27/10/2017| POR GIOVANNA MARADEI
Viver viajando. Rodar o mundo e trabalhar diante de cenários que a maior parte das pessoas veem apenas por alguns segundos durante as férias. Não é de hoje que muitos jovens sonham, e por vezes alcançam, o estilo de vida nômade. Sem uma casa, uma cidade e nem mesmo um país fixo, eles se alinham com padrões mais atuais de lifestyle – conectando-se com tendências como a busca por uma relação mais próxima com a natureza, ou com a cidade que nos cerca, além da valorização das experiências.
Mas se por um lado a fluidez da vida parece ter sido muito bem compreendida pelos nômades, a construção de uma casa e a criação de raízes aparece como um desafio ainda sem resposta certa.
Qual conceito de lar para quem tem a vida inteira na mochila? Para quem prefere colecionar experiências do que porta-retratos? Para quem vive longe da família e não leva mais de 6 meses com o mesmo endereço? Foi essa a pergunta que fizemos para jovens que vivem hoje com o pé na estrada. A resposta? Talvez seja mais abstrata do que estamos acostumados – mas nem por isso menos bonita!
Marina Abadjieff e Pedro Beck
“Hoje, lar para nós é um lugar que nos dê qualidade de vida e autonomia para sermos o que quisermos”
Em 2014, durante uma road trip nos Estados Unidos, Marina e Pedro tiveram certeza: precisavam viver com o pé na estrada. Foi necessário um ano de planejamento, até que em 2015 os dois voltaram a viajar, certos que este era o estilo de vida que melhor combinava com as ambições do casal. Hoje o nomadismo se tornou um negócio, e os criadores da agência We are alive seguem em seu motorhome combinando os destinos dos seus sonhos com diferentes entregas comerciais.
“Temos sempre uma meta de ir do ponto A para o B, mas o meio do caminho é a melhor parte”, conta o casal que, junto com seus dois cachorros, já passou por diversas cidades dos Estados Unidos e do Canadá - e agora chegou ao México, aonde inicia uma longa viagem pelas Américas. “As muitas aventuras que vivemos serão pano de fundo para muitas histórias quando chegarmos no nosso destino final”, explica Pedro e Marina, que mesmo com paisagens de tirar o fôlego passando pela janela, não planejam viajar para sempre.
Onde está agora? México
Qual a parte mais difícil de adotar este estilo de vida? "Aprender a ser mais sozinho é difícil. Você fica com saudade da família, muitos amigos se afastam, e você perde o contato diário com pessoas do seu país"
Truque para se sentir em casa? "Casa para nós é nossos motorhome. Viajamos o mundo e dormimos todas as noites na mesma cama. O único truque, se é que podemos chamar de truque, é sempre ir decorando seu cantinho com sua cara".
Debbie Corrano
“Qualquer lugar que eu esteja com meus cães vira nosso lar em um piscar de olhos”
Para Debbie, três anos e meio após começar a viver e trabalhar viajando, casa é o lugar que ela está vivendo – seja por uma semana ou por três meses. A publicitária e ilustradora sempre sonhou em conhecer o mundo, mas só começou a planejar após uma viagem pelos Estados Unidos, quando topou um trabalho como freelancer e percebeu que era possível juntar as férias com sua rotina diária. “Não é como um sabático ou um mochilão. Eu posso fazer isso para sempre se eu quiser, essa foi a parte mais interessante para mim”, explicou.
Dona de dois cachorros, Debbie já esteve em Paris, Lisboa, Berlim, Zagreb, Sofia e Chian Mai (na Tailândia), entre muitos outros destinos escolhidos através de uma soma que incluí desde um sonho de infância até pré-requisitos práticos como o clima, a quantidade de trabalho e, claro, a distância – para que não seja muito desconfortável para os dois vira-latas que a acompanham.
“Fora de casa eu posso experienciar a cultura mais exótica que já vivi na vida, comer comidas diferentes, viver coisas completamente únicas. Dentro de casa eu tenho a minha rotina, minha alimentação e meus hábitos ao lado dos meus cães. Isso me ajuda a levar o conceito de "lar" junto comigo sempre”, resume a publicitária.
