terça-feira, 11 de dezembro de 2012
A HISTÓRIA DO NATAL - PARTE 1
Conheça a história do Natal e descubra sua origem e simbologia, que remontam aos milenares rituais pagãos.
Mosaico do Imperador Aureliano - Basílica de São Pedro, Itália, século 3
Os relatos históricos das comemorações do Natal antecedem de 2 a 4 mil anos o nascimento de Cristo. Durante a desintegração do Império Romano, muitos povos "bárbaros" que chegaram à Europa trouxeram consigo uma série de tradições que definiam a sua própria identidade religiosa. Nesse mesmo período, a expansão do cristianismo foi marcada por uma série de adaptações, de modo que as divindades, festas e mitos das religiões (até então pagãs) foram incorporados ao universo cristão.
Na Mesopotâmia, o antigo festival Zagmuk simbolizava a passagem de um ano para outro e geralmente durava 12 dias. Em 1896, Morris Jastrow, um pesquisador de estudos relacionados às sociedades orientais, declarou para o Jornal Americano de Linguagem Semiótica e Literatura que, no início do mês de Nisan, os babilônios celebravam o festival de Zagmuk com sacrifícios e oferendas. Passando pelas principais ruas da Babilônia eles carregavam Marduk, sua esposa e filho, entre outros deuses. A lenda dizia que, durante o solstício de inverno, o rei deveria morrer ao lado de Marduk, para ajudá-lo na batalha contra os monstros do caos (a escuridão). Entretanto, para poupar o rei, um criminoso era vestido com suas roupas e tratado com todos os privilégios do monarca para então ser morto e levar consigo todos os pecados do povo.
Marduk, o Deus-Sol da Babilônia, e seu dragão Tiamat
Um ritual semelhante, conhecido como Sacae (versão latinizada do iraniano arcaico,Sakā), também era realizado pelos persas e babilônios. Sob os mesmos pilares da luta contra a escuridão, a versão também contava com escravos tomando lugar de seus mestres. Jany comenta que nossa tradição de celebrar o Natal à meia-noite possivelmente remonta a estes rituais pagãos: "Por conta da relação luz/escuridão trazida pela simbologia do solstício, a teoria mais difundida sobre o Natal associa a data a esse período, em que alguns povos passavam a noite em vigília com tochas acesas para garantir que o sol nascesse e imperasse sobre a escuridão", esclarece a historiadora.
Hagadá em comemoração ao Pessach, comemorado no Nisan, o primeiro mês do calendário judaico
Cavaleiro Pazyryk (povo nômade que viveu na Rússia siberiana) durante o Sacae, 300 a.C.
A Grécia antiga também incorporou os rituais estabelecidos pelos mesopotâmios ao celebrar a luta de Zeus contra o titã Cronos. O costume alcançou os romanos, que passaram a realizar a Saturnalia (em homenagem a Saturno). A festa iniciava em meados de Dezembro e decorria até o início de Janeiro. Mas outros cultos existiam também, como é o caso do deus Apolo, considerado como "Sol invicto" (Sol Invictus), ou ainda de Mitra, adorado como Deus-Sol. Este último, muito popular entre o exército romano, era celebrado nos dias 24 e 25 de Dezembro, data que, segundo a lenda, correspondia ao nascimento da divindade.
Jany Canela, mestre em educação e graduada em História pela Universidade de São Paulo, comenta que "os povos antigos sempre realizaram festas de celebração em deferência aos marcos de transição da natureza, como as estações ou períodos representativos de mudanças importantes, entre eles o solstício (em Dezembro) e o equinócio (em Março)."
O imperador Aureliano e sua coroa, moeda de bronze prateado, por volta de 274
Em 273, o Imperador Aureliano estabeleceu o dia do nascimento do Sol em 25 de Dezembro: Natalis Solis Invicti (do latim, "nascimento do Sol invencível"). Neste dia não havia trabalho nem aulas. Eram realizadas festas nas ruas e grandes jantares com amigos. As árvores eram ornamentadas com galhos de loureiros e iluminadas por muitas velas para espantar os maus espíritos da escuridão.
Somente durante o século 4, com a conversão do imperador Constantino ao catolicismo, que o nascimento de Cristo começa a ser celebrado pelos cristãos (até aí a sua principal festa era a Páscoa, mas no dia 6 de Janeiro, com a Epifania). A alteração das datas comemorativas foi realizada pelo Papa Gregório XIII (responsável pelo calendário gregoriano vigente).
Na entrevista de Joseph Campbell ao jornalista Bill Moyers, que foi transcrita e publicada em O Poder do Mito (Palas Athena, 1990), o antropólogo esclarece: "A característica dos povos imperialistas é ver o seu deus local promovido a senhor de todo o universo. As demais divindades deixam de contar. E o meio de conseguir isso é aniquilar o deus ou deusa que estava aí antes. (...) Toda mitologia cresceu numa certa sociedade, num campo delimitado. Então, quando as mitologias se tornam muitas, entram em colisão e em relação, e se amalgamam, e assim surge uma outra mitologia, mais complexa." Segundo Campbell, para nos adaptarmos à realidade, nós contaríamos histórias. Seria assim que entraríamos em contato com o mundo que nos cerca; buscaríamos nos mitos o que nos une, transformando-os no elo que ligaria aquilo que temos em comum.
Fonte: Obvious.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço sua participação que é muito importante para mim.