A neurociência a serviço da arquitetura
Museu Guggenheim, em Bilbao, na Espanha, de Frank Ghery
Philip Johnson (1906-2005) foi um grande arquiteto norte-americano. Um de seus grandes feitos foi criar o Departamento de Arquitetura e Design no MoMA, em Nova York. Quando este homem visitou o Museu Guggenheim, em Bilbao, na Espanha, ele se debulhou em lágrimas. Algo naquela arquitetura, de Frank Ghery, mexeu com suas emoções. Mas o que? Bem, algo que toma o emocional de diversas pessoas, uma vez que o edifício em questão costuma figurar em listas diversas que elencam as mais importantes obras modernas.
O que os cientistas começam a desvendar é que talvez tenham sido as curvas da sinuosa fachada do museu que levou Johnson às lágrimas. Recentemente, o psicólogo Oshin Vartanian, que trabalha junto à Universidade de Toronto, conduziu uma séria pesquisa sobre a influência das formas curvas e lineares no cérebro humano. Sua técnica era para lá de simples. Ele submetia voluntários à tomografia enquanto mostrava-lhes 200 imagens pré-selecionadas. A tarefa dos voluntários era meramente dizer “bonito” ou “feio”.
O que Vartanian descobriu é que a afeição humana pelas curvas pouco tem a ver com gosto pessoal. Trata-se de um traço neurológico. Tanto homens, quanto mulheres tem a tendência de escolher o relógio de mostrador oval ao modelo retilíneo; de gostar de tipografias arredondadas; de escolher a marca de fio dental cuja embalagem apresenta formas circulares. Parece que Steve Jobs estava certo em apostar todas as suas fichas – ou quase todas elas – no design. Mais do que agradar ele atinge o usuário num nível emocional.
Casa que John Lautner criou em 1973 para Bob Hope na Califórnia
As imagens captadas na tomografia são o grande embasamento desta tese. Vartanian notou que quando os voluntários miravam formas curvas e ponderavam sobre elas aparecia intensa atividade na área do cérebro chamada córtex cingulado anterior, o que não acontecia quando imagens que revelavam peças retas eram mostradas. Tal fatia é responsável por diversas funções cognitivas, mas a principal delas é o envolvimento emocional. Assim, a reação de Johnson passa a fazer total sentido.
Mas por que as curvas são capazes de proporcionar um prazer tão visceral?
Alguns especialistas acreditam que a resposta paira no campo do instinto de sobrevivência. Moshe Bar, neurocientista que atua junto à Escola de Medicina da Harvard, é um deles. Uma de suas pesquisas, realizada há alguns anos, comprovou que quando alguém vê elementos com terminações retas a amídala é ativada. Esta é a parte do cérebro que processa o medo. Bar e seu colega Maital Neta propõem que o cérebro associa as linhas retas ao perigo pois objetos afiados tendem a ser uma ameaça.
As imagens captadas na tomografia são o grande embasamento desta tese. Vartanian notou que quando os voluntários miravam formas curvas e ponderavam sobre elas aparecia intensa atividade na área do cérebro chamada córtex cingulado anterior, o que não acontecia quando imagens que revelavam peças retas eram mostradas. Tal fatia é responsável por diversas funções cognitivas, mas a principal delas é o envolvimento emocional. Assim, a reação de Johnson passa a fazer total sentido.
Mas por que as curvas são capazes de proporcionar um prazer tão visceral?
Alguns especialistas acreditam que a resposta paira no campo do instinto de sobrevivência. Moshe Bar, neurocientista que atua junto à Escola de Medicina da Harvard, é um deles. Uma de suas pesquisas, realizada há alguns anos, comprovou que quando alguém vê elementos com terminações retas a amídala é ativada. Esta é a parte do cérebro que processa o medo. Bar e seu colega Maital Neta propõem que o cérebro associa as linhas retas ao perigo pois objetos afiados tendem a ser uma ameaça.
Casa Leonel Miranda, no Rio de Janeiro, projeto de 1955 por Niemeyer
“Em outras palavras”, diz Vartanian, “preferimos as curvas, pois elas nos parecem menos ameaçadoras, ou, mais seguras.”
É, no entanto, aconselhável não extrair destes estudos pareceres absolutos. Há linhas retas que muito agradam o grande público, como o skyline nova-iorquino, e algumas curvas que metem medo, como as de uma serpente. Nem toda comparação reta versus curva deve ser traduzida em “faca versus colher”. A cultura e o contexto podem alterar a percepção da realidade e o sentido que damos a ela.
Além disso, nem toda curva é melhor que uma reta em termos de design. Se os pesquisadores tivessem perguntado aos voluntários qual peça era mais funcional, eficiente ou prática, talvez eles obtivessem outros resultados. (De fato, essa é a questão sobre a qual Vartanian está se debruçando no momento). Cabe lembrar que a beleza emocionante do museu em Bilbao só foi possível devido a diversos caminhões bem quadrados.
Ou seja: o que seria da curva, sem uma boa reta?
Cheia de curvas, tipografia desenvolvida para os jogos olímpicos do Rio homenageia os cariocas
O banco Marquesa, de Niemeyer, faz parte do mobiliário do Palácio do Planalto, em Brasília
Os talheres ovais dos Bouroullec para a Alessi
Museu Nacional do Complexo Cultural da República, criado por Niemeyer em 2012
“Em outras palavras”, diz Vartanian, “preferimos as curvas, pois elas nos parecem menos ameaçadoras, ou, mais seguras.”
É, no entanto, aconselhável não extrair destes estudos pareceres absolutos. Há linhas retas que muito agradam o grande público, como o skyline nova-iorquino, e algumas curvas que metem medo, como as de uma serpente. Nem toda comparação reta versus curva deve ser traduzida em “faca versus colher”. A cultura e o contexto podem alterar a percepção da realidade e o sentido que damos a ela.
Além disso, nem toda curva é melhor que uma reta em termos de design. Se os pesquisadores tivessem perguntado aos voluntários qual peça era mais funcional, eficiente ou prática, talvez eles obtivessem outros resultados. (De fato, essa é a questão sobre a qual Vartanian está se debruçando no momento). Cabe lembrar que a beleza emocionante do museu em Bilbao só foi possível devido a diversos caminhões bem quadrados.
Ou seja: o que seria da curva, sem uma boa reta?
Cheia de curvas, tipografia desenvolvida para os jogos olímpicos do Rio homenageia os cariocas
O banco Marquesa, de Niemeyer, faz parte do mobiliário do Palácio do Planalto, em Brasília
Os talheres ovais dos Bouroullec para a Alessi
Museu Nacional do Complexo Cultural da República, criado por Niemeyer em 2012
Série de luminárias Nuno, do estúdio Nendo, para a fábrica espanhola Vibia
Fonte: Casa Vogue
Nenhum comentário:
Postar um comentário