domingo, 19 de novembro de 2017

Mulheres empreendedoras!

Mulher, negra, africana e ativista dos direitos humanos. Em um país que permite que meninas se casem a partir dos 12 anos de idade, Theresa Kachindamoto persiste na luta contra tradições culturais arcaicas e violentas. Em três anos ela já anulou 850 casamentos forçados e mandou de volta à escola as meninas coagidas.
Mulher, negra e pianista clássica: em uma época em que os direitos civis não eram igualitários, uma mulher lutou pela igualdade de direitos da mulher e dos negros e colocou sua voz a serviço da causa – literalmente.




                           
                     A empreendedora social Buh D'Angelo, da Infopreta. 


"Desde criança eu gosto de desmontar e montar coisas", diz. Mas foi em 2013 que ela começou a direcionar essas habilidades para o empreendedorismo social. Naquele ano, fundou o Infopreta, um projeto que conserta computadores de mulheres em situação de vulnerabilidade social por preços acessíveis (às vezes até de graça). Também criou a campanha Note Solidário da Preta, que conserta computadores doados por clientes para repassá-los a outras mulheres, estudantes, negras e de baixo poder aquisitivo, com boas notas no boletim.

"Resolvi criar o projeto porque eu sempre tive muitas dificuldades em conseguir os materiais que eu precisava para estudar tecnologia. A mulher negra, seja ela cisgênero ou transsexual, nunca está realmente inserida na sociedade. O meu objetivo, então, é o de dar condições para que essa mulher, que vive em vulnerabilidade, consiga estudar e se formar", explica Buh. "Quem tem um computador hoje pode acessar Internet e, assim, ter acesso a livros e conteúdos variados para estudar", complementa. Em pleno século XXI, dados Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo IBGE, mostram que menos da metade (48%) dos domicílios brasileiros têm computadores - e 86% desses dispositivos têm acesso à internet. A maior inclusão digital no Brasil está no celular, presente em 91% dos domicílios do país.

Por ter focado o seu público-alvo na mulher negra, a empreendedora afirma que tem recebido muitas mensagens machistas e racistas pela página da empresa no Facebook. "Muitas pessoas acham que o meu trabalho é de exclusão. Não entendem que é justamente o contrário", complementa. Faz apenas um mês que trabalha em um escritório, que divide com outros três empreendedores no centro de São Paulo. Antes, ela consertava computadores na casa das clientes, na região da grande São Paulo. O valor que cobra depende da capacidade de pagamento de quem lhe procura. Mas, muitas vezes, não chega nem a cobrar pelo serviço.

Esse foi o caso de uma de suas clientes, a também empreendedora Ana Carolina Santos. A jovem, de 22 anos, é estudante de Letras e foi ao escritório do Infopreta para tentar consertar o seu notebook, alvo de um problema grave de infiltração na casa onde morava, na Jova Rural, Zona Norte de São Paulo. Por causa da infiltração ela perdeu também outros eletrodomésticos e a maior parte de seus móveis.

O notebook, porém, não teve jeito, estava mofado por dentro. "A Buh me doou um notebook novo, para que eu pudesse fazer meus trabalhos da faculdade. Eu também dependo do computador para trabalhar, já que minha loja só existe pela internet", explica Ana Carolina, dona da Caió Cosmésticos Naturais, linha de produtos de beleza que ela mesma desenvolve em casa. Mas, para receber a doação pelo Note Solidário, ela teve de passar por uma entrevista e apresentar comprovantes de matrícula, além dos boletins. "Precisa se empenhar, ser boa aluna, para ser beneficiada", destaca Buh.

Preconceito

Foi por conta de amigos nas redes sociais que Ana Carolina descobriu o Infopreta. "Antes, eu havia tentado consertar meu computador numa outra loja, mas o cara que me atendeu me considerou uma mulher que não entende nada de tecnologia e tentou me enrolar. Já a Buh fez questão de me explicar todo o problema, foi super atenciosa", diz.
Ana Carolina, estudante de Letras e dona da Caió Cosméticos.


Encontrar uma mulher no segmento de tecnologia realmente não é comum. Segundo pesquisa da empresa de recrutamento e seleção Harvey Nash, menos de um terço dos funcionários de tecnologia das empresas são mulheres - e apenas 7% delas chegam a cargos de liderança.

"A área é dominada por homens, então não é tão fácil ser mulher e se dar bem. Imagine como é para uma mulher negra. No último estágio que fiz, em uma empresa de manutenção de computadores, eu limpava até banheiro. Só não consertava computadores", lembra Buh. Abrir a própria empresa, portanto, foi a saída que encontrou para exercer a profissão que ama.

E dificilmente será possível impedir a jovem de trabalhar com os seus projetos. A empreendedora, que não para de consertar notebooks nem para conceder entrevista, está se recuperando de uma mastectomia que fez no final de julho, por conta de um câncer de mama. Nem assim ela deu um tempo à rotina da faculdade e de trabalho, mantendo o atendimento a mais de 15 mulheres por dia, durante cinco dias por semana.

Para conseguir atender a crescente demanda, contudo, está treinando uma estagiária, jovem que conheceu durante um curso de manutenção de computadores que ministrou, gratuitamente. Ela também conta com a ajuda de uma sócia. "A gente não passa fome, mas também não ostenta", brinca. Buh não sabe de cor quantas mulheres já foram beneficiadas pelo Note Solidário.
 O próximo passo é conseguir montar um centro de informática no Grajaú, projeto que está desenvolvendo em parceria com outros empreendedores, ainda sem data para sair do papel. "O Infopreta trabalha sempre em colaboração. A ideia é formar uma rede de apoio a mulheres em situação de vulnerabilidade", conta.
Ana Carolina e Buh D'Angelo, na oficina da Infopreta. 

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