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Praia do Rosa tem um ar rústico-chique que encanta os turistas
Da sacada da Quinta do Bucanero, uma pousada no centro da Praia do Rosa, a atração da litorânea cidade brasileira é óbvia. Empoleirado no topo de um penhasco, o hotel de dez quartos é cercado pela selva tropical e montanhas cobertas de florestas, com vista para um amplo trecho de areia dourada e duas lagoas. Surfistas pontilham as ondas e orquídeas perfumam o ar.
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Foi esta beleza natural que atraiu Jacqueline Biazus, proprietária da Bucanero ao lado do marido, há quase quatro décadas, quando era uma hippie de 18 anos - e a fez voltar 15 anos depois para construir a pousada. "Naquela época, não havia nada aqui", ela contou, sentada na mesa da sacada que dá para o cenário. "Não era como hoje."
Localizada no estado de Santa Catarina, a Praia do Rosa fica a cerca de uma hora de carro ao sul de Florianópolis, a famosa capital do Estado, conhecida pelas mais de 40 praias que se tornaram uma base do jet-set internacional.
Apesar do adorável cenário, a Praia do Rosa demorou a atrair viajantes e infraestrutura turística. Mesmo hoje, só conta com duas ruas pavimentadas; o resto é composto por caminhos de terra. Porém, a chegada de novos moradores que se estabeleceram aqui nos últimos anos para abrir pousadas, restaurantes e bares está transformando este local antes não desenvolvido num destino litorâneo chique que pode começar a atrair parte dos visitantes regulares de Florianópolis. Por ora, ela oferece uma beleza natural maravilhosa e uma combinação curiosa de sofisticação e atmosfera relaxada e pés no chão.
Durante o verão, a vida noturna costuma começar ao pôr do sol, quando grupos de surfistas e suas pranchas voltam da praia e casais começam a encher as mesas das boates elegantes, algumas das quais têm vista para o mar e as lagoas. À medida que cai a noite, uma multidão bem vestida, a maioria abaixo dos 40 anos, toma conta dos poucos bares que cercam a rua principal da cidade, pavimentada pela metade, bebendo caipirinha de manga e taças de vinhos argentinos recentes. O pano de fundo sonoro é composto por reggae ao vivo e djs internacionais rodando remixes pop.
Praia do Rosa significa literalmente "praia do Rosa". O nome não provém da cor de sua areia, mas de Dorvino Manoel da Rosa, um dos primeiros pescadores a ocupar uma casa perto da praia, na década de 1970. Então, não havia muita atividade por aqui; a principal estrada que leva à cidade, a BR 101, que liga Rosa a Florianópolis, ainda não existia, e o acesso era difícil. Rosa era apenas uma simples vila de pescadores.
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Lagoa Salgada fica atrás da pousada Quinta do Bucanero
Alguns anos depois, grupos de brasileiros com cerca de 20 anos descobriram a área. Muitos deles, inclusive Biazus, vieram de Porto Alegre, uma grande cidade litorânea a cerca de cinco horas e meia ao sul. "As praias lá embaixo eram feias, então subimos para encontrar outras mais belas e nos deparamos com Rosa", disse Biazus, cuja primeira visita foi em 1978. Por que Rosa? Segundo ela, simplesmente não existiam opções perto de casa com o mesmo isolamento e ondas perfeitas para surfar.
Como não havia hotéis, ela e os amigos alugavam casas dos pescadores que moravam na praia e passavam o dia curtindo as ondas. As noites eram passadas ao redor de fogueiras, tocando violão e ouvindo bossa nova. Eles não se abalavam com a falta de eletricidade que, segundo os locais, só foi chegar no começo da década de 1980.
Hoje em dia, aqueles mesmos hippies são a origem da nova onda de atividade na Praia do Rosa. Empreendedores formados como Biazus, que estudou direito, abriram restaurantes, hotéis, bares e butiques. Outras pessoas vieram atrás e, nos últimos anos, foram abertos mais de três dúzias de estabelecimentos comerciais. A julgar pelo número de construções, podemos esperar mais crescimento.
