Em 2007 fui convidada a participar de uma palestra com o psicanalista e escritor Rubem Alves na cidade de Lavras/MG. A palestra durou cerca de duas horas mais ou menos, e foi maravilhosa! Ao final, Rubem Alves já despedindo da plateia falou o seguinte: “Vou lhes contar uma história que já contei muitas vezes...”
“Um homem caminhava por uma floresta. Estava escuro porque a noite se aproximava. De repente ele ouviu um rugido terrível. Era um leão. Ele ficou com muito medo e começou a correr. Mas ele não viu o caminho por onde ia porque estava escuro e caiu num precipício.
No desespero da queda ele se agarrou ao galho de uma árvore que se projetava sobre o abismo. Lá em cima, na beirada do abismo, o leão. Lá em baixo, no fundo do abismo, as pedras. E foi então que, olhando para a parede do abismo ele viu que ali crescia uma planta verde que tinha um fruto vermelho: era um morango. Ele então estendeu o seu braço, colheu o morango e o comeu. Estava delicioso.”
Assim ele terminou a história deixando em todos a sensação de um “frustrante vazio”... As pessoas começaram a perguntar: “Mas e o homem? Ele caiu ou não caiu? Ele respondeu: E o que importa? Quem está dependurado é você, sou eu. Mais cedo ou mais tarde cairemos. Mas é melhor cair com a barriga cheia de morangos que com a barriga vazia... A vida é assim. Sei que estou pendurado sobre o abismo. Mas há muitos morangos a serem comidos... Eu comerei todos os morangos que puder, antes de cair...
Os morangos não são os mesmos para todas as pessoas, portanto, saiam por ai... vão comer os morangos que estão por toda parte esperando por vocês!...”
Saí da palestra com uma sensação “gostosa”... Não sei explicar muito bem o que sentia naquele momento...
Andando pela rua fiquei refletindo sobre as palavras de Rubem Alves... "Coma os morangos...."
Usando a metáfora da história, fui refletindo sobre o passado, presente e futuro...
Entendi que o topo do precipício representa o passado. É onde o homem esteve e de onde ele vem. Em termos de história pessoal, esta metáfora representa todas as experiências e memórias do que já vivemos. Tentar voltar ao topo do precipício seria “revisitar” o passado.
O leão no topo representa o perigo de insistir no passado. Representa também a impossibilidade de voltar no tempo para corrigir alguma coisa. Algumas vezes gostaríamos de voltar o relógio e refazer algumas coisas. Infelizmente, o caminho do tempo não tem volta - o leão assustador vigia o topo do precipício, e nós, meros mortais, não podemos passar.
A base do precipício representa o futuro. É uma terra desconhecida, um capítulo não escrito. O futuro contém todos os seus sonhos e medos, aspirações e desapontamentos, vitórias potenciais e possíveis fracassos. É o misterioso e incerto domínio do amanhã.
A posição do homem entre o leão e as pedras representa o presente. Ele está suspenso no meio do precipício. Da mesma forma, também vivemos suspensos entre o passado e o futuro.
O morango representa a beleza inesperada, a energia e a vitalidade do momento presente. Está sempre aqui. Colher o morango é aproveitar o momento. E só faremos isso se estivermos conscientes do presente.
A hora para se comer morangos é sempre agora. O passado já foi. O futuro ainda não chegou. Passado e futuro são tempos que não fazem parte da nossa vida. O único tempo que está vivo e nos pertence é o agora. Então, é nesse agora que estamos vivendo que devemos comer o nosso primeiro morango.
Não se esqueçam, “o passado já foi vivido, o futuro é um mistério e o agora é uma dádiva, por isto é presente”.
Portanto, Coma seus morangos, mesmo que para isso você precise chegar à beira do precipício...
Alfa Borges
2 comentários:
Querida,
que bela reflexão para começar uma linda e ensolarada manhã de domingo!
Encantei-me.Terei mais cuidado para não deixar de saborear meus bons momentos.
Obrigada por compartilhar esta palestra e as lições recebidas.
Brisas e flores para você.Bjs Eloah
Sou eu quem agradeço Eloah pelos morangos que juntos se apresentam com suas deliciosas palavras. Amo você! Bom domingo! Beijos.
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