Onde está agora? Milão
Qual a parte mais difícil de adotar este estilo de vida? "Desapegar de quase tudo o tempo todo. Desapegar dos hábitos que eu tinha, de ver os amigos todo fim de semana, de estar perto da minha família, desapegar das casas que eu moro, dos amigos que eu faço, dos hábitos que cada cidade me traz. É um exercício constante de desapego em cada um dos lugares que eu passo"
Truque para se sentir em casa? "Ao longo dos anos eu entendi o que faz eu me sentir em casa mais rápido: ter uma rotina. Eu tenho uma rotina da manhã super regrada que me ajuda a manter o foco no trabalho e na vida em qualquer lugar. Quanto mais rápido eu volto a essa rotina em uma cidade nova, mais rápido me sinto em casa."
Felipe Pacheco
“Lar para mim vai um passo adiante de casa, envolve se sentir parte, criar raízes – no meu caso, São Paulo e Berlim, dois lugares com muitas pessoas que amo e que também me amam”
Desde o começo da faculdade, quando perguntavam: “onde você se vê daqui cinco anos”, Felipe Pacheco respondia: “trabalhando de qualquer lugar do mundo”. E foi exatamente o que ele fez. Há quatro anos o publicitário viaja pelo mundo enquanto trabalha como freelancer pelo seu computador. “Comecei a trabalhar de casa e, como morava em Santana e a maior parte dos meus clientes ficava na região da Berrini, passava horas no trânsito. Decidi que não faria mais nada presencial. Todas as interações com clientes seriam pela internet. Aí, um dia, me toquei: bom, trabalhar de Santana ou de Berlim é a mesma coisa, não é”? - provoca Felipe, que parece ser prova viva desta teoria.
Hoje ele passa cerca de dois meses em cada cidade e, só este ano, já morou em Singapura, Bangkok, Berlim e Roma. Destinos escolhidos por uma combinação de fatores que vão desde o clima até o preço e a quantidade de trabalho. “Quando sei que vou ter meses em que vou ter que focar muito em trabalho e vou ter que ficar mais em casa, mudo para uma cidade mais barata (mesmo que menos interessante) ”, explica o jovem que já chegou até a chamar um quarto de hotel de casa. “’Estou indo pra casa agora’ só significa que estou indo para o lugar onde me sinto confortável. Não importa a cidade, não importa que tipo de lugar é”.
Onde está agora? Roma
Qual a parte mais difícil de adotar este estilo de vida? "Mudar o tempo todo é incrível. Te mantém criativo, te faz ver o mundo de várias formas diferentes e tal. Mas também significa que vai ser difícil criar raízes, fazer amigos de verdade, se sentir parte da comunidade, ter essa sensação de conforto. Quando você começa a aprender, quando está quase lá, já é hora de mudar."
Truque para se sentir em casa? "Criar uma rotina é ótimo para isso. Não importa onde estou, se sigo essa rotina consigo me acostumar rápido com o lugar e já me sentir em casa."
Luisa Cella
“Meu conceito de lar é um espaço tranquilo, confortável e cercado pela natureza”
Estão todos no Brasil, menos a Luisa, que neste caso, foi com o namorado, Renato Canuto, para a Austrália. Há um ano e meio fora do país ela calcula já ter morado em ao menos 6 endereços diferentes. Durante 3 meses, acampou em cidadezinhas do Outback Queensland, enquanto trabalha com o weed control (controle de plantas consideradas pragas). Em seguida eles passaram outros 2 meses circulando pelo país em sua “camper van” uma espécie de trailer, mas do tamanho de uma van.
“Sempre existiu em mim a sensação de que eu não queria morar no caos de São Paulo, mas não pensava em viver viajando. Acho que a Austrália, por ser segura e ter essa cultura do camping, fez com que o meu apego à casa física diminuísse”, explica a jovem que acaba de definir como seu novo lar a Sunshine Coast, aonde mora há 3 semanas. “Apesar de viver na estrada por bastante tempo, estou amando muito montar nossa casa nova do jeitinho que a gente quer – e podendo caminhar para o mar”.
Onde está agora? Austrália
Qual a parte mais difícil de adotar este estilo de vida? "A saudade dos amigos"
Truque para se sentir em casa? "Limpeza!!!! Eu não consigo viver em ambiente sujo. Assim que eu chego já limpo absolutamente tudo. Pia, chão, geladeira, parede, banheiro, só depois disso que eu sossego"
Fonte: Casa Vogue
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