A população ainda é pequena - existem cerca de 20 mil pessoas morando em Ibiraquera, área que inclui a Praia do Rosa, comparadas aos 400 mil de Florianópolis - embora as coisas estejam começando a mudar.
Os hippies cantando ao redor de fogueiras na praia foram substituídos por mulheres de biquíni tomando sol e homens de calção de surfista, como Fernanda Pereira, 29 anos, e seu marido, Ricardo, de 30. O casal, que mora em Curitiba, começou a veranear aqui há alguns anos e disse que o número crescente de atrações, ao lado do belo cenário, os faz voltar. "Na Praia do Rosa existe um quê cosmopolita que não existia antes", declarou Fernanda, que trabalha com publicidade, "mas o local continua preservado".
Beleza Pura, por exemplo, é um dos bares que animam a cena noturna, que agora vai até as 3h ou 4h da madrugada durante a alta temporada (de dezembro a abril; durante o resto do ano, a maioria dos estabelecimentos só abre no fim de semana). Seu proprietário, Luciano Menu-Marque, 35 anos, veio de Buenos Aires há poucos anos para passar um fim de semana com os amigos surfistas e terminou ficando depois de ver que a cidade não oferecia atrações noturnas. Podendo abrigar 300 pessoas - existe espaço adicional num pátio externo -, o bar tem o teto pintado com temas cósmicos e está repleto com as peças que Menu-Marque juntou em viagens globais, como camisas autografadas de jogadores de futebol. O bar costuma ter bandas ao vivo e djs do mundo inteiro, se apresentando para um público lotado.
Outra atração são os restaurantes que oferecem os abundantes frutos do mar. O mais notável é o Lua Marinha, aberto em 2001, que serve pratos refinados e descomplicados usando apenas ingredientes locais. A partir de um deque de madeira voltado para uma lagoa, os fregueses podem ver os pescadores partindo para trazer as opções do jantar da próxima noite. Uma refeição recente começou com ceviche de polvo temperado com pimenta jalapeño finamente picada, acompanhado pelo prato principal, para dois, de camarões pequenos e excepcionalmente doces, cobertos por um molho grosso de ervas misturadas.
Para a maioria desses proprietários, abrir um negócio em Rosa tem menos a ver com ficar rico e mais com absorver a riqueza que os cerca. Menu-Marque disse que administrava bares em Ibiza e Buenos Aires, onde ganhava mais do que com o Beleza Pura. "Existem melhores lugares para fazer negócio do que em Rosa, então você não vem necessariamente aqui para ganhar dinheiro, mas não existe um lugar no mundo tão bonito quanto este."
Efetivamente, vistas impressionantes estão disponíveis por toda cidade. Trilhas pelos morros ao redor levam a praias acessíveis somente a pé e completamente desertas. Também é possível observar baleias saltando, algo mais comum entre julho e novembro. Durante as caminhadas, preste atenção na colorida flora, como bromélias vermelhas e amarelas, açucenas cor de rubi, orquídeas e jaqueiras carregadas com frutos do tamanho de bolas de futebol.
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Lagoa Salgada, localizada atrás da pousada Quinta do Bucanero
Como os viajantes repararam, está mais difícil conseguir quartos nas pousadas durante o pico da estação; a lotação também costuma ser grande nos outros meses. Biazus disse que a Bucanero está praticamente lotada com três meses de antecedência, começando em dezembro, e que agora também fica cheia durante a primavera, tipicamente mais devagar. A Morada da Praia do Rosa é uma pousada aberta há um ano cujos fins de semana estão lotados até mesmo fora da temporada, segundo seu dono, Demian Alaimo, outro que veio de Buenos Aires.
Porém, se os visitantes podem pensar em Rosa como o próximo destino imperdível da costa brasileira, os moradores de lá não querem saber de nada disso. "É claro que precisamos do apoio dos turistas, mas não queremos que todos descubram Rosa e ela ganhe a reputação de uma cidade festeira", sustentou Biazus. "Vir aqui se resume a curtir a beleza e a paz e, com muita gente, isso fica difícil."
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