, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, na Marcenaria Baraúna
Centenário Lina Bo Bardi (Foto: Divulgação)
Escada desenhada pela arquiteta para o Solar do Unhão
Cadeira Girafa (1987), de Lina, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, na Marcenaria Baraúna
Centenário Lina Bo Bardi (Foto: Divulgação)
Fonte: Casa Vogue
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