OLHA, VÊ- O seu livro “Cartas a um jovem fotógrafo – O mundo através das lentes” já começa com uma constatação bem realista e, de certa forma, íntima: “A fotografia é antes de tudo meu ofício, o que tecnicamente sei fazer, [...]”. Atualmente, acho bastante pertinente relacionar “ofício” com o fazer fotográfico. Como este ofício, a técnica, flui em pensamentos e ideias no seu trabalho?
BOB WOLFENSON Bom, como digo em meu livro, não sou escravo da técnica no sentido em que vejo muitos fotógrafos serem, aqueles que têm um cem número de equipamentos e ficam um pouco a mercê deles e dos efeitos fáceis. Mas, respondendo mais diretamente a sua pergunta, eu diria que não tenho uma única premissa. Muitas vezes, opero uma 35mm sem grandes preocupações, sem nenhum assistente como fiz agora com um trabalho que lancei: Cinépolis. Outras vezes, trabalho com uma câmera 8×10, que pressupõe um aparato grande em volta e no mínimo, 2 assistentes, pra ficar só nestes 2 exemplos, ou seja, cada trabalho que penso ou que invento esta diretamente relacionado com sua possibilidade ou impossibilidade técnica. Se bem que, acho sempre bom pensar na impossibilidade como algo a ser superado.
BOB WOLFENSON Foi mais uma contingência de vida do que propriamente uma vocação descoberta. Quando eu tinha 16 anos, meu pai faleceu, resolvi trabalhar e o trabalho que arranjei foi no estúdio fotográfico da Editora Abril, na época, dirigido pelo grande fotógrafo cearense Chico Albuquerque. A partir daí fui me tornando, digamos assim, mais vocacionado para a coisa, mas só realmente alguns anos mais tarde é que me dediquei a ser fotógrafo em tempo integral.
OLHA, VÊ- Você fala que a “divulgação” da sua experiência americana havia funcionado para conseguir um editorial na Vogue, dirigida por Regina Guerreiro, mesmo sem apresentar portfólio. Todo o livro está recheado de observações bem serenas de como foi a sua trajetória na fotografia. De certa forma, você se abre bastante. Ainda hoje, existe essa coisa de fulano “veio” de Nova York. Sicrano trabalhou com Avedon, etc?
BOB WOLFENSON Hoje acho que menos, o mundo diminuiu de tamanho, e ter estado em Nova York já não é uma experiência tão difícil, no sentido que mais pessoas têm acesso a informações, na época somente possíveis in loco. Porém, alguém que tenha trabalhado com Avedon teria um grande currículo na mão em qualquer lugar do mundo, inclusive em Nova York.
OLHA, VÊ- Você cita que no início havia uma “rivalidade” com J. R. Duran que dura até hoje, e até confessa que foi a “propulsão do seu desenvolvimento”. Você fala em opostos. Que opostos são esses?
BOB WOLFENSON Sei lá, talvez algo ligado as nossas personalidades, e portanto ao nosso trabalho. Entendo um pouco o que esta subjacente à sua questão, pois quem está olhando para o tipo de fotografia que nós dois exercemos, acha que somos da mesma cepa e, de fato, muitas vezes somos confundidos. De qualquer maneira, este “confronto”, seja com quem for, sempre é um fator de crescimento. Quando se olha para o trabalho de um outro com alguma admiração, em geral, penso que ideia sensacional porque não pensei eu nisso, e tenho que me mexer.
BOB WOLFENSON Salvo raras exceções, a fotografia publicitária sempre foi isso. É uma engrenagem muito grande com muitas instâncias de aprovação, e sempre tem um cliente/agência que quer vender sua marca e/ou produto, contra um fotógrafo com veleidades artísticas e muitas vezes ideológicas. No entanto, depois de anos de experiência, acho que a fotografia publicitária não é o palco apropriado para este embate. É lógico, que não se deve abandonar princípios de integridade e eficiência, mas é necessário se entender o alcance deste tipo de trabalho para o fotógrafo. Contudo, o que ocorre hoje é que a fotografia publicitária deixou quase de ser fotografia pura. Ela é quase sempre uma montagem de vários clicks, o que justifica um pouco a anulação da autoria para o fotógrafo. O fotógrafo publicitário equivale a um DJ que mistura ritmos e amplia outras músicas (as tais referências que você alude acima), para fazer o seu singular trabalho. Não acho isso, nem melhor nem pior do que antes é o que é.
OLHA, VÊ- Tem um trecho do livro que você analisa: “Estamos vivendo em uma época de imagens demais, nos intoxicamos de tanta informação visual. [...] Todos os temas parecem já ter sido explorados, o que torna nossa vida muito difícil. [...]”. O fotógrafo deve pensar sempre em fazer o “novo”? O “novo” não seria a visão de cada autor?
BOB WOLFENSON Você tem razão, concordo plenamente, mas a questão é a profusão de imagens a que estamos submetidos o que torna esta “visão” difícil de ser encontrada.
BOB WOLFENSON Eu acho hoje mais gostoso, se é a isso que você se refere. Em termos de processo, de ritual, houve uma alteração monumental, olha bem, eu trabalhei por mais de 30 anos no processo analógico, fiz uma passagem para o digital há uns 3 anos e não tenho saudades do processo anterior no que diz respeito a feitura do trabalho. Em termos de resultado técnico, acho que, há ainda alguns degraus a subir.
Fonte : http://www.olhave.com.br/
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