terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Metade







Metade



Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio.




Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza que
a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante
porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.




Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem
repetidas com fervor apenas respeitadas como a única coisa que resta 
a um homem inundado de sentimentos, porque metade de mim é 
o que ouço mas a outra metade é o que calo.




Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na 
paz que eu mereço e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada, porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.




Que o medo da solidão se afaste que o convívio comigo mesmo se
torne ao menos suportável que o espelho reflita em meu rosto num 
doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância 
porque metade de mim é a lembrança do que fui 
a outra metade não sei. 




Que não seja preciso mais do que uma simples alegria 
pra me fazer aquietar o espírito e que o teu silêncio me fale 
cada vez mais porque metade de mim é abrigo 
mas a outra metade é cansaço. 


Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba 
e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade 
pra fazê-la florescer porque metade de mim é platéia 
e a outra metade é canção. 


E que a minha loucura seja perdoada 
porque metade de mim é amor 
e a outra metade também.




( Música: Metade - Osvaldo Montenegro)


Foto de Domingos Souza.

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