O Museu de Arte Moderna de Nova York dedicou uma exposição exclusivamente à obra da brasileira Tarsila do Amaral.
A artista que inventou o Brasil moderno nas telas nem sempre pintou o próprio país. Em 1920, Tarsila do Amaral foi morar em Paris. Lá, criou telas sombrias, com linhas cubistas, inspiradas no movimento artístico que dominava a Europa naquela época.
E conviveu com artistas como o pintor catalão Pablo Picasso e o escultor romeno Constantin Brancusi. Na bagagem, levou um pouco de Brasil. Mas esbarrou na resistência dos professores franceses para criar um estilo próprio.
“Ela costumava servir feijoada, caipirinha, cigarro de palha. Ela já queria ser a pintora do nosso país e já levar mostrar as cores brasileiras, as cores caipiras que os professores falavam para ela que eram cores que ela não devia usar, todas juntas”, contou Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista.
Tarsila ignorou os conselhos.
Voltou a São Paulo e, junto com a pintora Anita Malfatti e os escritores Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade organizou a Semana de Arte de Moderna de 1922, um movimento que revolucionou a nossa arte.
Os primeiros sinais de que encontrava as cores que tanto buscava surgiram no ano seguinte, na tela “A negra”. Tarsila pintou a figura da mulher assimétrica depois de uma viagem ao interior de São Paulo, onde nasceu.
Entre as obras expostas no Museu de Arte Moderna de Nova York está o “Abaporu”, o quadro mais famoso de Tarsila do Amaral.
O quadro acabou virando símbolo do “Manifesto antropofágico”, um movimento criado pelos modernistas que absorvia influências europeias para criar uma arte genuinamente brasileira.
“O ‘Abaporu’ ele condensa toda a tradição de todos os grandes artistas ocidentais, mas é também a figura da modernidade, é também o canibal, um monstro, é uma figura assexual, é mulher, é realmente uma figura universal”, diz o curador da exposição Luiz Péres-Oramas.
Universal e de digestão prolongada. Nos anos 1960, a obra de Tarsila influenciou outro movimento, desta vez, na música. A Tropicália de Caetano, Gil e Gal.
“A Tarsila se antecipou a isso. Se antecipou na invenção de uma pintura que encarna a brasilidade como provavelmente nenhuma outra antes dela. Não tem discussão. Estamos aqui para celebrar que ela é definitivamente é uma das grandes pintoras modernas”, afirma Luiz Péres-Oramas
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