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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Viva Ary Barroso!

Coisas de Ary

Alguém estranhou que eu censurasse a mania de dar nomes
estrangeiros aos nossos bares e buates quando é estrangeiro o nome desta seção Eu esperava por isso. A turma não perde chance para um pichezinho. Entretanto, meus amigos, no vejo contradição nenhuma na história. Batizar um centro noturno brasileiro com nome estrangeiro - e nome pernóstico - é puro esnobismo. Há milhares de lindos e expressivos nomes em nosso idioma que ficariam muito bem na fachada de qualquer bar ou de qualquer buate. Agora pergunto: ocorre o mesmo para as bebidas elegantes? Qual o nome nacional que substituiria o de "champagne", o de "scotch and soda", o de "cognac"? Queriam que esta coluna se chamasse: "batida paulista", "traçado", "cachaça", "mata-bicho", "vinho branco", "aguardente" ou coisas mais ou menos assim? Não seria a mesma coisa. "Scotch and soda" é como "Rum-and-coca-cola" - expressões universais que não tem similares em outras línguas. "Scotch-and-soda" é, sem dúvida, a bebida da noite e, particularmente, das reuniões de certa classe. Como "champagne". Ninguém seria capaz de "levantar a taça" de... Brahma Porter no desfecho de um banquete. Além do mais "scotch and soda" - é uma síntese. Ao redor de um copo de "scotch and soda" desenvolve-se um mundo de coisas rnuito diferentes das coisas que se passam à sombra de uma garrafa de "Ipioca" ou de uma "Barriguda"... com tremoços. Dadas essas explicações, fracas, porém sinceras, acredito que "as nuvens fugiram com medo do azul-azul que tomou conta do céu". Tá?







Novidades

Rádio batuta - como e por que nascem as canções - Aquarela do Brasil
- 05/06/2013

Até Garota de Ipanema nascer, Aquarela do Brasil foi a música brasileira mais tocada e gravada no exterior, normalmente sob o título Brazil, como na interpretação de Frank Sinatra. Ary Barroso mudou algumas vezes sua versão sobre como surgiu o samba, sem nunca economizar no tom heroico. Lançada por Aracy Cortes, a música ganhou famoso registro de Francisco Alves, com orquestração de Radamés Gnattali.

Edição e sonorização: Filipe Di Castro

http://www.radiobatuta.com.br/Episodes/view/286 
  
Minha vida foi uma luta terrível... (s/ título)
Ary Barroso

Minha vida foi uma luta terrível, obstinada e penosa. Minhas armas de defesa foram:

Idealismo, escrúpulo, trabalho, caráter, produção e, acima de tudo, fé, FÉ INQUEBRANTÁVEL!...
Assim consegui superar incompreensões, transpor abismos, galgar alturas, esmagar a maledicência e sair do outro lado com a cabeça erguida, a consciência limpa e as mãos incólumes ao crime.

Tudo o que fui, devo em primeiro lugar à propaganda que de mim fêz a minha música. Em segundo, a minha capacidade de luta e de renúncia; e sobretudo a um pouco de ingenuidade. Uma ingenuidade que pode ser condenável num homem que vive do que produz, mas, uma ingenuidade que trocada em medalhas, em louros, serviu para que eu hoje não tenha nada que dizer do meu passado.

Formei meu caráter e minha sensibilidade ao embate de fatigantes lutas. Jamais tergiversei e nunca me amedrontei. Por isso, pela flama com que combato aquilo que, no esporte, na música e na política, me parece errado, julgam-me um homem do contra. Mas, não. Sou, isto sim, um homem de fibra inamoldável e de temperamento inamolgável. Não participo do que julgo capaz de melindrar a justiça e o direito.

Minha vida sempre foi um mar encapelado. Detesto a superfície parada das lagoas. Se fui vitorioso, foi porque abri minha alma à luta com entusiasmo e esperança.

Foi uma contribuição modesta à música brasileira e esta é uma viagem ao passado, não com o fito de mostrar ruínas históricas, mas para ao longo do caminho, mostrar episódios marcantes da minha vida, numa contribuição para todos que se deixaram encharcar de materialismo e, que dominados pela frivolidade, inspirados no imediatismo, pensam que o mundo é só o dia que passa e que o futuro a "Deus pertence". Fórmula negativa de viver, já que há enorme diferença entre "viver" e "deixar-se viver".

Viver é plantar a semente, cuidar da árvore, colhêr os frutos, matar a fome...
Deixar-se viver é repetir o destino do tronco que a corrente carrega ninguém sabe para onde e para quê, acabando às vêzes engastalhado entre seixos ou largado na planície, apodrecendo a intempérie definitivamente inútil.

Um turbilhão! Eis aí a minha vida...



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