O particípio do verbo ‘intervir’, por exemplo, aparece ora como ‘intervindo’, ora ‘intervido’. Este verbo é um composto de ‘vir’ e como diz a regra: os verbos compostos seguem a flexão daquele que lhe deu origem, ou seja, se o particípio passado de ‘vir’ é ‘vindo’ (Ele tem vindo visitar-me.), então o particípio de ‘intervir’ seria ‘intervindo’ (Ele tem intervindo frequentemente no debate.).
Mas nenhuma regra seria uma verdadeira regra se não tivesse a sua exceção. Neste caso não se trata de uma exceção; trata-se antes de uma situação a que se poderia adaptar a máxima “cada gramático sua sentença”. O meu livro de cabeceira, no que respeita à flexão verbal, é o Dicionário de Verbos Conjugados de Rodrigo de Sá Nogueira (7.ª ed., 1982). Na p. 272 encontra-se a flexão do verbo ‘provir’, com a forma ‘provido’ na quadrícula correspondente ao particípio pretérito (particípio passado). Informando o autor em nota que desse modo se conjugam, por exemplo, verbos como convir, entrevir, intervir, sobrevir.
Ensinou-me, nas aulas de Técnicas de Expressão do Português, o saudoso Professor Almeida Pavão, com a sua enorme sabedoria de Grego e Latim, que Rodrigo de Sá Nogueira tinha razão, assentando a sua razão no princípio de eufonia (suavidade ou elegância na pronúncia). Experimentem ler em voz alta: Ele tem intervindo frequentemente no debate. e Ele tem intervido frequentemente no debate.; Ele terá intervindo na sexta-feira passada. E Ele terá intervido na sexta-feira passada. Ora digam lá! Não deverá ser, neste domínio, a minha obra de referência o Dicionário de Verbos Conjugados de Rodrigo de Sá Nogueira?"
Publicado no Correio dos Açores
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