Criado em janeiro de 2011, na capital do Brasil, em almoços entre amigos em uma república da Asa Norte, o Coletivo Transverso já começava a dar suas primeiras “contrações” entre compartilhamento de técnicas e ideias sobre arte urbana. Após a criação das primeiras máscaras de stencil o grupo tornou os encontros cada vez mais constantes e o embrião já mais formadinho estava prestes a botar a cara pra fora e viver esse mundão.São Caetano do Sul – SP/ Foto: Cauê Novaes
Formado por Cauê Novaes (poeta), Patrícia Del Rey (poeta e atriz) e Patrícia Bagniewski (artista plástica) o coletivo trabalha com arte urbana e poesia e procura desenvolver uma estética própria por meio da realização de intervenções urbanas autorais.
“Pra gente, as intervenções são instantes de desvio. São formas de tirar o passante da sua rotina cega. Normalmente, temos olhos viciados. Quando somos surpreendidos por algo novo no caminho, percebemos a cidade como um elemento vivo. Com uma dramaturgia própria que pode ser modificada diariamente. Um poema aberto. Isso faz, com que o passante se insira/aproprie na própria cidade”, explicam.
Quando uma ideia ou frase é escolhida para uma intervenção, geralmente ela passa por várias reformulações. Se escritores como Graciliano Ramos, por exemplo, comparam o ofício do escritor ao do artesão, que precisa serrar, polir, lixar, até que reste somente a obra finalizada, no caso do stencil, essa aproximação deixa de ser mera metáfora.
O coletivo também usa em suas intervenções técnicas como o lambe lambe, aplicação de adesivos, de placas, lonas, performances, projeção, entre outras.São Paulo – SPSão Paulo / Foto: Cauê Novaes.Coletivo Transverso + Andaime Cia de Teatro
Brasília / Foto: João QueiroloNÃO PISE NOS OUTROS – Parque Augusta – São Paulo/ Foto: Cauê Novaes
Cada intervenção tem processos diferentes de criação, planejamento, produção, execução, registro e divulgação. Nesses quase 3 anos de existência, o Transverso, já realizou mais de 400intervenções, em diversas cidades brasileiras e alguns países, como China, Inglaterra, Portugal e Alemanha.
Barcelona, Espanha / Foto: Alzira BosaipoColetivo Transverso em alemão, em Berlim- Tradução de Diego Baptista./ Foto: Larissa AlberttiYangshuo, China.
“Nós não assinamos nossas composições, buscamos antes a construção de uma identidade, e a formação de um público que reconheça nossa estética e nossa poesia. Pra a gente é importante que leitor/fruidor se insira na obra, se aproprie daquela frase. Quando a gente lê algo com assinatura, a obra é do autor e logo nos distanciamos. O anonimato permite a aproximação. O poema é dos olhos de quem lê”, definem.
As mensagens deixadas pelo coletivo geralmente giram quase em sua maior parte, em torno do tema amor. É quase como romancear aquela coisa toda cinza. Uma pausa leve pras caminhadas no meio da cidade grande, quase sem espaços vazios.
“Todas as formas artísticas já trataram do amor. É clichê, mas a gente adora. Vivemos a era do Amor Líquido, das relações efêmeras, instantâneas. Há novas formas de relações, outros acordos. Talvez ao ver um poema de amor em um concreto frio, o fruidor se sinta contemplado, cúmplice. Como se a cidade refletisse também esse sentimento”, explicam.Brasília – DFLapa, Rio de Janeiro / Foto de Raquel Loback.
Hoje o coletivo já perdeu o controle sobre a amplitude de suas intervenções.Com quase 18 mil seguidores no Facebook e muitos colaboradores, muita gente já participou de pelo menos uma etapa do processo criativo, das oficinas ministradas por eles ou por conta própria.
“Disponibilizamos para download alguns arquivos de lambe-lambe para que as pessoas imprimam e colem em suas cidades, de forma que temos nossos poemas colados em lugares onde nunca fomos. Outras pessoas nos dizem que fomos uma inspiração para a realização de seus trabalhos autorais, o que vai bem na linha do que desejamos desde o princípio, e que tem a ver com a nossa recusa da assinatura. Queremos que as pessoas se apropriem da rua e da poesia, de forma que se sintam livres também para criarem seus próprios poema”, contam.
Minhocão, São Paulo- Coletivo Transverso + Paulestinos + Casadalapa./ Foto: Cauê Novaes.Av. Eliseu de Almeida./ Foto: Cauê Novaes.
Para eles, a arte de rua permanece como um espaço de insurgênciade vozes muitas vezes ausentes da mídia tradicional e da publicidade. Pela falta de vigilância absoluta 24h por dia, e mesmo se houver, acreditam que existem pessoas dispostas a se arriscar para dizer o pensam, ou para deixar alguma marca nas paredes.
“Tantas vezes feita no escuro, em local proibido, com materiais inapropriados, arte de pivetes e trombadinhas, geralmente má interpretada pela polícia e pelos proprietários, a arte urbana contempla o erro, o incompleto, o imperfeito, mas também o singelo, o infantil e o efêmero. E dessa contradição vem uma força expressiva bem particular”, definem.
Coletivo Transverso na Casa da Lua Áudio – São Paulo / Foto: Cauê Novaes.
A motivação do coletivo que leva a continuar com as intervenções é vista como uma espécie de vício e pelo andar da carruagem, não deve parar tão cedo, na verdade não pode parar.
“As interações na rua, no contexto da realização da arte urbana, são muito particulares, difíceis de imaginar em outro lugar. Da primeira vez que saímos para colar o lambe-lambe com o dizer “Espaço destinado à poesia”, por exemplo, um pedestre nos abordou e terminou declamando um poema de sua autoria. Quantas vezes ouvimos poemas de desconhecidos no meio da rua? Esta mesma parede, que era branca antes do lambe, hoje está coberta de poemas e desenhos, de pessoas diferentes que passaram por ali e se sentiram autorizadas a expressar algo que talvez já levassem entalado há algum tempo. É um desejo básico de comunicação, de solidariedade, de expressar e tentar compreender a vida que levamos”.Av. Eliseu de Almeida, São Paulo/ Foto: Cauê Novaes
A motivação do coletivo que leva a continuar com as intervenções é vista como uma espécie de vício e pelo andar da carruagem, não deve parar tão cedo, na verdade não pode parar.
“As interações na rua, no contexto da realização da arte urbana, são muito particulares, difíceis de imaginar em outro lugar. Da primeira vez que saímos para colar o lambe-lambe com o dizer “Espaço destinado à poesia”, por exemplo, um pedestre nos abordou e terminou declamando um poema de sua autoria. Quantas vezes ouvimos poemas de desconhecidos no meio da rua? Esta mesma parede, que era branca antes do lambe, hoje está coberta de poemas e desenhos, de pessoas diferentes que passaram por ali e se sentiram autorizadas a expressar algo que talvez já levassem entalado há algum tempo. É um desejo básico de comunicação, de solidariedade, de expressar e tentar compreender a vida que levamos”.Av. Eliseu de Almeida, São Paulo/ Foto: Cauê Novaes
Fonte: Coletivo Transverso
Nenhum comentário:
Postar um comentário