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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pesquisando sobre casamentos na História da Arte, encontrei uma aula maravilhosa que revela porque a foto digital é herdeira das grandes pinturas.

O Casamento da Virgem, de Rafael: na Renascença, 
a pintura começou a registrar cenas da vida doméstica e urbana

O advento da fotografia alterou os rumos da humanidade. Hoje, fica difícil imaginar como seria o nosso repertório cultural se não fosse possível registrar em forma de imagens os grandes momentos históricos ou mesmo as situações banais do dia-a-dia. No entanto, esse processo – desenvolvido simultaneamente em três países no início do século XIX – evoluiu para o estágio da digitalização. As novas tecnologias acrescentaram certos exageros ao hábito de clicar a realidade. Nesta edição, VEJA analisa como a facilidade de fazer fotos digitais vem alterando o cotidiano de muita gente. O texto oferece até um pequeno manual de etiqueta para ser utilizado na frente e atrás das lentes. Discuta com a turma como a fotografia, herdeira da pintura, agregou-se de modo definitivo às nossas vidas.
Preparação da aula
Com uma semana de antecedência, peça que os alunos registrem por meio de textos, desenhos e fotos – tiradas com câmeras tradicionais, digitais ou de telefones celulares – acontecimentos que eles julguem importantes ou curiosos. O conjunto final deve ser organizado num álbum tradicional ou, de acordo com as possibilidades técnicas, em forma de blog ou fotolog na internet. A ideia é produzir algo semelhante aos antigos cadernos de viagem, criados pelos turistas com o auxílio de ilustrações antes da invenção da fotografia.
Francis G. Mayer/ Corbis/ Stock Photos
Moça com Brinco de Pérola, de Jan Vermeer: obra de referência para a fotografia

Antes da leitura de VEJA pelos alunos
Comente com os adolescentes que as pessoas sempre sentiram necessidade de registrar os fatos mais relevantes que elas presenciam. Para os nossos ancestrais pré-históricos, era o desenho de uma caçada – algo indispensável para sua sobrevivência – que contava na hora de ornamentar as cavernas. A partir do Renascimento, no século XV, o homem moderno passou a fixar em gravuras e pinturas batalhas reais, paisagens, passagens inspiradas na Bíblia e principalmente cenas domésticas – como cerimônias de casamento. Já no século XVIII, as descobertas arqueológicas e os ideais do romantismo, corrente estética que incentivava os indivíduos a visitar e valorizar lugares exóticos, deram impulso ao turismo, uma atividade que aos poucos transferiu a autoria dos registros de imagens das mãos dos mestres pintores para meros diletantes das artes.
Para debater
Passe agora à leitura da revista. Concluída essa etapa, pergunte o que existe em comum entre as situações de exagero relatadas por VEJA e os registros de viagem. Ouça os comentários. Em seguida, peça que os alunos exibam os álbuns preparados previamente. Que assuntos, cenas e lugares foram privilegiados? Quais os porquês das escolhas? Elas retratam eventos relevantes ou triviais? Estabeleça uma relação entre os elementos que se repetem nos vários álbuns, em especial a forma como as imagens foram feitas: closes, detalhes, tomadas panorâmicas, perspectivas, auto-retratos, cenas dinâmicas ou paradas, presença ou ausência de pessoas, composições alinhadas ou tortas, deformadas, desfocadas, coloridas ou em preto-e-branco etc.
Certamente haverá uma repetição considerável de temas e situações. Explique que isso não significa falta de criatividade, mas indica que temos uma intenção deliberada de imitar o que outros já fizeram. Por exemplo: os turistas que visitam o Corcovado, no Rio de Janeiro, têm a idéia de serem fotografados com os braços abertos, à maneira do Cristo Redentor. O mesmo ocorre com quem vai a Pisa, na Itália, e quer aparecer num retrato fingindo que segura a famosa torre inclinada. Ajude os adolescentes a perceber que esses gestos se baseiam em imagens estereotípicas – aquelas que são repetidas por todo mundo. Vale lembrar que os estereótipos são sempre construídos a partir de modelos, os chamados arquétipos, expressão derivada do termo latino archi, que significa o primeiro, o pioneiro, o original. Imitar, nesse caso, não tem o mesmo sentido de copiar algo, mas representa o desejo de reconstruir de um jeito próprio aquilo que outros já realizaram. Ressalte que isso é importante, pois nos ajuda a desenvolver gostos, experimentar escolhas e formar personalidade própria.

Álbum de recordações
Os registros pictóricos e fotográficos acompanham o homem ao longo da história. Na seqüência abaixo, exemplos da evolução da linguagem da pintura para a fotografia. No alto, paisagem de Olinda pintada pelo holandês Franz Post no século XVII; no centro, a primeira fotografia da história, tirada em 1829 pelo francês Nicéphore Niépce da janela de um sótão. Por fim, uma panorâmica do Rio de Janeiro clicada pelo também francês Marc Ferrez em 1890.
Ruínas da Sé de Olinda, de Franz Post
Ponto de Vista da Janela, de Niépce
Rio de Janeiro, de Marc Ferrez



Para ir mais longe
Trace um paralelo entre o fenômeno que deu mote à reportagem de VEJA, a prática de registrar imagens pelos viajantes e a criação da fotografia. Conte que no século XVII o pintor holandês Franz Post, entre outros, veio ao Brasil e produziu pinturas a óleo sobre a fauna, a flora, as cidades e os tipos humanos que viu. Na mesma época, seu conterrâneo Jan Vermeer pintava quadros com o auxílio de instrumentos ópticos, utilizando técnicas apuradas de claro–escuro que séculos depois seriam empregadas pelos fotógrafos. Informe que a fotografia foi criada, simultaneamente, no início do século XIX pelos franceses Nicéphore Niépce, o inglês Willian Fox- Talbot e o brasileiro Hércules Florence como forma de agilizar, baratear e multiplicar a fixação de imagens, em substituição aos antigos métodos da gravura de estampas. Com a popularização da técnica, profissionais como o francês Marc Ferrez deram continuidade à tradição de efetuar registros pictóricos de viagens.
Evoluída das câmeras obscuras do Renascimento – sistemas ópticos que ajudavam os artistas a desenhar em perspectiva –, as máquinas fotográficas tornaram-se rapidamente “caixas pretas que cospem imagens ao simples apertar de um botão”, na visão do filósofo Vilém Flusser. Se houver tempo e interesse, encaminhe uma pesquisa sobre os grandes fotógrafos do século XX. Forneça alguns nomes como ponto de partida para a atividade: o francês Henri Cartier-Bresson, o americano Robert Capa e o brasileiro Sebastião Salgado são ótimas sugestões.


Roteiro proposto por Marco Antonio Pasqualini de Andrade, professor de História da Arte da Universidade Federal de Uberlândia (MG)



FONTE: VEJA

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