segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

GRATIDÃO - ANA CLÁUDIA SALDANHA JÁCOMO

GRATIDÃO

Quando lembro o quanto algumas pessoas me ajudam com o seu olhar amoroso, ao longo da estrada, sinto um ventinho bom percorrer meu coração e arrepiar a vida toda de contentamento. Um ventinho quente, parecido com o que toca a minha pele quando caminho na beira da praia nas manhãs azuis que ainda se espreguiçam. A pele é o lado de fora do sentimento.

Quando lembro de cada nova muda de afeto que recebo e vejo florescer devagarinho no meu jardim, a lembrança afasta as nuvens momentâneas e deixa o céu à mostra. Faz um sorriso sereno acontecer em mim. Acende uma música que a gente só consegue ouvir quando a palavra descansa.

Quando lembro que crescer é, no íntimo, um exercício solitário, mas que não estamos sozinhos na sala de aula, saboreio o conforto dessa recordação. Somos mestres e aprendizes uns dos outros, o tempo todo. Estudamos, lado a lado, inúmeras lições, mas também criamos espaço para celebrar os mágicos momentos de recreio. Às vezes, com alguma leveza, até descobrimos juntos um segredo libertador: o aprendizado e o recreio não precisam acontecer separados.

Quando lembro o quanto as nossas vidas se entrelaçam amorosamente com outras vidas nessa tapeçaria de fios sutis dos encontros humanos, a gratidão emerge e se espalha, em ondas de ternura, por toda a orla do peito. Diante de tantas incertezas, essa verdade perene: o amor compartilhado é o sábio curador.

Quando lembro, eu agradeço. E respiro macio.


© ANA CLÁUDIA SALDANHA JÁCOMO
In Cheiro de flor quando ri 1
(publicado em 1 de Novembro de 2008)

NOTA:
1. Cheiro de flor quando ri: blog da autora que foi desativado em Agosto de 2012.

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