EQUIPE DE JUDEUS ENGANOU GENERAL NAZISTA (FOTO: CREATIVECOMMONS/FLICKR/ ADAM.DECLERCQ)
Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha era atacada por algo além dos aliados - o tifo estava matando tropas e mais tropas do exercido alemão, fazendo com que a pressão da alta cúpula para uma resposta da equipe médica da SS começasse a aumentar.
Um dos principais fatores para isso, no entanto, não era exatamente o número de mortes, mas, sim, o viés ideológico e orgulhoso alemão da época. Também incomodava – e muito – o fato do tifo ser causado por um piolho, algo que só poderia ser encontrado em “sub-humanos como judeus", na ótica nazista. Prova disso foi o ainda maior isolamento dos guetos judeus com o intuito de não expandir a doença das grandes aglomerações aos bairros alemães.
Para tentar controlar a nova peste, o chefe do instituto de higiene da SS Joachim Mrugowsky reuniu uma equipe a fim de produzir uma vacina que pudesse salvar os soldados em conflito. Chamou um jovem general e uma equipe de detentos judeus para tal realização. Ao mesmo tempo alguns doutores trabalhavam paralelamente em Paris com o mesmo fim.
O problema, no entanto, é que fazer uma vacina não é algo fácil ou rápido, e os cientistas alemães começaram a encontrar problemas. Com isso, a equipe dos detentos se viu ainda mais pressionada por resultados. Depois de duas vacinas falharem completamente, o general Ding-Schuler resolveu chamar Ludwik Fleck, um biólogo judeu, para ajudar na produção.
Mas como os médicos nazistas estavam completamente perdidos, Fleck e seus colegas detentos iniciaram uma produção diferente de vacinas. Como pode ser encontrado na obra de Arthur Allen, "The Fantastic Laboratory of Dr. Fleck", ainda sem tradução para o português, Fleck começou a trabalhar em duas vacinas distintas, uma “sem valor algum, que seria levada aos soldados da linha de frente” e uma “para os camaradas que trabalharam em péssimas condições no campo”. Ou seja, os nazistas estavam recebendo o placebo enquanto judeus eram tratados. Segundo o livro de Allen, Ludwik Fleck também falou: “o comando nunca foi capaz de saber diferenciar uma da outra. Enviaram 30 de 40 litros de vacina aos soldados e isso os deixaram felizes”.
Anos depois, já durante os julgamentos dos oficiais nazistas em Nuremberg, foi reportado que Fleck comentou sobre o caso: “Os cientistas e empregados que estiveram no processo da criação da vacina contra o tifo eram analfabetos cientificamente e não tinham ideia do que acontecia por lá. Ding-Schuler [o general] era um ignorante que não percebeu o que fizemos”.
Ainda durante o julgamento, Joachim Mrugowsky – que fez parte da criação do gás das câmaras de Aushwitz e protagonizou quase todos os principais experimentos nazistas – se mostrou surpreso e indignado. Acusando Fleck e seus companheiros por terem violado os “códigos éticos médicos”, o chefe disse: “A atitude deles nada têm a ver com os conceitos humanos”.
Via Politico
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